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segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Se a escola é uma seca a vida também vai ser

Desejo que esta reflexão não seja uma seca.

Antes de avançar deixo claro a minha aprofunda admiração e respeito pela missão dos professores e de todos aqueles que gastam a vida com a escola. Pouco valorizados e muitas vezes esquecidos. O stresse e a ansiedade dos agentes educativos deviam ser a prioridade dos governantes que têm a tutela da educação. Os elementos que se recolhe junto do professores e do pessoal afeto às escolas, percebe-se o quanto sofrem face aos esquecimentos e a ingratidão que diariamente recolhem.

Na Sexta feira passada, 21 de Janeiro de 2022, foi apresentado no Auditório do Museu da Casa da Luz no Funchal, o livro com este provocatório título: «A Escola é uma Seca» de André Escórcio. Não faltaram importantíssimas reflexões de Nicolau Fernandez, do Professor Valentim Remédios, do P. Martins Júnior e do autor da obra.  

Após a leitura do livro, venho aqui destacar os meus pensamentos. É um livro que merece ser lido com atenção, particularmente, por todos aqueles que estão direta ou indiretamente ligados à nobre missão de educar, governantes, dirigentes de escolas, pais, professores e sociedade em geral. A educação não pode ter donos. É um assunto que a todos diz respeito.

Destaco o que a escola não deve ser: «A escola não é uma fábrica ou armazém»; «A escola não pode ser toda e sempre igual»; «A escola são pessoas, que não são números que preenchem estatísticas»; «a escola não é um viveiro de avaliações de pessoas»; «a escola não vende um produto»; «a escola não devia ser lugar de hierarquias que nasceram para se instarem em comodismos herméticos e egoístas contra os demais, crianças e jovens convertidos em mercadorias»; «a escola não é lugar de alunos, máquinas de memória, despidos de raciocínio e inteligência» …     

Mas destaco também o que deve ser a escola. A escola educa para a liberdade e autonomia. Deve promover o pensamento próprio, o espaço de livre expressão da criatividade. O engenho e a arte de cada ser humano deve ser incentivado dentro da escola. O tempo da escola deve ser o tempo das perguntas. O fim da escola sem burocratas e sem burocracias, porque não tem futuro a monstruosa máquina que está por atrás de secretárias alimentada com papéis e com papeladas infindáveis. O fim dos rankings e da avaliação só e unicamente por exames, porque tudo isso acarreta concorrência desleal, injustiças face aos mais pobres. Estes métodos avaliativos, fazem da educação um produto que se vende a metro. É preciso pôr fim à cultura do chumbo, mas pela avaliação contínua de forma integral porque uma pessoa não pode ser avaliada às fatias mas no todo do universo que cada ser humano implica.

À medida que a leitura da obra discorria, vinham-me ideias que podem ajudar a libertar a escola de «ser uma seca» para serem lugares onde os alunos gostariam de estar com interesse. A escola é o laboratório principal do futuro das sociedades.

Primeira ideia, metam na escola as famílias, particularmente os avós, porque estão numa fase das suas vidas com tempo e paciência. Estão livres da pressão dos horários e do stresse dos deveres profissionais. É a fase etária mais liberta que temos hoje.

Segunda ideia, façam dos alunos o centro das preocupações, não os sobrecarreguem com deveres tipo cassete, sem trabalhos de casa, como forma de combater a ansiedade e a preocupação dos tempos livres dos alunos, principalmente, os fins-de-semana e as férias. Deixem as crianças e os jovens brincarem. Não lhes cortem a criatividade. E que o desporto esteja na escola e durante os seus tempos livres.  

Terceira ideia, não diabolizem computadores, tabletes e telemóveis. Os jovens, quanto mais encontrarem adultos adversos à tecnologia, mais gostam e mais se apegam a ela.

Quarta ideia, as escolas estão a fechar, porque não temos crianças que as permitam funcionar, depois de adaptadas, reabrem cheias de pessoas idosas. Não seria fiável serem espaços mistos onde jovens e idosos pudessem ter momentos para conviverem juntos?

Quinta ideia, não descurem a vida espiritual dos jovens, não basta valorizar exclusivamente a dimensão psicológica e socializante das pessoas. Tudo converge para a estabilidade e felicidade dos alunos.  

Muito mais haveria para dizer, mas como temo transformar este texto numa seca como a escola tem sido para alguns alunos, retenho o essencial do livro, que relembra que a escola são pessoas que espelham oceanos multifacetados de diversidade, por isso, o que é diverso não pode ser tratado de forma igual em todo o lado.

Quem já não ouviu que a escola «é uma seca», «o professor é uma seca», «a escola só vale pelos amigos e pelos intervalos»... Face a todos estes lamentos, é preciso não esquecer que a escola é vida, diversidade, criação inteira (preocupação ambiental, o Planeta, as alterações climáticas, a poluição dos Oceanos). Daí que se deva ver a escola como verdadeiros areópagos, onde cabe tudo e todos, à volta do banquete recheado de sabedoria, liberdade, tolerância, respeito, diversidade, amizade e fraternidade.

A escola não tem donos, não devia ser propriedade de governantes conotados com ideologias e dirigentes claramente partidarizados. A missão da educação deve estar despida de instrumentalizações. A escola não é um forno onde se metem pessoas dentro de formas para serem cozidas ao jeito de manias e tendências sociais manipuladas pelas modas dos donos disto tudo. Não se compreende interesses de nenhuma índole à volta da arte de educar.

Agradeço muito ao professor André Escórcio este belíssimo livro. Também relevo mais ainda a minha gratidão pela importância e destaque que mereceu uma longa citação da minha autoria que incluiu na obra (pág. 162/163).

Por fim, tentei ver se encontrava a palavra felicidade nas páginas do livro. Parece que não aparece nenhuma vez. Não fica beliscada em nada a importância da reflexão de André Escórcio, até porque está subentendida. A felicidade tem muito a ver com a escola. Por isso, eis o sonho, escola feliz, alunos felizes, professores e trabalhares felizes, famílias felizes, e por fim, sociedade mais feliz. Obrigado pela obra «A escola é uma seca».

Não esquecer que há uma interligação incontornável: família – escola – sociedade. Se a escola não faz bons cidadãos, homens e mulheres responsáveis por si e pelos outros, não serve para nada. 

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