Escrever nas estrelas
A liberdade do
amor não sabe o que é o medo e mais a certeza que «A arte, um dos grandes
valores da vida, deve ensinar aos homens: humildade, tolerância, sabedoria e
magnanimidade», disse William Maugham. É isto que vejo essencialmente no livro de poemas do Padre Martins Júnior, que adiante apresento.
O Victor Cunha Rego dizia com a sua
clarividência extraordinária que as dores, os medos, as espontaneidades, os
amores, os ódios são demasiado tímidos. Pretendo com isto convidar os leitores
desta página a verem e a escutarem o livro de poemas do Padre Martins Júnior,
«Poemas Iguais aos dias desiguais», onde está explanado pela letra do poema o
desejo de libertação dos medos que nos invadem quotidianamente e que, por
vezes, podem coarctar as nossas acções para o bem e para o mal.
O grande estadista inglês Winston
Churchill dizia: «Todas as grandes coisas são simples. E muitas
podem ser expressas numa só palavra: liberdade; justiça; honra; dever; piedade;
esperança». Estes valores cantam-se poeticamente e vivem-se convictamente,
mesmo que por eles se derrame suor, lágrimas e sangue. «Nem todos podem tirar
um curso superior. Mas todos podem ter respeito, alta escala de valores e as
qualidades de espírito que são a verdadeira riqueza de qualquer pessoa» disse o
autor Alfred
Montapert. O Padre Martins Júnior tem expressado com vida e, no caso,
pela palavra poética esta realidade.
Não podem coexistir a saudável visão de
Deus com alguns sentimentos que mais não são senão um fardo que oprimem e matam
a liberdade da pessoa humana. Deus não se cria nem se deixa criar por ninguém.
Movidos pelo medo, renunciamos àquilo que Deus nos concedeu, à realidade mais
profunda, à faculdade de sentir e amar, a fim de se ser aceite por aquele deus
que criamos ou pensamos existir vergado às nossas categorias mentais. E não
fossemos já saber de Charles Chaplin que «Não se mede o valor de um homem pelas
suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu carácter,
as suas ideias e a nobreza dos seus ideais». Nestes valores radica a maior
riqueza do ser homem e do ser mulher.
Tal como os pagãos dos tempos antigos que,
por medo, lançavam os seus primogénitos para o fogo aos pés da estátua de Baal,
também nós acreditamos que nos devemos sacrificar para ser agradável ao deus minúsculo.
Incapazes de compreender a grandeza, a beleza e o amor infinito de Deus,
adoramos assim um ídolo criado apenas por cada um. Assim sendo, uma vida
espiritual adulta e vivificante consiste em resistir e em recusar realizar
qualquer prática religiosa cujo fundamento único seja o medo de um deus «deste
circo ambulante» (pag. 104).
No poema «O que é preciso é amar, canção
patriótica global» (pag. 33), está a chave do livro e a assunção da missão inteira
e de toda a vida do autor. Viver o amor verdadeiro e habitar num lugar onde se
é sujeito na vivência do amor, conhecemos incondicionalmente a presença de
Deus. A condição única de salvação, é a vida no amor, que não se consegue por
simples meios humanos, como o confirma o apóstolo João: «Quem não amar não
pode conhecer Deus, porque Deus é amor» (1 Jo 4, 8). Então Deus é terra, é pão, suor e lágrimas, mas alegre festa, grito de liberdade e sonho da paz e da fraternidade. Esta é a liturgia do amor em festa no coração de cada homem e mulher que em comunidade se encontra para celebrar essa grande festa.
O amor exorciza o medo e torna-nos
livres diante do nosso ser e diante dos nossos semelhantes. Diante desta base,
o amor é sempre um verdadeiro milagre. É sempre o dom que Deus nos faz de Si
mesmo, é sempre uma experiência divina. Na comunidade de amor que pode ser a
nossa, a presença de Deus é-nos oferecida sem preço algum livremente todos os
dias. Se nos abrimos a esse milagre, podemos partilhá-lo com os outros em sinal
de gratidão.
É que nós gastamos o coração e a
inteligência com lógicas matreiras e maquinações interesseiras que nos perdem e
nos envolvem no esquecimento fatal da perdição. «Não fico em casa, não! / Oiço
falir as braçadas de quem lança ao mar as redes / Sempre vazias, sempre
trituradas / Nas garras dos tubarões…» (pag. 90). O coração e a inteligência,
segundo a perspectiva de Deus por Jesus Cristo, são para gastar no que é
fundamental, isto é, no que salva e no que nos conduz ao Reino de Deus.
Enfim, essencialmente, do que nos fala é
«Dos poetas», porque «Há-os…» por todos os lugares e em tantos afazeres pelo
bem comum e pela justiça no mundo «… a poesia está na rua», por isso, «A poesia continua…»
(pag. 187).
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