Comentário à missa deste domingo
Domingo
XXXIV tempo comum, Domingo
de Cristo Rei do Universo
A
solenidade de Cristo Rei coincide com o último Domingo do Tempo Comum ou com o
último Domingo do Ano Litúrgico da Igreja. O Ano da Liturgia da Igreja não
coincide com a organização temporal do Ano Civil. O início do ano, para a
liturgia da Igreja não começa no primeiro de Janeiro, mas no primeiro Domingo
do Advento, tempo de quatro Domingos que antecedem o Natal, como preparação
efectiva desse grande acontecimento que é o Nascimento do Salvador.
O
reinado ao avesso que Cristo assume encerra toda a vontade de Deus em querer
salvar toda a humanidade. Este Reino é a herança de Deus dada aos homens desde
que a fraternidade seja assumida com amor, sobretudo, em relação aos mais
fracos da sociedade.
A
realeza de Cristo, é totalmente diferente daquela que é assumida e exercida
pelos reis deste mundo. Como podemos reparar Cristo não é em nenhum momento um
rei todo poderoso, rodeado de exércitos ávidos de combate e de poder. Pelo
contrário, dirá com veemência: «o Meu Reino não é deste mundo». Antes, é o Rei
dos famintos, dos que têm sede de justiça, dos peregrinos, dos sem roupa, dos
doentes e dos presos.
Como
vemos Cristo Rei? – A nossa vida deverá estar em sintonia com esta realeza
diferente que Cristo nos revela. Por isso, reparemos em que podemos realmente
perceber e viver essa dimensão fundamental da fé cristã. Ele é Rei. Mas um rei
que não se coaduna com as injustiças sociais, pessoais e institucionais. E a
sua morte na Cruz é o resultado da sua acção contra tudo o que não promove a
dignidade da vida e do amor entre os homens. É o preço a pagar pela sua radical
preferência pelos desafortunados deste mundo.
Jesus
é Rei de um Reino outro, onde o entendimento entre todos emerge como o
resultado da fraternidade e da partilha. O Reino de Jesus não está de acordo
com a mentalidade da cultura onde predomina o mais forte sobre o mais fraco.
Neste Reino, não podem existir pacificamente os lugares da morte e do
sofrimento nem podem ser tolerados os caminhos da pobreza e da miséria. Se
ainda existem, então, será necessário fazer surgir outros valores e outros
caminhos que proporcionem o bem estar igual para todas as pessoas.
O Papa Francisco, tem procurado iluminar o nosso coração e o
nosso pensamento com a nova linguagem do amor e da misericórdia, de tal forma
que daqui criou um verbo «Misericordiar»: «A misericórdia de Deus nos salva.
Não nos cansemos jamais de anunciar no mundo inteiro esta mensagem de alegria»,
tuitou o Papa Francisco no dia 17 de agosto de 2014. A partir daqui faz todo o sentido a oração de S. Gregório de Nazianzo: «Enquanto nos é dado fazê-lo, visitemos Cristo,
cuidemos de Cristo, alimentemos Cristo, vistamos Cristo, hospedemos Cristo,
honremos Cristo. E não só com a nossa mesa, como alguns fizeram, nem só com os
unguentos, como Maria Madalena, nem somente com o sepulcro, como José de
Arimateia, nem só com as coisas que servem para a sepultura, como Nicodemos que
amava Cristo só a meias, e nem só, finalmente, com o ouro, o incenso e a mirra,
como já tinham feito, antes destes, os Magos. Mas, pois que o Senhor de todos
quer a misericórdia e não o sacrifício, e uma vez que a misericórdia vale mais
do que milhares de gordos cordeiros, ofereçamos-lhe precisamente esta nos
pobres e naqueles que são abatidos até ao chão» (S. Gregório de Nazianzo,
Discurso 14, 40).
A
interpelação de Jesus insiste que a verdadeira realeza reside no paradoxo da
grandeza do amor de Deus em nós que se partilha com os irmãos, sobretudo com os
pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta, o egoísmo, o fechamento
em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino
de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à
margem do Reino.
2 comentários:
Boa noite Amigo!
Li a sua mensagem que interpela.Aliás o meu Amigo interpela no que escreve.Permita também que o interpele:Quem, mais que a alta hierarquia da IC,pugnou e pugna por um Cristo rei, todo o poderoso,ameaçador, implacável, impiedoso, e imita nos limites esse Cristo?Quem dessa hierarquia se despojou ou despoja das benesses, das honras, do bem estar, dos compromissos tantas vezes ignóbeis para viver a pobreza com os pobres, ajudando-os a elevarem-se contra a humilhação, a exploração, a discriminação mas a seu lado e não lá de cima?Como podemos fazer estas interrogações e aceitar respostas ambíguas, desculpas esfarrapadas do tipo: "a Igreja é feita de homens...blá,blá,blá..."
Fique bem Amigo!
JM
Caro amigo Machado... Não vou defender nada nem recorrer às justificações comuns que tão bem alude no seu comentário e mais, não sou advogado de defesa de nada nem de ninguém. Apenas digo isto, sofro e inquieta-me que muitas vezes no passado e no presente da Igreja Católica o catolicismo de Constantino apague o Cristianismo. Conversão, precisa-se dentro e fora das igrejas. Um abraço fraterno e amigo.
Enviar um comentário