1. Dizer e praticar
pode ser uma questão de hábito. Tantas vezes vou dizendo que dá o mesmo
trabalho ser simpático e delicado ou ser indelicado e antipático. Muitas
pessoas queixam-se que políticos, padres e outros formadores de opinião têm um
determinado discurso e uma prática completamente oposta. É grave quando assim
acontece.
2. Nada nos aborrece
mais do que constatarmos que há distância entre o que é dito e o que é feito. O
discurso pela tolerância, o perdão, a simpatia, a solidariedade ou a caridade
entre tantos outros apelos que se vividos fazem muito bem à vida e embelezam o
mundo. Quando tudo isto faz parte da palavra e da prática ilumina a realidade
concreta do viver de todas as pessoas, mesmo até aquelas que não sintam nenhuma
preocupação com isso.
3. Porém, quando a
faltam esses valores ou sentimentos - não sei bem se são valores ou sentimentos,
até acho que eles se confundem e estarão bem próximos e devem ser valores/sentimentos
ao mesmo tempo para serem verdadeiros - na prática de quem os anuncia e prega,
reveste-se de uma gravidade impressionante. À partir muita gente, com toda a
razão irrita-se, mas considero que não merecem tanto, porque a exasperação não
irá beliscar em nada quem assim precede e fará muito mal a quem a alimenta, por
isso, devemos perante tais comportamentos incongruentes manifestar compaixão e
em certa medida ignorar.
4. O discurso religioso
está cheio disto. Os agentes religiosos têm em mãos anunciar um ideal que tem
uma exigência que requer todas as forças humanas, psicológicas e espirituais
para ser atingido. Mas, sendo eles fruto da humanidade são os primeiros a
falhar quanto à sua prática. A tarefa é logo à partida é muito exigente e
nalguns detalhes quase impossível de concretizar. Daí que sujam de quando em
vez tantas manifestações de revolta e repúdio contra os agentes religiosos.
5. Mas, o discurso
religioso não pode ser justificado com tudo. Há no discurso religioso uma parte
exclusivamente religiosa, mas deve também ter uma parte profundamente humana,
uma outra que não descora a educação e ainda outra que apela ao respeito e
tolerância no convívio com os outros. O discurso religioso ou tem «carne», isto
é, vida concreta, ou não serve para nada, é um discurso para quem vive acima
das nuvens.
6. Daí que o discurso
religioso deve ser consequente minimamente na atenção e educação para com todos.
A tolerância deve ser princípio basilar da sua ação, não deve faltar a
compaixão com todas as vítimas de qualquer situação que as tenha feito sofrer,
o perdão como caminho quotidiano, mesmo que isso implique muita paciência e
aquilo que se designa tantas vezes «engolir sapos». Em nome da promoção da
humanidade tudo vale a pena, em nenhuma discurso em qualquer área humana deve
deixar de estar presente essa principal preocupação. Faltando isso, o melhor é estar
calado sempre.
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