Comentário à missa deste domingo VI tempo comum, 15 fevereiro de 2015
Ao
tomar conta dos textos deste domingo para a missa, saltou-me ao pensamento o
tema do racismo e da xenofobia, porque continuam a ser uma chaga horrenda dos
nossos tempos.
Por
isso, lá vão duas situações que se passaram na nossa cidade. Uma mulher de cor
negra grávida entrou no autocarro a caminho da sua casa. Ao chegar ao interior
do autocarro, duas ou três pessoas já de alguma idade, estavam sentadas junto
das janelas, quando se aperceberam da chegada desta senhora saltaram
repentinamente para os bancos da coxia para que a grávida não se sentasse ao
seu pé. No entanto, alguém noutra zona do autocarro presencia a «cena de
terror», fazendo prevalecer o bom senso e que repudia qualquer sombra de
xenofobia, levantou-se de imediato e ofereceu o seu lugar para a senhora mais
necessitada de assento, tendo em conta o seu estado de gravidez. A seguir não
faltaram ofertas de assento para esta outra senhora que se prontificou
amavelmente a oferecer o seu lugar. Obviamente que esta mulher recusou com um
misto de prazer as prontas ofertas carregadas de racismo doentio.
Outra
situação passou-se num lar de terceira idade, onde trabalha uma jovem de cor
negra. Uma senhora de cor branca, cheia de salamaleques e muita dona do seu
nariz, para não dizer de nariz empinado, outro dia caiu ao chão, sem conseguir
levantar-se, foi de imediato socorrida por esta funcionária. (Repare-se na
manifestação de racismo primário e doentio). Diz a idosa o seguinte: - «tira
essas mãos pretas de cima de mim». Na mesma ocasião alguém de bom senso, ao
presenciar a cena triste, dirige-se à idosa do seguinte modo: - «oh dona tal…
não diga semelhante barbaridade, esta jovem tem as mãos mais brancas do que a
vossa alma, que está preta de rancor e de ingratidão». O rosto da jovem ficou
lavado em lágrimas. A idosa parece ter aprendido a lição.
Desculpem-me
os qualificativos de «cor branca» e «cor preta» aplicados neste texto às
pessoas, mas para vermos o quanto ainda existe de racismo motivado pela cor da
pele. Esta lepra do nosso tempo que precisa do milagre da cura urgentemente. É
triste que ainda assim seja…
São
Paulo, aponta o caminho, Cristo a todos quer salvar, tenham a cor que tiverem.
Tenham a doença ou a mazela que tiverem. Não importa. Basta que cada coração
esteja cheio de amor e aberto ao acolhimento do outro de forma desinteressada.
Esta é a religião dos irmãos, porque todos filhos de um Pai/Mãe comum. Por
isso, dói saber-se que muitas manifestações de racismo e xenofobia ainda fazem
parte das nossas sociedades. Esta é a lepra dos nossos tempos. Jesus demonstra
claramente que não quer ninguém no chão, mas a todos deseja chamar à vida com dignidade.
Não
pensemos que o racismo é só coisa de África ou da América, está muito bem
implantado no nosso quotidiano. Silenciosamente provoca muitas injustiças e
sofrimentos.
O
apelo do Apóstolo dos gentios deve calar fundo no coração de cada um de nós:
«não sejais ocasião de pecado…» Não podia vir mais a propósito este apelo, para
que cada um deixe de pensar que se salva sozinho e que ser cristão não implica
uma abertura aos outros incondicionalmente. A salvação de Deus, nunca acontece
individualmente, mas vem ao encontro de todos. E Deus quer que nos olhemos como
irmãos.
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