Sínodo da
família
A comunhão da missa é para pecadores e não para santos. E hoje em geral todas
as pessoas se abeiram da comunhão eucarística. Neste sentido não se entende
muito bem que entre cardeais e bispos que participam no Sínodo sobre a família
ainda ninguém tenha dito claramente nada sobre esta situação na Igreja,
especialmente, na europeia.
No entanto, não subestimo que há alguns
fiéis, se quisermos, mais informados sobre as «regras» que, em reserva de
consciência, se vão escudando da comunhão eucarística. Também reconheço que
outros ainda, o não fazem porque alguém lhes disse que era pecado ou porque,
mais grave ainda, viviam em pecado.
Por aqui não vislumbro que venha a
dar-se uma hecatombe se os cardeais e bispos sinodais vierem a dizer que os
casais separados, os recasados, os casados civilmente e os casais em união de
facto, afinal, podem todos comungar. Não será assim uma grande novidade nem
muito menos vai acontecer um tsunami, porque na realidade é já bem visível que
a comunhão acontece para todos quando lhes apetece. Quase nenhum padre se
atreve a dizer que não podem ou toma posições mais radicais ao ponto de
negar-lhes a comunhão. Há receio das consequências e é impossível saber-se de
todas as situações familiares, a não ser que seja junto de uma pequena aldeia
onde todos sabem da vida de todos. Nos meios urbanos é quase impossível e se
tivermos em conta o quanto as pessoas se mobilizam hoje ainda mais se torna
difícil essa vigilância.
Por isso, continuo a achar que o debate
em torno da família devia antes estar centrado no essencial, isto é, na importância
da família para a prosperidade da humanidade, o contributo imprescindível da
família para a construção das sociedades e para o futuro de todos nós.
Bastava-nos alguma doutrina concisa, clara e objectiva sobre estes dados,
quanto ao restante, deixemos isso à liberdade e autonomia das pessoas, dos
casais e das famílias. Seria importante um dia do Sínodo ser dedicado à
autonomia das pessoas e quanto prezam hoje pela sua liberdade de pensamento e
de acção.
Não se entende que um enorme grupo de
celibatário se tome no direito de impor regras e mais regras, metodologias
sobre como levar uma família para diante, a educação dos filhos, o jeito e a
forma como deve o casal conviver entre si... O que se constata é precisamente
isto, é difícil à mentalidade dos nossos tempos compreender que quem não saiba
nada sobre esta experiência tenha que se pronunciar sobre uma realidade que não
vive nem nunca experimentou. Tanto se badala que a experiência é um posto, pois
então, em que ficamos quanto a este assunto sobre a família? Sobre como ser casal,
família e filhos nenhum cardeal, bispo, padre pode arvorar-se de ter
experiência neste domínio...
O que vai acontecer é que perante tanta
conversa se fique com tudo na mesma. Aliás, venham ou não novidades sobre estes
aspectos da família, vamos ficar como os métodos contraceptivos artificiais que
alguma Igreja Católica continua repetindo, que são um «pecado» e os métodos
naturais é que são bons e queridos por Deus. Face a este dado os casais
católicos são os primeiros a reconhecerem que não têm em conta tal apelo e que não
ligam patavina ao que diz o clero.
Vá lá, membros do Sínodo, falem destas
coisas e acolham o pulsar da vida dos nossos dias e não se contaminem por um
passado que há muito que foi chão que deu uvas. Abram o vosso coração à enorme
riqueza de Deus nos tempos concretos de hoje, que se expressa claramente nos
casais crentes e não crentes.
1 comentário:
Caro presbítero José Luis, as minhas felicitações pelo seu raciocínio e pela sua coragem!Aposto que muitos das "suas redondezas" hão-de dizer "cobras e lagartos" se o lerem.A religião, como o futebol e a política, "constrói" fanáticos/doentes e não há nada a fazer por eles.DE facto, como se pode, um grupo de empedernidos solteirões, em nome de não sei bem o quê, decidirem sobre questões da família, do casamento?!Ao contrário da sociedade civil, a democracia é a pior forma de governo de uma religião...Como entender isto?!Abraço.
Enviar um comentário