Quaresma 2015
Um
professor tinha numa das turmas, um garoto muito irrequieto que implicava
frequentemente com os companheiros: discutia, insultava, agredia.
Certo
dia, o professor quis dar ao pequeno uma lição especial. Chamou-o, entregou-lhe
uma folha em branco e ordenou: vais amachucar esta folha o mais que puderes.
O
rapazinho agarrou a folha, apertou-a na mão, amachucou-a com toda a sua força.
A folha ficou amolgada, vincada, feia, quase inutilizável.
Em
seguida, o mestre disse ao aluno que endireitasse aquela folha: desdobrando-a
com todo o cuidado e alisando-a o melhor que pudesse. O pequeno desdobrou-a e
alisou-a o melhor que pôde. Mas a folha apresentava sinais das amolgadelas que
sofrera. Esticou-a ainda mais, mas sempre visíveis os traços das amolgadelas.
Então
o professor explicou ao aluno: recebeste a folha limpíssima e lisa.
Amachucaste-a e ficou irreconhecível. Tentaste pô-la como antes, mas, não obstante
o teu esforço, ficou irremediavelmente marcada. Assim acontece quando desgostas
alguém por palavras ou por acções, maltratando, ferindo e esmagando. Passado
algum tempo, reflectiste e arrependeste-te. Tentaste limpar essas rugas, essas
manchas que puseste na pessoa que ofendeste. Arrependido, tentaste voltar ao
primeiro relacionamento com a pessoa ofendida: falaste com simpatia, trataste
com amabilidade, mas por mais simpático que sejas, por mais desculpas que
peças, por melhor que te comportes, as marcas das tuas ofensas continuam a
fazer sofrer quem foi ofendido e a ti próprio que injustamente e ingratamente
feriste. Folha amolgada nunca mais será igual...
Mário Salgueirinho
Sem comentários:
Enviar um comentário