Comentário à missa deste domingo do
Baptismo do Senhor, 11 janeiro de 2015
“Ao
subir da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito, como uma pomba, descer
sobre ele.” Mc 1, 10
Arrumamos
com cuidado o presépio, assinalamos na agenda as datas especiais e
aniversários, preparamos a mente e o coração para os dias de crise que todos prevêem.
Na Liturgia cristã, do Jesus Menino adorado pelos Magos saltamos com Ele para as águas do Jordão em
que é baptizado. Jesus, como quase todos nós, ainda mal entrados na vida, porque recebemos o baptismo em crianças, logo a ser
mergulhados na abundância de um amor imenso. E tantas vezes julgamos que isso
foi há tanto tempo. Que do baptismo apenas ficaram as fotografias, a vela e o
vestido.
E
contudo o nosso baptismo, longe de qualquer ideia de magia, é um dinamismo de
vida constante. Interpela a autenticidade do nosso viver, a grandeza dos nossos
sonhos, a coragem nas dificuldades. Creio mesmo que é a sua força que nos leva
a ressuscitar cada dia, como diz José Carlos Bermejo: “Cada vez que nos ‘pomos
em pé’, ressuscitamos. Cada vez que conseguimos que triunfe a vida e o amor
sobre qualquer forma de morte e limite humano, apostamos e experimentamos a
ressurreição”. Ai como hoje estamos rodeados de tantas coisas que precisam de ressurreição pela nossa ação e pela capacidade que temos para transformar ou fazer erguer o que está abatido.
Uma
das mais profundas experiências de ressuscitar é a do perdão. Jesus é indicado
por João Baptista como o Cordeiro que tira os pecados do mundo. Quer dizer,
Aquele que perdoa. O que dá a possibilidade de curar as feridas, de reconstruir
o que parecia condenado à morte, de manifestar a beleza, não de quem é
perfeito, mas de quem pode aprender com os erros. Claro que o perdão é um longo
caminho, e também passa pela morte, que o banho baptismal simboliza. A morte do
orgulho e do egoísmo, a morte da auto-suficiência e das aparências, a morte dos
limites postos ao amor e dos sonhos que não vão mais longe. E toda a morte dói
muito. Por isso devemos ansiar pela manhã radiante da luz que brilha.
Sim,
em pequenos e grandes gestos somos capazes de morte, mas Jesus também nos vem
confirmar que somos capazes de ressurreição. “Nascer de novo”, pela água e pelo
Espírito, como escuta, no meio da noite, Nicodemos, não é algo distante de cada
um de nós. Pois cada um deve assumir ser criança todas as manhãs da vida, como sinal que não descura a vontade e capacidade de se renovar, seja baptizado ou não.
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