Comentário à missa do II domingo do Advento, 7 de dezembro de 2014
A
missa deste segundo domingo do Advento coloca-nos diante de um desafio
importante, a conversão. Isto é, é da vontade de Deus que nós nos encontremos
no bem e que procuremos purificar o coração de todas as coisas que se vão
instalando aí dentro e que depois perturbam a relação com os outros e a
verdadeira descoberta do sentido da vida cheio de felicidade. Pela parte de
Deus descobrimos a sua vontade em nos conceder um mundo novo onde impere a
liberdade, a justiça e a paz. Porém, este mundo só acontecerá quando a
humanidade entender que não há outra alternativa à felicidade senão esta que
Deus lembra pela força da Sua Palavra.
A
Primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo da época do exílio do povo de
Deus, que garante a fidelidade de Deus, que deseja conduzir o Seu povo pelo
caminho direito e livre de escolhos até à terra da liberdade e da paz. Ao povo
é pedido que se converta e que se purifique do comodismo, do egoísmo, dos
rancores, das vinganças e de todas as armas que conduzem à tristeza e à morte.
Na
segunda leitura, temos uma passagem da segunda carta de São pedro onde encontramos
uma perspectiva de fé que por vezes pode ser tentada pela dúvida, no homem que
vive na história sob o peso do mal, das contradições e da morte. Mas a certeza
é esta, não percamos a esperança, pois, um dia perante Deus, «é como mil anos e
mil anos como um dia».
A
ideia principal desta Carta narra isto, reflectindo a objecção dos que
suspeitam e são cépticos ou até «escarnecedores cheios de zombaria» que
perguntam: «Onde está a promessa da Sua vinda? Desde que os nossos pais
morreram, tudo continua da mesma maneira, como no princípio do mundo» (2 Pd 3,
3-4). Ora, a vida mergulhada no mal e na miséria, alimenta-se pelo sonho de uma
realidade nova que um dia vai surgir. Também se aprende com o poeta (Sebastião
da Gama): «pelo sonho é que vamos» e de outro poeta: «Eles não sabem, nem
sonham, / que o sonho comanda a vida, / que sempre que um homem sonha / o mundo
pula e avança / como bola colorida / entre as mãos de uma criança» (António
Gedeão, In Movimento Perpétuo, 1956).
Não
percamos a vontade de construir um mundo novo à nossa volta, não adiemos esse
ideal para depois da morte ou sempre para amanhã, mas que pautemos a vida no
empenho na transformação do mundo e na construção de «novos céus e a nova terra
onde habita a justiça» para que a missão de sermos gente se cumpra na
fidelidade ao bem que em nós começou pela força de Deus. Sejamos merecedores
dessa realidade.
No
Evangelho, descobrimos João Baptista a convidar todos os homens e mulheres de
todos os tempos a acolherem o Messias libertador. Este Messias será Aquele que
manifestará a vida nova de Deus e que por isso convidará a humanidade a viver
na dinâmica do amor fraterno para que ninguém fique para trás como tem reafirmado
até à saciedade o Papa Francisco. Também será este Messias que oferecerá a liberdade
verdadeira, porque nunca será uma liberdade fora do crivo da responsabilidade,
porque requer respeito por si mesmo, pela natureza e pelos outros.
Tudo
isto acontecerá, insiste João Baptista, em quem fizer um caminho essencial de
conversão, de mudança de vida «velha» que fez sofrer e da mentalidade tacanha
que conduz ao fechamento egoísta profundamente desumano que vai acompanhado a humanidade
por todo o lado. Que não nos falte a vontade de dar uma reviravolta ao que não
nos serve para que aconteça a construção da vida à nossa volta na base de valores
que edificam tudo o que é necessário à felicidade.
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