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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Livro de poesia do Padre Martins Júnior

Escrever nas estrelas
A liberdade do amor não sabe o que é o medo e mais a certeza que «A arte, um dos grandes valores da vida, deve ensinar aos homens: humildade, tolerância, sabedoria e magnanimidade», disse William Maugham. É isto que vejo essencialmente no livro de poemas do Padre Martins Júnior, que adiante apresento.
O Victor Cunha Rego dizia com a sua clarividência extraordinária que as dores, os medos, as espontaneidades, os amores, os ódios são demasiado tímidos. Pretendo com isto convidar os leitores desta página a verem e a escutarem o livro de poemas do Padre Martins Júnior, «Poemas Iguais aos dias desiguais», onde está explanado pela letra do poema o desejo de libertação dos medos que nos invadem quotidianamente e que, por vezes, podem coarctar as nossas acções para o bem e para o mal.
O grande estadista inglês Winston Churchill dizia: «Todas as grandes coisas são simples. E muitas podem ser expressas numa só palavra: liberdade; justiça; honra; dever; piedade; esperança». Estes valores cantam-se poeticamente e vivem-se convictamente, mesmo que por eles se derrame suor, lágrimas e sangue. «Nem todos podem tirar um curso superior. Mas todos podem ter respeito, alta escala de valores e as qualidades de espírito que são a verdadeira riqueza de qualquer pessoa» disse o autor Alfred Montapert. O Padre Martins Júnior tem expressado com vida e, no caso, pela palavra poética esta realidade.
Não podem coexistir a saudável visão de Deus com alguns sentimentos que mais não são senão um fardo que oprimem e matam a liberdade da pessoa humana. Deus não se cria nem se deixa criar por ninguém. Movidos pelo medo, renunciamos àquilo que Deus nos concedeu, à realidade mais profunda, à faculdade de sentir e amar, a fim de se ser aceite por aquele deus que criamos ou pensamos existir vergado às nossas categorias mentais. E não fossemos já saber de Charles Chaplin que «Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu carácter, as suas ideias e a nobreza dos seus ideais». Nestes valores radica a maior riqueza do ser homem e do ser mulher.  
Tal como os pagãos dos tempos antigos que, por medo, lançavam os seus primogénitos para o fogo aos pés da estátua de Baal, também nós acreditamos que nos devemos sacrificar para ser agradável ao deus minúsculo. Incapazes de compreender a grandeza, a beleza e o amor infinito de Deus, adoramos assim um ídolo criado apenas por cada um. Assim sendo, uma vida espiritual adulta e vivificante consiste em resistir e em recusar realizar qualquer prática religiosa cujo fundamento único seja o medo de um deus «deste circo ambulante» (pag. 104).
No poema «O que é preciso é amar, canção patriótica global» (pag. 33), está a chave do livro e a assunção da missão inteira e de toda a vida do autor. Viver o amor verdadeiro e habitar num lugar onde se é sujeito na vivência do amor, conhecemos incondicionalmente a presença de Deus. A condição única de salvação, é a vida no amor, que não se consegue por simples meios humanos, como o confirma o apóstolo João: «Quem não amar não pode conhecer Deus, porque Deus é amor» (1 Jo 4, 8). Então Deus é terra, é pão, suor e lágrimas, mas alegre festa, grito de liberdade e sonho da paz e da fraternidade. Esta é a liturgia do amor em festa no coração de cada homem e mulher que em comunidade se encontra para celebrar essa grande festa. 
O amor exorciza o medo e torna-nos livres diante do nosso ser e diante dos nossos semelhantes. Diante desta base, o amor é sempre um verdadeiro milagre. É sempre o dom que Deus nos faz de Si mesmo, é sempre uma experiência divina. Na comunidade de amor que pode ser a nossa, a presença de Deus é-nos oferecida sem preço algum livremente todos os dias. Se nos abrimos a esse milagre, podemos partilhá-lo com os outros em sinal de gratidão.
É que nós gastamos o coração e a inteligência com lógicas matreiras e maquinações interesseiras que nos perdem e nos envolvem no esquecimento fatal da perdição. «Não fico em casa, não! / Oiço falir as braçadas de quem lança ao mar as redes / Sempre vazias, sempre trituradas / Nas garras dos tubarões…» (pag. 90). O coração e a inteligência, segundo a perspectiva de Deus por Jesus Cristo, são para gastar no que é fundamental, isto é, no que salva e no que nos conduz ao Reino de Deus.
Enfim, essencialmente, do que nos fala é «Dos poetas», porque «Há-os…» por todos os lugares e em tantos afazeres pelo bem comum e pela justiça no mundo «… a poesia está na rua», por isso, «A poesia continua…» (pag. 187).

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