«Deve ficar claro que viver numa democracia actual (e ainda mais futura) equivale a coexistir com aquilo de que não gostamos, com o que consideramos errado ou mesquinho, com o que nos repugna ou não conseguimos entender. Democracia é um concerto discordante, uma harmonia cacofónica, pelo que exige mais lassitude no aspecto colectivo e mais maturidade responsável no campo pessoal do que outro sistema político. O que caracteriza o viver em democracia é sentir impaciência e desassossego; encontrar no comum um amparo genérico, mas pouco consolo gregário para as inquietações privadas. De modo que a tentação de se identificar com algo simples e vigoroso, que expulse incertezas e dissidências, é constante, sobretudo quando a educação não anda muito bem e a economia tão-pouco. Nesta situação, a tolerância não é uma edificante aspiração pessoal, mas sim, uma atitude política que deve ser convenientemente instituída».
In Fernando Savater, Livre Mente, Relógio D'Água, pag. 31.
Nota da Redacção: Como sabe bem, não digo apenas ler, mas escutar estas palavras...
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