Comentário à missa deste domingo IV Tempo Comum, 1 fevereiro de 2015
São
Paulo nesta passagem da sua primeira carta aos Coríntios, convida os crentes a
repensarem as suas prioridades e a não deixarem que as realidades transitórias
sejam impeditivas de um verdadeiro compromisso com o serviço de Deus e dos
irmãos. A vida do dia-a-dia vai-nos empurrando em direcção aos nossos problemas,
questionando as nossas opções, fazendo-nos avançar ou recuar. E questiona
sobretudo a dimensão daquilo a que nós chamamos problemas.
Por
isso, reparemos… Novecentos e sessenta e três milhões de pessoas (963 000 000)
vivem situações de fome ou forte privação alimentar, em todo o mundo. E, tudo
indica, a tendência é que isto se agrave. São números da FAO. Apesar da
abundância de víveres no mundo, mais de 800 milhões de pessoas continuam a ir
dormir de estômago vazio; milhares de crianças morrem, a cada dia, devido a
consequências directas ou indirectas da fome, da subalimentação crónica. Apenas
e só porque a injustiça é muito grande. Acusam que apenas 1% da humanidade vai
deter ou já detém 99% da riqueza que há no mundo. Um escândalo que brada aos
céus. Por isso, enquanto as riquezas acumuladas no mundo permitem todo tipo de
esperanças, a pergunta mantém-se: é possível acabar com a fome?
Às
vezes, chegamos à conclusão que o nosso foco está descentrado, e verificamos o
quanto privilegiados somos.
Continua
a ser difícil arrancar de nós mesmos a carapaça dos pequeninos problemas que
muitas vezes criamos. Mas estes outros continuam a alastrar, e a aproximar-se,
cada vez mais, de nós todos. Face a estes problemas que afectam muitos milhões
de seres humanos, devemos deixar de nos consumirmos nos pequenos problemas que
levantamos aqui ou ali, como se nisso estivesse o centro do mundo e da vida. É
preciso aprendermos a relativizar e a levar a vida com algum sentido de humor. São
Paulo procura guiar-nos para o essencial e convoca para «o que é digno» para
todos nós e mais ainda apela que o essencial «pode unir ao Senhor sem desvios».
Os
grandes problemas do nosso mundo requerem uma união firme de toda a humanidade,
para que se acabe com este escândalo da fome e de todo o género de pobreza que
ainda consome grande parte da humanidade. E se antes pensávamos que estes problemas,
eram só dos outros e distantes, afinal, enganamo-nos, estão aí já nas famílias
cada vez mais próximas de nós. Por isso, estejamos atentos para sermos amigos e
solidários com quem mais necessita.
Ao
menos que se cumpra em nós esta mensagem O cristão não pode fazer a sua viagem
existencial de olhos fechados, indiferente aos outros irmãos. Tem de observar o
mundo humano por onde passa, onde reside, onde trabalha.
O
Cardeal Cardijn, ao receber um jovem operário que queria ingressar na Acção
Católica, entre outras coisas perguntou-lhe quantas janelas tinha a maior casa
da sua aldeia.
-
Não sei! - Respondeu o rapaz.
-
Então vai, conta-as e volta.
Queria
ensinar o jovem a observar o mundo para poder transformá-lo num mundo melhor.
Para
poder dar-se, tem de observar onde falta amor, onde falta justiça, onde falta
perdão, onde falta a paz. O
cristão é um instrumento de melhoria e salvação do mundo humano pela mensagem
salvífica de Cristo. Tem
de viver a vida de janelas abertas sem cortinas de cobardia, de medo, de
egoísmo, de indiferença.
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