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terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Não olhem para cima é como um alerta

Cinema


"Don't Look Up", é o nome de um filme que esteve em exibição nos cinemas. Muito bom.

Serve de alerta para a situação em que está o Planeta Terra.

A história do filme discorre à volta da ameaça de um cometa descontrolado que segundo os cálculos dos descobridores do evento vai chocar com a Terra. Os investigadores tentam convencer as autoridades políticas e furar o bloqueio de informações oficiais. O drama é terrível porque o escudo de insensibilidade dos políticos, a comunicação social irresponsável e as populações manipuladas não estão para aí viradas. Várias vezes os alertas são tomados em tom de gozo e brincadeira banal. Ninguém dá ouvidos. Aliás, os cientistas são contestados. Só no final, parece que entendem a gravidade do problema, mas mesmo assim, serve a situação para desenvolver ideias mirabolantes para fazer negócio e render dinheiro com o possível desastre.

Diante deste enredo, vejo-me a pensar, que no contexto da pandemia do Covid-19, experimentamos algo semelhante.

Primeiro, tivemos a incredulidade dos políticos face ao cometa-vírus Convid-19, que tinha embatido na China e ameaçava espalhar estilhaços pelo mundo todo, mas diziam que era inverosímil que tal acontecesse, porque estava longe e não havia como chegar até nós nada que se parecesse com esse vírus. Em poucos dias o vírus estava disseminado pelo mundo inteiro e ainda estamos no olho deste furacão que atormenta a vida de todos nós.

Segundo, os gastos astronómicos e os negócios de lucros chorudos que esta pandemia implica, têm muito que se lhe diga... Certos, é que estamos numa «guerra mundial», onde há baixas diariamente, um número incalculável de doentes e a vida inteira virada do avesso.

Terceiro, não me conformo que a expressão «guerra fria», neste contexto de pandemia tenha ganho uma premente atualidade e ande de boca em boca de alguns políticos deste mundo, nomeadamente, das nações que investem desmesuradamente em armamento.

Mas voltemos ao filme, que revela elementos que nos ajudam a compreender os comportamentos face ao desastre silencioso que é esta pandemia, a corrida ao armamento e as alterações ambientes, nomeadamente, o clima, que ameaça a biodiversidade do Planeta.

No filme é a acutilante a denúncia da impotência da ciência, que dando os seus alertas, ninguém se importa. Umas vezes é ridicularizada e outras vezes esses avisos são motivo de gozo. O poder político, mediático e económico sabe muito bem como fazer o seu caminho e defender os seus interesses. Há uma espécie de «aliança negacionista» entre eles, que depois se propaga nas populações. Não vos lembra nada face ao contexto que vivemos?

Por isso, é grave que a política e os políticos estejam completamente condicionados pela comunicação social e que só atuem face aos equívocos e contradições que estes meios selecionam, sem cuidado do que é verdadeiro ou falso. Preferem redundar no medíocre e no divertido mesmo que tratem de acontecimentos sérios. As emergências planetárias não se compadecem com a insensibilidade geral que estamos assistindo em nome de audiências e da ganância desmedidas dos lucros capitalistas.

Outro grande alerta que o filme nos faz prende-se com as ameaças sobre as democracias, hoje dominadas pela informação centralizada nas multinacionais de comunicação mundial. O magnata do filme, detentor dos dados pessoais de bilhões de cidadãos, usa esses dados, para condicionar e até forçar as opções políticas contra o bem geral dos seres humanos e contra o meio ambiente. Assim, se vê propalada a ideia de destruir o cometa para explorar os metais nobres, mesmo que o desastre planetário seja o dado mais seguro que tal armada nos suscita e se vislumbre o fim da vida na Terra. Enquanto isso os poderosos arquitetam a fuga para outros planetas.

Assim, para além daquilo que nos parece também ser o filme, cómico e divertido, é também ironicamente visionário, mostra-nos que devemos ser responsáveis, não escolhendo governantes loucos, corruptos, insensíveis. É importante não se deixar enganar pela desinformação geral da comunicação social que gravita entre o falso e o verdadeiro com a maior das irresponsabilidades, devotados não a informar com seriedade, mas a serem meros protagonistas de palhaçadas para entreter.

Face a tudo isto deve ser então necessário, abrir os olhos e olhar para cima, vendo claro que não permitimos ser escravos de magnatas do mundo digital que nos querem fazer vítimas da ignorância para que sigam adiante com as suas patifarias mercantilistas sem controlo e sem limites. 

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