Comentário à missa deste fim de semana, Dia de Todos os Santos e Dia dos Fiéis Defuntos, 1 e 2 de novembro de 2014
Entramos no mês das almas, novembro. E logo nos primeiros dias, os dias do pão por Deus, somos convidados a meditar um pouco sobre essa fronteira de luz e de sombras. A santidade e a morte.
A morte gera muita hipocrisia, muita dor/sofrimento,
muita vaidade e até muita fantasia. Porém, é um caminho destinado a todos,
ninguém, felizmente, está livre desta caminhada. O maior tesouro da vida é
este.
Nós cristãos ao olharmos os santos encontramos um
manancial de liberdade perante a morte. Os verdadeiros santos souberam acolher
a morte como uma graça e como um dom. São Paulo foi tão elucidativo sobre o seu
desejo profundo de se libertar deste mundo para entrar na comunhão plena com
Deus, quando já sentia a sua vida plenamente fundida em Cristo: «já não sou eu
que vivo, é Cristo que vive em mim».
Deste modo, a morte é o horizonte mais certo que a
vida contém no que diz respeito à libertação da miséria toda desta vida. Por
isso, ninguém devia fazer da vida deste mundo uma preparação para a morte,
porque a morte deve ser encarada como mais um momento da existência entre os
infindos momentos que a vida deste mundo contém.
A morada eterna não está no cemitério, porque este
lugar é o depósito dos restos mortais (não é assim que dizemos em relação aos
defuntos?), por isso, o verdadeiro culto em relação à multidão dos santos de
Deus não se deve fazer aí nos depósitos dos restos mortais, mas antes e
provavelmente na memória que cada pessoa guarda no seu interior, o verdadeiro
lugar de Deus.
No belo livro de poesia de Pedro Tamen podemos ler:
«Ela não existe – nós existimos nela. / E faço este discurso envergonhado /
(mas algo hei-de dizer enquanto sinto / que não é o meu fim que ali se encontra
/ mas o princípio) como quem senta / o rabo na borda da cadeira e escorregando
/ se afunda lentamente pelo chão: a viagem / é essa, esse é o rio – ou ela».
Mas também José Gomes Ferreira soube definir muito bem a fórmula que nos
permite olhar a morte com o seu verdadeiro sentido: «os pássaros quando morrem
caem no céu». Como aprenderam facilmente os santos a pensar assim sobre a
morte.
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