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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Autárquicas 2013

 A campanha para a eleições autárquicas começa hoje. Devia ser um tempo de serenidade, onde os diversos candidatos se dão a conhecer e revelam o que pretendem fazer se forem eleitos. Nisto consiste uma campanha eleitoral. O mais simples possível, sem exageros e gastos desmedidos que se forem levados a cabo insultam o nosso povo que vai ao hospital e não encontra as condições necessárias para tratar da sua saúde ou então as nossas escolas que estão sem professores e sem os elementos materiais necessários para realizar a aprendizagem com a devida dignidade. Mais ainda se pensamos que há uma multidão de desempregados e famílias que não têm dinheiro no fim do mês para comprar os alimentos e pagar as suas contas básicas da água e da luz.
O pior de tudo, é que vamos voltar a ter, campanhas «eleiçoeiras» carregadas de mentiras, de promessas loucas que depois não serão cumpridas, pão e circo por todo o lado, obras malfeitas e à pressa para a inauguração como elemento da festança e da mentira em que a nossa vida foi montada. Tudo poeira para enganar as pessoas e caçar votos. Parece que os tempos já foram melhores para este género de campanhas eleitorais. Mas veremos no final.
O meu propósito seria acreditar que podia ser possível viver-se a democracia com verdade, na base daquilo que propõe o Papa Francisco, «honestidade, justiça e transparência». Mais ainda desejo que esta campanha esclareça as pessoas. Todos os partidos devem prometer que não vão violentar o bem comum e que farão bom uso do voto que os eleitores lhes irão confiar.
Ouso aqui resgatar que a condição humana está marcada pela miséria e pela dimensão dos erros constantes. Não haverá projectos infalíveis e pessoas que se possam dizer totalmente isentas de pecado, convém não desprezar uma verdade inegável, atestada pela reflexão filosófica de um Sartre e mesmo pelo rigorismo filosófico de Kant, segundo o qual «o ser humano é um lenho tão torto que dele não se podem tirar tábuas retas». Mas, ao menos assim-a-assim pode ser possível, bastará vontade sincera.
Neste sentido para esta temporada de campanha e para vida em todos os momentos que nos guie o seguinte, dito em palavras modernas: somos diabólicos e simbólicos, sapientes e dementes, capazes de amor e ódio. Por isso Hobbes no seu Levitã (1651) nos confirma: «Assinalo, como tendência geral de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e de mais poder que cessa apenas com a morte, a razão disso reside no facto de que não se pode garantir o poder senão buscando ainda mais poder». Esta verdade crua e tão actual provoca-nos arrepios e revela o quanto se tem «trabalhado» para destruir o melhor dos sistemas políticos, a democracia…
Esse poder materializa-se no dinheiro. Por isso a corrupção, a crise, a ganância e todas as desgraças sociais, que assistimos envolvem sempre dinheiro e mais dinheiro. Diz um dito de Ghana: «a boca ri, mas o dinheiro ri melhor». Os corruptos creem nesta ilusão.
Até hoje não achamos cura para esta ferida interior. Só podemos diminuir-lhe a sangria. Creio que, no termo, vale o método bíblico: desmascarar o corrupto, deixando-o nu diante da sua corrupção e a pura e simples expulsão do paraíso, quer dizer, tirar o corruptor e o corrompido da sociedade e metê-los na prisão. Por isso, acredito que as únicas promessas dos candidatos a qualquer eleição deviam ser sempre: «vou ser honesto, justo e transparente».

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