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segunda-feira, 24 de abril de 2017

O discurso e prática

1. Dizer e praticar pode ser uma questão de hábito. Tantas vezes vou dizendo que dá o mesmo trabalho ser simpático e delicado ou ser indelicado e antipático. Muitas pessoas queixam-se que políticos, padres e outros formadores de opinião têm um determinado discurso e uma prática completamente oposta. É grave quando assim acontece.
 
2. Nada nos aborrece mais do que constatarmos que há distância entre o que é dito e o que é feito. O discurso pela tolerância, o perdão, a simpatia, a solidariedade ou a caridade entre tantos outros apelos que se vividos fazem muito bem à vida e embelezam o mundo. Quando tudo isto faz parte da palavra e da prática ilumina a realidade concreta do viver de todas as pessoas, mesmo até aquelas que não sintam nenhuma preocupação com isso.  
 
3. Porém, quando a faltam esses valores ou sentimentos - não sei bem se são valores ou sentimentos, até acho que eles se confundem e estarão bem próximos e devem ser valores/sentimentos ao mesmo tempo para serem verdadeiros - na prática de quem os anuncia e prega, reveste-se de uma gravidade impressionante. À partir muita gente, com toda a razão irrita-se, mas considero que não merecem tanto, porque a exasperação não irá beliscar em nada quem assim precede e fará muito mal a quem a alimenta, por isso, devemos perante tais comportamentos incongruentes manifestar compaixão e em certa medida ignorar.
 
4. O discurso religioso está cheio disto. Os agentes religiosos têm em mãos anunciar um ideal que tem uma exigência que requer todas as forças humanas, psicológicas e espirituais para ser atingido. Mas, sendo eles fruto da humanidade são os primeiros a falhar quanto à sua prática. A tarefa é logo à partida é muito exigente e nalguns detalhes quase impossível de concretizar. Daí que sujam de quando em vez tantas manifestações de revolta e repúdio contra os agentes religiosos.
5. Mas, o discurso religioso não pode ser justificado com tudo. Há no discurso religioso uma parte exclusivamente religiosa, mas deve também ter uma parte profundamente humana, uma outra que não descora a educação e ainda outra que apela ao respeito e tolerância no convívio com os outros. O discurso religioso ou tem «carne», isto é, vida concreta, ou não serve para nada, é um discurso para quem vive acima das nuvens.
6. Daí que o discurso religioso deve ser consequente minimamente na atenção e educação para com todos. A tolerância deve ser princípio basilar da sua ação, não deve faltar a compaixão com todas as vítimas de qualquer situação que as tenha feito sofrer, o perdão como caminho quotidiano, mesmo que isso implique muita paciência e aquilo que se designa tantas vezes «engolir sapos». Em nome da promoção da humanidade tudo vale a pena, em nenhuma discurso em qualquer área humana deve deixar de estar presente essa principal preocupação. Faltando isso, o melhor é estar calado sempre.

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