Domingo
III da Páscoa...
A localização de Emaús tem diversas
tradições, todas a Oeste de Jerusalém. Deste Evangelho, próprio de Lucas,
discute-se a origem. Talvez seja um convite a percorrer o próprio itinerário de
fé, caminhando com Jesus? – Esta visão basta para o que se pretende reflectir.
Toda a Páscoa é um convite a seguir o
caminho da vida a bom passo. Nessa caminhada escuta-se a voz de Jesus Vivo e
Ressuscitado, que garante que estará connosco mesmo que não o vejamos. O
caminho faz-se andando e o amor faz-se amando, se quisermos fazer uma alusão
aos poetas quando afirmam. São João da Cruz: «O amor não cansa nem se cansa»;
«Onde não há amor, põe amor e colherás amor» e António Machado, poeta Sevilhano
que dirá: «O caminho faz-se caminhando»: «Caminhante, as tuas pegadas / São o
caminho e nada mais; / Caminhante não há caminho, / O caminho faz-se ao andar.
/ Ao andar faz-se o caminho / E ao olhar-se para atrás, / Vê-se a senda que
jamais, / Se há-de voltar a pisar. / Caminhante não há caminho, / Somente
sulcos no mar». Ora bem no texto do Evangelho descobrimos a imagem da
humanidade em dois discípulos a fazer a caminhada até Emaús, mas, caminham
consternados, derrotados e desiludidos com os factos recentes passados em
Jerusalém. Qual humanidade hoje a fazer o caminho com o desalento e o desânimo,
porque afundada pelas crises monetárias, pelas guerras inacabáveis, pelas
violências constantes, a insegurança derivada de vários medos, o desemprego que
faz mergulhar uma multidão imensa de pessoas na fossa da fome e do desespero,
imensos jovens sem oportunidades de emprego e de um futuro feliz...
Nesse caminho, Jesus lança-nos a
pergunta: «que fizestes do dom da Minha Morte Pascal?» E nós fazemos outras:
foi em vão a Sua morte? Não serviu para percebermos que só pelo amor a
humanidade será feliz? Não percebemos ainda que a dignidade humana e os
Direitos Humanos devem ser respeitados para que a humanidade inteira se realize
na harmonia do bem? Não serviu para perceber ainda que Deus nos criou para a
vida e não para a morte? Para onde caminhas humanidade, que te auto flagelas e
matas frequentemente? (…) Há um o caminho e uma mensagem que se levada à
prática pode libertar do lamaçal em que a humanidade tantas vezes se deixa
atolar.
Há também uma refeição, que é o lugar do
encontro, o Sacramento dessa presença misteriosa, porque só «reunidos à mesa Me
reconhecereis Ressuscitado». A importância da Eucaristia vê-se claramente neste
encontro de Emaús. No partir do pão Jesus é reconhecido e convida à saída de si
mesmo para se lançar ao encontro dos outros, especialmente, os mais
necessitados, para viver a densidade eucarística da partilha fraterna. Cada
momento desse encontro é uma meta que dá entusiasmo à vida, porque retempera na
coragem e leva ao desprendimento de si para se abrir aos outros.
Nesta abertura à partilha no itinerário
da fé, devemos nos sentir comunidade que peregrina para a Páscoa definitiva. Por
isso, pedimos «Senhor, Tu que fazes connosco este caminho aberto ao
Transcendente, faz que não nos detenhamos até chegar ao encontro definitivo».
Afinal, o Emaús de cada um de nós pode estar longe materialmente falando, mas
com Jesus Ressuscitado ao nosso lado, podemos afirmar, «Emaús aqui tão perto».
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