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segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

A Igreja piramidal e a Igreja circular


Os tempos apetecem que se continue a falar do termo mais badalado na atualidade em toda a Igreja Católica, a sinodalidade. Assunto lançado pelo Para Francisco. Receio que faça parte da conversa para entreter uma temporada. Oxalá me engane.

O Sínodo é um conceito interessante. Todos o definem como sendo um «caminhar juntos» ou «caminhar em conjunto». É bonito, sim senhor. Porém, pode resultar em nada, se nada for alterado naquilo que enferma a Igreja Católica, quanto à forma de ser Igreja e quanto a alguma doutrina que continua a levantar tanta perplexidade e indiferença aos tempos de hoje.

Para alguma mudança da forma, já vi que se fala que a Igreja Sinodal é uma «pirâmide invertida». Não me parece que chegue. Uma pirâmide de pernas ao ar como vai manter-se de pé? O topo da pirâmide sendo um bico afiado, invertido, nunca segura todo o corpo da pirâmide. Assim sendo a única imagem que me parece mais de acordo com a ideia da Igreja Sinodal é a imagem do círculo, para estarem todos os baptizados, onde se valoriza, em igualdade de circunstâncias, a função de cada batizado. Esta imagem circular não despensa nada daquilo que já existe, apenas se adata à nova realidade. Os dons, os carismas, estão todos lá e a autoridade visível também, só que ninguém é mais do que ninguém. Todos diferentes, todos iguais. Afinal, todos irmãos. Só assim se realizará o sonho de Jesus. O cristianismo é uma fraternidade.    

O outro aspecto que requer abertura de espírito, humildade e simplicidade, deve ser a ousadia de quebrar a doutrina cerrada relativamente às questões ético-morais sobre a vida, onde se inclui a questão da sexualidade, o aborto e a eutanásia. Obviamente, que se compreende que há questões inalteráveis nos princípios, mas a forma como os defendemos e apresentamos sempre devem estar sujeitos a adaptações. Nada da vida é estanque e inacabado.

Voltando à pirâmide invertida. Alguém acredita que a hierarquia maioritariamente acéfala e zarolha que existe de alto a baixo, bem instalada nas suas mordomias e privilégios, alguma vez permitirá uma mudança, até ao ponto de inverter a pirâmide? – Tudo isto pode não passar de conversa bonita para entreter. Mas certo é que a par de tudo isto há uma realidade que foge. A indiferença cresce, a credibilidade da Igreja nunca esteve tão baixa, cresce negativamente todos os dias e a debandada dos fiéis também é uma realidade que não se pode esconder. Nos que restam paira no ar uma profusão de sentimentos, por exemplo, uns estão perplexos, outros sofrem amargamente e outros profundamente escandalizados.

Na Igreja da circularidade, a autoridade deixa de ser poder, poder, para ser exclusivamente serviço para todos, particularmente, aos que mais precisam, os marginalizados, os pobres. Há uma insistência na dimensão comunitária, na colegialidade ao jeito do Novo Testamento (a comunidade dos Atos dos Apóstolos). Depois há a ênfase da escuta e do diálogo, que requer humildade, discernimento, oração para deixar «falar» a voz do Espírito Santo.

Na sinodalidade a Igreja é serva, o amor é o fundamento da caminhada em conjunto. E a Eucaristia, na sinodalidade, realiza e eleva a fraternidade na Igreja, onde todos participam, porque se anda a dizer «todos os crentes são chamados a ser sujeitos ativos na Igreja». Assim se reclama de forma tão bonita que na sinodalidade é preciso «escutar a todos para chegar a todos». E melhor ainda, «o que pertence a todos, deve ser tratado por todos». A ver vamos, porque nenhum de nós começou nisto há minutos.

Na Igreja sinodal circular continua no centro Jesus Cristo e o Seu Evangelho, que a todos dá valor na mais díspar pluralidade/diversidade. O projeto e desafio do Papa Francisco está lançado para a Igreja do mundo inteiro, resta saber se quem de direito está aberto aos ventos da mudança que o Espírito Santo tem suscitado nas encruzilhadas do mundo e da existência.   

Enfim, doutrina bonita não falta. Podem sim, faltar obras que deem valor e autoridade, para que tudo não passe de mais um tempo onde andamos entretidos com apenas paleio falacioso inconsequente.

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