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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O paradoxo da realeza de Jesus

Comentário à missa deste domingo
Domingo XXXIV tempo comum, Domingo de Cristo Rei do Universo
A solenidade de Cristo Rei coincide com o último Domingo do Tempo Comum ou com o último Domingo do Ano Litúrgico da Igreja. O Ano da Liturgia da Igreja não coincide com a organização temporal do Ano Civil. O início do ano, para a liturgia da Igreja não começa no primeiro de Janeiro, mas no primeiro Domingo do Advento, tempo de quatro Domingos que antecedem o Natal, como preparação efectiva desse grande acontecimento que é o Nascimento do Salvador.
O reinado ao avesso que Cristo assume encerra toda a vontade de Deus em querer salvar toda a humanidade. Este Reino é a herança de Deus dada aos homens desde que a fraternidade seja assumida com amor, sobretudo, em relação aos mais fracos da sociedade.
A realeza de Cristo, é totalmente diferente daquela que é assumida e exercida pelos reis deste mundo. Como podemos reparar Cristo não é em nenhum momento um rei todo poderoso, rodeado de exércitos ávidos de combate e de poder. Pelo contrário, dirá com veemência: «o Meu Reino não é deste mundo». Antes, é o Rei dos famintos, dos que têm sede de justiça, dos peregrinos, dos sem roupa, dos doentes e dos presos.
Como vemos Cristo Rei? – A nossa vida deverá estar em sintonia com esta realeza diferente que Cristo nos revela. Por isso, reparemos em que podemos realmente perceber e viver essa dimensão fundamental da fé cristã. Ele é Rei. Mas um rei que não se coaduna com as injustiças sociais, pessoais e institucionais. E a sua morte na Cruz é o resultado da sua acção contra tudo o que não promove a dignidade da vida e do amor entre os homens. É o preço a pagar pela sua radical preferência pelos desafortunados deste mundo.
Jesus é Rei de um Reino outro, onde o entendimento entre todos emerge como o resultado da fraternidade e da partilha. O Reino de Jesus não está de acordo com a mentalidade da cultura onde predomina o mais forte sobre o mais fraco. Neste Reino, não podem existir pacificamente os lugares da morte e do sofrimento nem podem ser tolerados os caminhos da pobreza e da miséria. Se ainda existem, então, será necessário fazer surgir outros valores e outros caminhos que proporcionem o bem estar igual para todas as pessoas.
O Papa Francisco, tem procurado iluminar o nosso coração e o nosso pensamento com a nova linguagem do amor e da misericórdia, de tal forma que daqui criou um verbo «Misericordiar»: «A misericórdia de Deus nos salva. Não nos cansemos jamais de anunciar no mundo inteiro esta mensagem de alegria», tuitou o Papa Francisco no dia 17 de agosto de 2014. A partir daqui faz todo o sentido a oração de S. Gregório de Nazianzo: «Enquanto nos é dado fazê-lo, visitemos Cristo, cuidemos de Cristo, alimentemos Cristo, vistamos Cristo, hospedemos Cristo, honremos Cristo. E não só com a nossa mesa, como alguns fizeram, nem só com os unguentos, como Maria Madalena, nem somente com o sepulcro, como José de Arimateia, nem só com as coisas que servem para a sepultura, como Nicodemos que amava Cristo só a meias, e nem só, finalmente, com o ouro, o incenso e a mirra, como já tinham feito, antes destes, os Magos. Mas, pois que o Senhor de todos quer a misericórdia e não o sacrifício, e uma vez que a misericórdia vale mais do que milhares de gordos cordeiros, ofereçamos-lhe precisamente esta nos pobres e naqueles que são abatidos até ao chão» (S. Gregório de Nazianzo, Discurso 14, 40).
A interpelação de Jesus insiste que a verdadeira realeza reside no paradoxo da grandeza do amor de Deus em nós que se partilha com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta, o egoísmo, o fechamento em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à margem do Reino.

2 comentários:

José Machado disse...

Boa noite Amigo!
Li a sua mensagem que interpela.Aliás o meu Amigo interpela no que escreve.Permita também que o interpele:Quem, mais que a alta hierarquia da IC,pugnou e pugna por um Cristo rei, todo o poderoso,ameaçador, implacável, impiedoso, e imita nos limites esse Cristo?Quem dessa hierarquia se despojou ou despoja das benesses, das honras, do bem estar, dos compromissos tantas vezes ignóbeis para viver a pobreza com os pobres, ajudando-os a elevarem-se contra a humilhação, a exploração, a discriminação mas a seu lado e não lá de cima?Como podemos fazer estas interrogações e aceitar respostas ambíguas, desculpas esfarrapadas do tipo: "a Igreja é feita de homens...blá,blá,blá..."
Fique bem Amigo!
JM

José Luís Rodrigues disse...

Caro amigo Machado... Não vou defender nada nem recorrer às justificações comuns que tão bem alude no seu comentário e mais, não sou advogado de defesa de nada nem de ninguém. Apenas digo isto, sofro e inquieta-me que muitas vezes no passado e no presente da Igreja Católica o catolicismo de Constantino apague o Cristianismo. Conversão, precisa-se dentro e fora das igrejas. Um abraço fraterno e amigo.