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quarta-feira, 2 de maio de 2018

A ordenação sacerdotal das mulheres

Comensal divino
O machismo de muitos, que compõe a hierarquia da Igreja Católica, que não querem, repudiam, vomitam, esquecem que a vontade de Deus e o vento que sopra os tempos, irá varrer essa teimosia e, melhor ainda, irá limpar todas as tolices que inventam para justifica o injustificável. A título de exemplo, que Jesus só escolheu machos para o seu grupo, as «desgraças» das Igrejas Protestantes depois de ordenarem mulheres e tudo o diabo que o carregue para fazer ensaios tolos para justificar um anacronismo e uma injustiça contra a dimensão feminina da humanidade (alias o grupo maioritário de membros que compõem o conjunto de fiéis da Igreja Católica). Tantas vezes faz-me pensar, quando nas celebrações da Missa durante os dias da semana, a assembleia é toda composta por mulheres, mas o presidente é um homem... Por aqui se vê logo, a maioria na Igreja são mulheres, mas os homens é que governam e presidem.
Mas, ainda bem que o debate sobre o estatuto da mulher na Igreja Católica continua vivo e alarga-se para fora das portas das igrejas católicas. Outro elemento positivo é que o debate sobre esta temática não está reduzida apenas e só à «Ordenação sacerdotal das mulheres», se fosse isso, como foi nalguns momentos, protagonizado por alguns movimentos católicos e não só, seria redutor e ofensivo para as mulheres. O tema é muito mais vasto e prende-se com o machismo que sempre norteou a Igreja Católica os seus dois mil anos de existência.
Quando o Papa João Paulo II tinha encerrado o assunto da ordenação das mulheres (CF. Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis, de 22 de Maio de 1994), pensou-se que o assunto ficaria arrumado, mas não foi assim e ainda bem. O Papa Francisco tem sido confrontado com este tema e disse o seguinte no voo de regresso da sua visita pastoral a Cuba e aos Estados Unidos: «Não é porque não tenham capacidade. Na Igreja, as mulheres são mais importantes do que os homens porque a Igreja é feminina; é ‘a Igreja’ não ‘o Igreja’». Curiosa e surpreendente esta resposta. Deve ter colocado em sentido os mais acérrimos defensores da não ordenação das mulheres. Para nós que o defendemos, estamos perante um sinal embora ainda muito ténue. As grandes transformações e revoluções na Igreja fazem-se com pequenos passos mas determinados. Este pode ser mais um deles. É relevante, porque à partida abre o debate que pretensamente pareceu ter sido encerrado com a posição do Papa João Paulo II.
Os argumentos para excluir as mulheres do sacerdócio não são teológicos, mas assentam na interpretação de que Jesus Cristo e a tradição escolheram apenas homens para fundar e governar a Igreja. Embora Jesus seja uma realidade despida de preconceitos culturais e religiosos, é assim que se considera e se aceita a não ordenação das mulheres e a recusa de que as mulheres tenham um papel mais interventivo na condução da Igreja Católica. Resta saber se isso não resulta do contexto histórico que se vivia na altura de Jesus. Estou convencido que se fosse hoje provavelmente a escolha teria em conta uma paridade mais equitativa.
O Evangelho contradiz a ideia de que com Jesus só estavam homens e apenas doze. Aliás, doze apenas, é preciso não descurando a ideia simbólica que se reveste este número e a totalidade que ele representa. Por isso, ao lado desses tais doze existia um grupo grande de discípulas - mulheres que seguiam Jesus (Lucas 8, 1-3). Estas mulheres ousaram assumir o seguimento de Jesus num ambiente particularmente difícil para as mulheres. A significativa representação feminina junto da Cruz é reveladora da sua fidelidade e dedicação a Jesus e à sua Missão. São elas as primeiras testemunhas da Ressurreição e é a elas que fica destinada desde logo a missão de comunicarem o sucedido aos Apóstolos. São Paulo, nas suas cartas refere que são várias as mulheres que são líderes das comunidades por ele fundadas.
Esperemos que este debate sobre o papel da mulher na Igreja não termine. Que a delicadeza do tema, a ordenação das mulheres, não trave a reflexão, porque ela é muito necessária, até porque a comunidade cristã ainda está muito dividida e parece não estar preparada para uma decisão a este respeito.
No entanto, esperemos que o «génio» feminino no entretanto seja considerado, reconhecido por todos e comece a assumir papéis de relevo na condução do governo da Igreja Católica. Não basta reconhecer que as mulheres são peritas no amor e no serviço, mas depois são remetidas ao silêncio, ao asseio e à colocação de flores nos altares das Igrejas. É preciso não ter medo da mudança. Ver, escutar o que faria e diria Jesus às mulheres se a sua Igreja começasse nos tempos em que nós vivemos onde a mulher ganhou emancipação e é chamada a participar em pé de igualdade com os homens na construção da família e na organização da sociedade.

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