A campanha para a eleições autárquicas começa
hoje. Devia ser um tempo de serenidade, onde os diversos candidatos se dão a
conhecer e revelam o que pretendem fazer se forem eleitos. Nisto consiste uma
campanha eleitoral. O mais simples possível, sem exageros e gastos desmedidos
que se forem levados a cabo insultam o nosso povo que vai ao hospital e não
encontra as condições necessárias para tratar da sua saúde ou então as nossas
escolas que estão sem professores e sem os elementos materiais necessários para
realizar a aprendizagem com a devida dignidade. Mais ainda se pensamos que há
uma multidão de desempregados e famílias que não têm dinheiro no fim do mês
para comprar os alimentos e pagar as suas contas básicas da água e da luz.
O pior de tudo, é que vamos voltar a ter,
campanhas «eleiçoeiras» carregadas de mentiras, de promessas loucas que depois
não serão cumpridas, pão e circo por todo o lado, obras malfeitas e à pressa
para a inauguração como elemento da festança e da mentira em que a nossa vida
foi montada. Tudo poeira para enganar as pessoas e caçar votos. Parece que os
tempos já foram melhores para este género de campanhas eleitorais. Mas veremos
no final.
O meu propósito seria acreditar que
podia ser possível viver-se a democracia com verdade, na base daquilo que propõe
o Papa Francisco, «honestidade, justiça e transparência». Mais ainda desejo que
esta campanha esclareça as pessoas. Todos os partidos devem prometer que não
vão violentar o bem comum e que farão bom uso do voto que os eleitores lhes irão confiar.
Ouso aqui resgatar que a condição humana
está marcada pela miséria e pela dimensão dos erros constantes. Não haverá
projectos infalíveis e pessoas que se possam dizer totalmente isentas de
pecado, convém não
desprezar uma verdade inegável, atestada pela reflexão filosófica de um Sartre
e mesmo pelo rigorismo filosófico de Kant, segundo o qual «o ser humano é um
lenho tão torto que dele não se podem tirar tábuas retas». Mas, ao menos assim-a-assim pode ser possível, bastará vontade sincera.
Neste sentido para esta temporada de campanha e para
vida em todos os momentos que nos guie o seguinte, dito em palavras modernas:
somos diabólicos e simbólicos, sapientes e dementes, capazes de amor e ódio. Por
isso Hobbes no seu Levitã (1651) nos confirma: «Assinalo, como tendência geral
de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e de mais poder
que cessa apenas com a morte, a razão disso reside no facto de que não se pode
garantir o poder senão buscando ainda mais poder». Esta verdade crua e tão
actual provoca-nos arrepios e revela o quanto se tem «trabalhado» para destruir
o melhor dos sistemas políticos, a democracia…
Esse poder materializa-se no dinheiro. Por isso a
corrupção, a crise, a ganância e todas as desgraças sociais, que assistimos envolvem
sempre dinheiro e mais dinheiro. Diz um dito de Ghana: «a boca ri, mas o
dinheiro ri melhor». Os corruptos creem nesta ilusão.
Até hoje não achamos cura para esta ferida interior.
Só podemos diminuir-lhe a sangria. Creio que, no termo, vale o método bíblico:
desmascarar o corrupto, deixando-o nu diante da sua corrupção e a pura e
simples expulsão do paraíso, quer dizer, tirar o corruptor e o corrompido da
sociedade e metê-los na prisão. Por isso, acredito que as únicas promessas dos
candidatos a qualquer eleição deviam ser sempre: «vou ser honesto, justo e
transparente».
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