“Ternos e irreverentes, escandalosos e irónicos, desorganizados e profundos, filosóficos e com traços até teológicos, síntese louca da cultura pop e da apática e niilista «middle class» americana”: eis os Simpsons segundo o L’Osservatore Romano, que evocou o vigésimo aniversário da série de desenhos animados concebida pelo norte-americano Matt Groening.
O jornal do Vaticano recorda que a família da cidade de Springfield ganhou 23 Emmys. Em 1999, a revista «Time» definiu-a como a “melhor série televisiva do século” e, nessa mesma edição, Bart fez parte da lista das 100 pessoas mais influentes do mundo, no 46.º posto. No ano seguinte, conquistavam uma estrela na «Hollywood Walk of Fame».
Com perto de 400 episódios, os Simpsons bateram os recordes de longevidade na transmissão televisiva de desenhos animados.
A série é também a mais discutida e estudada. Em 2001, três reputados filósofos dos Estados Unidos publicaram a obra «The Simpsons and Philosophy» (Open Court, 256 páginas). Recorrendo a instrumentos analíticos baseados em Kant, Marx e Barthes, associaram Bart ao ideal nietzschiano do homem niilista, e Marge à concepção aristotélica da virtude.
Os críticos elogiam o realismo e a inteligência dos episódios, mas também atacam – “justamente”, refere o L’Osservatore – a linguagem demasiado crua e a violência de alguns episódios, assim como as opções por vezes extremas dos argumentistas. Por isso não faltam as censuras em países como a Rússia, China, Japão, Venezuela, Argentina e Grã-Bretanha.
Entre os muitos temas que entram em jogo na vida da comunidade de Springfield, o de Deus e o da relação entre o homem e Deus é um dos mais importantes (e mais sérios). Das intermináveis pregações do pastor evangélico Lovejoy – às quais correspondem regularmente as sestas de Homer nos bancos da primeira fila – ao radicalismo ingénuo de Flanders e dos seus maníacos filhos biblistas, passando pelos monólogos dos protagonistas que se dirigem directamente ao Altíssimo. Também não faltam as referências pungentes à confusão religiosa e espiritual do nosso tempo.
Espelho da indiferença e da necessidade que o homem moderno experimenta nos confrontos do sagrado, Homer encontra em Deus o seu último refúgio, mesmo que por vezes se engane clamorosamente no seu nome: “Normalmente não sou um homem religioso, mas se tu estás no alto, salva-me... Super-homem!”.
“Erros de percurso”, escreve o L’Osservatore Romano, porque na verdade os dois conhecem-se bem. Quando a sua casa começa a arder e Springfield é ameaçada pelos demónios, Homer decide pedir uma audiência a Deus. Uma escada móvel entre as nuvens leva-o ao gabinete divino; sobre a secretária divina, uma placa não deixa dúvidas: «I believe in Me».
Luca M. PossatiIn L'Osservatore Romano
Trad./adapt: rm © SNPC (rm) 29.12.09
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