Um dos pontos em destaque durante esta semana
prendeu-se com a questão da linguagem ou comunicação. Assim foi que escrevi um
texto alusivo a esta questão, onde dei conta que o Arcebispo Rino Fisichella,
tinha proferido uma frase curiosa. Disse que era preciso «abrir a gaiola da linguagem»,
mas depois notei, que se tinha aberto a gaiola, logo de imediato voltou a
serrá-la. Assim é, que na segunda conferência que escutei com atenção, a gaiola
foi fechada a sete trancas e deu para perceber como é difícil despegar-se da
linguagem e do vocabulário clássico sobre a Igreja Católica e a sua hierarquia.
Porém, dado que se abriu uma brecha da porta quanto
à questão de que é preciso adaptar a linguagem face ao mundo que avança e muda
a uma velocidade estonteante, gostaria de salientar que um vocabulário
relacionado com o clero, a vida sacerdotal imbuído de palavras sonantes, pode
ser hoje perigoso. Chamo a vossa atenção para as seguintes expressões. Ser
padre é um «dom que Deus realiza»; «uma escolha de Deus»; «uma eleição de Deus
e da Igreja»; «a coragem que Deus teve ao escolher-me a mim e cada um de vós»;
«A cada um de nós Ele infunde»; «Ele decidiu chamar»… Estas foram algumas das
expressões utilizadas na segunda comunicação do Arcebispo Rino Fisichella.
Nos tempos de hoje são expressões que se revestem de
alguma perigosidade, se tivermos em conta a gigantesca avalanche de misérias
que esta «sagrada hierarquia» revela escandalosamente por esse mundo fora ao
mundo.
Esta linguagem bonitinha, hoje não cola, e resulta
ridícula para a mentalidade dos homens e mulheres que compõem as nossas sociedades
e, não digo apenas, os indiferentes e ateus, mas até os crentes das diversas
confissões religiosas, particularmente, a católica.
Este vocabulário «autoreferencial», para utilizar
uma expressão querida ao Papa Francisco, soa a ridícula muitas vezes porque não
corresponde à realidade dos factos.
Tenhamos em conta três razões que considero
essenciais para atestarmos quanto é inútil e até contra producente esta
linguagem. Primeiro, porque faz de Deus uma entidade carregada de erros de
casting e isso não é justo nem muito menos verdadeiro. Segundo, continua a impor
a expressão mais absurda que se pode ouvir aplicada à hierarquia da Igreja
Católica, «a sagrada hierarquia», formada por uma «casta de privilegiados», que
se consideram mais «amados por Deus», «escolhidos» face à grande multidão que
faz outras coisas na vida, mas que foi preterida por Deus. Terceiro, esta
linguagem está gasta e velha, perante o mundo que pula e avança com termos
novos, mentalidades diversas que bebem de várias fontes e que não abdicam de
raciocinar, pensar a sua autonomia e a sua capacidade de fazer sínteses seguidas
das suas consequentes escolhas.
De tanto insistir-se nesta linguagem, a meu ver,
faz-se orelhas moucas do «combate» do Papa Francisco contra o clericalismo e as
manias autoreferenciais que levaram ao clericalismo, essa «praga terrível», que
hoje sabemos ter causado tantos males a tanta gente, particularmente pessoas inocentes
e frágeis.
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