Desejo que esta reflexão não seja uma seca.
Antes de avançar deixo claro a minha aprofunda admiração e respeito pela missão dos professores e de todos aqueles que gastam a vida com a escola. Pouco valorizados e muitas vezes esquecidos. O stresse e a ansiedade dos agentes educativos deviam ser a prioridade dos governantes que têm a tutela da educação. Os elementos que se recolhe junto do professores e do pessoal afeto às escolas, percebe-se o quanto sofrem face aos esquecimentos e a ingratidão que diariamente recolhem.Na Sexta feira passada, 21 de Janeiro de 2022, foi
apresentado no Auditório do Museu da Casa da Luz no Funchal, o livro com este provocatório
título: «A Escola é uma Seca» de André Escórcio. Não faltaram importantíssimas
reflexões de Nicolau Fernandez, do Professor Valentim Remédios, do P. Martins
Júnior e do autor da obra.
Após a leitura do livro, venho aqui destacar os meus
pensamentos. É um livro que merece ser lido com atenção, particularmente, por
todos aqueles que estão direta ou indiretamente ligados à nobre missão de
educar, governantes, dirigentes de escolas, pais, professores e sociedade em
geral. A educação não pode ter donos. É um assunto que a todos diz respeito.
Destaco o que a escola não deve ser: «A escola não é
uma fábrica ou armazém»; «A escola não pode ser toda e sempre igual»; «A escola
são pessoas, que não são números que preenchem estatísticas»; «a escola não é
um viveiro de avaliações de pessoas»; «a escola não vende um produto»; «a
escola não devia ser lugar de hierarquias que nasceram para se instarem em
comodismos herméticos e egoístas contra os demais, crianças e jovens
convertidos em mercadorias»; «a escola não é lugar de alunos, máquinas de
memória, despidos de raciocínio e inteligência» …
Mas destaco também o que deve ser a escola. A escola
educa para a liberdade e autonomia. Deve promover o pensamento próprio, o espaço de livre
expressão da criatividade. O engenho e a arte de cada ser humano deve ser
incentivado dentro da escola. O tempo da escola deve ser o tempo das perguntas.
O fim da escola sem burocratas e sem burocracias, porque não tem futuro a
monstruosa máquina que está por atrás de secretárias alimentada com papéis e
com papeladas infindáveis. O fim dos rankings e da avaliação só e unicamente por
exames, porque tudo isso acarreta concorrência desleal, injustiças face aos
mais pobres. Estes métodos avaliativos, fazem da educação um produto que se
vende a metro. É preciso pôr fim à cultura do chumbo, mas pela avaliação
contínua de forma integral porque uma pessoa não pode ser avaliada às fatias
mas no todo do universo que cada ser humano implica.
À medida que a leitura da obra discorria, vinham-me
ideias que podem ajudar a libertar a escola de «ser uma seca» para serem lugares
onde os alunos gostariam de estar com interesse. A escola é o laboratório principal
do futuro das sociedades.
Primeira ideia, metam na escola as famílias, particularmente
os avós, porque estão numa fase das suas vidas com tempo e paciência. Estão
livres da pressão dos horários e do stresse dos deveres profissionais. É a fase
etária mais liberta que temos hoje.
Segunda ideia, façam dos alunos o centro das
preocupações, não os sobrecarreguem com deveres tipo cassete, sem trabalhos de
casa, como forma de combater a ansiedade e a preocupação dos tempos livres dos
alunos, principalmente, os fins-de-semana e as férias. Deixem as crianças e os
jovens brincarem. Não lhes cortem a criatividade. E que o desporto esteja na
escola e durante os seus tempos livres.
Terceira ideia, não diabolizem computadores, tabletes
e telemóveis. Os jovens, quanto mais encontrarem adultos adversos à tecnologia,
mais gostam e mais se apegam a ela.
Quarta ideia, as escolas estão a fechar, porque não
temos crianças que as permitam funcionar, depois de adaptadas, reabrem cheias
de pessoas idosas. Não seria fiável serem espaços mistos onde jovens e idosos
pudessem ter momentos para conviverem juntos?
Quinta ideia, não descurem a vida espiritual dos
jovens, não basta valorizar exclusivamente a dimensão psicológica e
socializante das pessoas. Tudo converge para a estabilidade e felicidade dos
alunos.
Muito mais haveria para dizer, mas como temo transformar este texto numa seca como a escola tem sido para alguns alunos, retenho o essencial do livro, que relembra que a escola são pessoas que espelham oceanos multifacetados de diversidade, por isso, o que é diverso não pode ser tratado de forma igual em todo o lado.
Quem já não ouviu que a escola «é uma seca», «o professor
é uma seca», «a escola só vale pelos amigos e pelos intervalos»... Face a todos
estes lamentos, é preciso não esquecer que a escola é vida, diversidade, criação
inteira (preocupação ambiental, o Planeta, as alterações climáticas, a poluição
dos Oceanos). Daí que se deva ver a escola como verdadeiros areópagos, onde
cabe tudo e todos, à volta do banquete recheado de sabedoria, liberdade, tolerância,
respeito, diversidade, amizade e fraternidade.
A escola não tem donos, não devia ser propriedade de
governantes conotados com ideologias e dirigentes claramente partidarizados. A
missão da educação deve estar despida de instrumentalizações. A escola não é um
forno onde se metem pessoas dentro de formas para serem cozidas ao jeito de
manias e tendências sociais manipuladas pelas modas dos donos disto tudo. Não
se compreende interesses de nenhuma índole à volta da arte de educar.
Agradeço muito ao professor André Escórcio este
belíssimo livro. Também relevo mais ainda a minha gratidão pela importância e
destaque que mereceu uma longa citação da minha autoria que incluiu na obra (pág.
162/163).
Por fim, tentei ver se encontrava a palavra
felicidade nas páginas do livro. Parece que não aparece nenhuma vez. Não fica
beliscada em nada a importância da reflexão de André Escórcio, até porque está subentendida.
A felicidade tem muito a ver com a escola. Por isso, eis o sonho, escola feliz,
alunos felizes, professores e trabalhares felizes, famílias felizes, e por fim,
sociedade mais feliz. Obrigado pela obra «A escola é uma seca».
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