Há uma brisa refrescante e nova a partir
de Roma pela mão do Papa Francisco. O Papa nomeou uma comissão para analisar o
acesso das mulheres ao diaconado, como já ocorre com homens solteiros ou
casados, o denominado diaconado permanente. É uma pena muito grande que entre
nós esta forma de ministério esteja esquecida ou até quase extinta. Não é por
causa do Papa nem muito menos por causa dos padres em geral, unicamente e
exclusivamente, por causa dos bispos que não quem maçadas à sua volta.
O diaconado, na hierarquia, é um grau
abaixo do sacerdote. Podem presidir a casamentos e baptismos. Só não podem
consagrar o Pão e o Vinho na Eucaristia, de resto podem fazer tudo o que seja
necessário para animar as comunidades religiosas. Em muitos lugares do mundo,
devido à escassez de sacerdotes, muitos religiosos e religiosas, autorizados
pelos bispos, presidem à vida das comunidades. Alguns são diáconos, outros não,
no caso se forem mulheres, porque as mulheres não têm acesso ao Sacramento da
Ordem em nenhum dos três graus. O Papa tenta permitir nem que seja para já o
primeiro grau, o diaconado.
O Papa Francisco, nesta e noutras
matérias, podia levar a efeito na Igreja uma verdadeira implosão, mas prefere
paulatinamente tirar pedra a pedra os temas congelados pela doutrina católica
há séculos: os divorciados e os segundos casamentos, a homossexualidade, o
celibato obrigatório, a ordenação das mulheres, a corrupção no Vaticano, a
pedofilia, a sexualidade e as questões sobre a vida humana em geral…
Não há fundamento bíblico nenhum para excluir
as mulheres do sacerdócio, e até a possibilidade de serem bispas e papisas. O
maior obstáculo radica no machismo ou patriarcalismo que perpassa a Igreja
desde os primeiros séculos do Cristianismo até aos nossos dias.
Para quem advoga limitações de ordem
puritana e fundamentos bíblicos inventados para a exclusão das mulheres,
reparemos que na genealogia de Jesus há cinco mulheres: Tamar, Raab, Rute e Maria,
e ainda a mãe de Salomão, que foi «mulher de Urias». Esta dimensão feminina da
genealogia de Jesus não é assim tão perfeita como se desejaria para o Filho de
Deus.
A viúva Tamar seduziu o sogro para ter
um filho do mesmo sangue do seu falecido marido. Rute, a Moabita, é uma estrangeira,
bisavó de David, pagã aos olhos dos hebreus. A «mulher de Urias» foi seduzida
por David enquanto o marido estava na guerra. Raab era uma prostitua assumida
em Jericó. Por fim, Maria, a mãe de Jesus que aparece grávida antes de contrair
matrimónio com José, ou seja, uma mãe solteira, que não deve ter-se livrado
de comentários ferozes de desprezo.
Jesus convive com os doze, mas no grupo
não faltam mulheres. Não faltam nomes bem concretos: Maria Madalena, Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Susana «e
várias outras», diz o evangelista Lucas. Como se nota claramente, Jesus não era
exclusivista nem muito menos machista, frequentava a casa de Maria e Marta, as
irmãs de Lázaro. Depois há o diálogo com a Samaritana à beira do poço de Jacob,
que em seguida, tornando-se missionária e discipula, anuncia o Messias salvador, em casa de Pedro em Cafarnaum, cura
a sua sogra, demonstrando que Pedro era casado e que por isso não deixou de servir
para ser o primeiro Papa. Maria Madalena é a primeira a anunciar a Ressurreição
de Jesus.
Por aqui se vê
como falta muito à Igreja Católica aprender com Jesus e seguir os seus passos.
As suas palavras foram duras com fariseus e escribas, mas com as mulheres em geral
era acolhedor, afectuoso e fazia-lhes sobressair a sua fé e o seu amor.
Não podemos
continuar com este machismo anacrónico que impõe um patriarcalismo absurdo à
Igreja e ao mundo, fazendo dela uma instituição desumana e completamente fora do contexto histórico
que vivemos hoje. Não deve ser permitido que o macho, só porque nasceu macho,
mesmo que demonstre sinais exteriores efeminados (sabe Deus e nós os problemas
que às vezes advém daí…) possa ser sacerdote e a mulher não.
A humanidade, se quisermos
falar assim, tem duas metades, forma uma realidade única e indivisível, mas no
acesso ao sacerdócio só uma metade é que tem direito a recebê-lo. Nunca seremos
verdadeira Igreja, iluminada pelo exemplo de Jesus, se persistir esta discriminação completamente
absurda.
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