Encíclica Laudato
Si...
A preciosa Encíclica do Papa Francisco já está aí nos escaparates. É preciso que se faça uma abundante e larga reflexão sobre este texto. A ninguém deve ficar indiferente este alerta do Papa, que a todos os homens e mulheres, crentes e não crentes, humanidade de boa vontade, convida a despertarem para o grave problema da ecologia. É a nossa casa comum que está ameaçada, é preciso salvá-la. Daí que o Papa nos convoque à participação no debate e depois de feita «a conversão ecológica», devemos estar bem conscientes para aquilo que à nossa medida podemos fazer para salvar a criação inteira. Sim, a criação inteira, porque o Papa com este texto inaugura um conceito de «ecologia integral», coisa que nenhuma autoridade tinha referido até agora. Aqui vos deixo dez frases compilados por Filipe d'Avillez da Rádio Renascença, que me parecem ser bem reveladoras quanto aos temas a que se referem no domínio da ecologia. Um aperitivo para nos aguçar o desejo de ler o texto na íntegra.
Por Filipe d'Avillez, In Rádio Renascença (18-06-2015)
A
encíclica do Papa Francisco fala de ecologia (podem ler AQUI a Encíclica na íntegra) e do cuidado pelo ambiente em todas as suas dimensões. Há espaço
reservado para questões mais claramente ecológicas, como o desperdício de
recursos e a poluição das águas, mas também para assuntos sociais, como o
aborto e o tráfico de pessoas e mesmo económicas. Veja aqui algumas das frases
mais marcantes.
Alterações climáticas
"Há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos
perante um preocupante aquecimento do sistema climático. Nas últimas décadas,
este aquecimento foi acompanhado por uma elevação constante do nível do mar,
sendo difícil não o relacionar ainda com o aumento de acontecimentos
meteorológicos extremos, embora não se possa atribuir uma causa cientificamente
determinada a cada fenómeno particular. A humanidade é chamada a tomar
consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de
consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o
produzem ou acentuam."
Água
"A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância,
porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas
terrestres e aquáticos. (…) Enquanto a qualidade da água disponível piora
constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para se privatizar este recurso
escas¬so, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado. Na realidade,
o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e
universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição
para o exercício dos outros direi¬tos humanos. Este mundo tem uma grave dívida
social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é
negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável."
Animais
"Embora o ser humano possa intervir no mundo vegetal e animal e fazer uso
dele quando é necessário para a sua vida, o Catecismo ensina que as
experimentações sobre os animais só são legítimas ‘desde que não ultrapassem os
limites do razoável e contribuam para curar ou poupar vidas humanas’. Recorda,
com firmeza, que o poder humano tem limites e que ‘é contrário à dignidade
humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das
suas vidas’. Todo o uso e experimentação ‘exige um respeito religioso pela
integridade da criação’."
Vida humana
"É evidente a incoerência de quem luta contra o tráfico de animais em
risco de extinção, mas fica completamente indiferente perante o tráfico de
pessoas, desinteressa-se dos pobres ou procura destruir outro ser humano de que
não gosta. (…) Uma vez que tudo está relacionado, também não é compatível a
defesa da natureza com a justificação do aborto. Não parece viável um percurso
educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às vezes, são
molestos e inoportunos, quando não se dá protecção a um embrião humano ainda
que a sua chegada seja causa de incómodos e dificuldades."
Relativismo
"A cultura do relativismo é a mesma patologia que impele uma pessoa a
aproveitar-se de outra e a tratá-la como mero objecto (…) É a mesma lógica que
leva à exploração sexual das crianças, ou ao abandono dos idosos que não servem
os interesses próprios. É também a lógica interna daqueles que dizem: “Deixemos
que as forças invisíveis do mercado regulem a economia, porque os seus efeitos
sobre a sociedade e a natureza são danos inevitáveis”. Se não há verdades
objectivas nem princípios estáveis, fora da satisfação das aspirações próprias
e das necessidades imediatas, que limites pode haver para o tráfico de seres
humanos, a criminalidade organizada, o narcotráfico, o comércio de diamantes
ensanguentados e de peles de animais em vias de extinção? (…) É a mesma lógica
do “usa e joga fora” que produz tantos resíduos, só pelo desejo desordenado de
consumir mais do que realmente se tem necessidade."
Dívida ecológica
"A desigualdade não afecta apenas os indivíduos mas países inteiros, e
obriga a pensar numa ética das relações internacionais. Com efeito, há uma
verdadeira “dívida ecológica”, particularmente entre o Norte e o Sul, ligada a
desequilíbrios comerciais com consequências no âmbito ecológico e com o uso
desproporcionado dos recursos naturais efectuado historicamente por alguns
países. As exportações de algumas matérias-primas para satisfazer os mercados
no Norte industrializado produziram danos locais (…) O aquecimento causado pelo
enorme consumo de alguns países ricos tem repercussões nos lugares mais pobres
da terra, especialmente na África, onde o aumento da temperatura, juntamente
com a seca, tem efeitos desastrosos no rendimento das cultivações. A isto
acrescentam-se os danos causados pela exportação de resíduos sólidos e líquidos
tóxicos para os países em vias de desenvolvimento e pela actividade poluente de
empresas que fazem nos países menos desenvolvidos aquilo que não podem fazer
nos países que lhes dão o capital. "
Conversão ecológica
"A crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior.
Entretanto temos de reconhecer também que alguns cristãos, até comprometidos e
piedosos, com o pretexto do realismo pragmático frequentemente se burlam das
preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mudar os
seus hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois, uma conversão
ecológica, que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia,
todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da
obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência
cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa."
Grito da Terra e grito dos pobres
"Muitas vezes falta uma consciência clara dos problemas que afectam
particularmente os excluídos. Estes são a maioria do planeta, milhares de
milhões de pessoas (…) hoje, não podemos deixar de reconhecer que uma
verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve
integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o grito
da terra como o grito dos pobres."
Demografia
"Em vez de resolver os problemas dos pobres e pensar num mundo diferente,
alguns limitam-se a propor uma redução da natalidade. Não faltam pressões
internacionais sobre os países em vias de desenvolvimento, que condicionam as
ajudas económicas a determinadas políticas de “saúde reprodutiva” (…) Culpar o
incremento demográfico em vez do consumismo exacerbado e selectivo de alguns é
uma forma de não enfrentar os problemas. Pretende-se, assim, legitimar o modelo
distributivo actual, no qual uma minoria se julga com o direito de consumir
numa proporção que seria impossível generalizar, porque o planeta não poderia
sequer conter os resíduos de tal consumo. Além disso, sabemos que se desperdiça
aproximadamente um terço dos alimentos produzidos, e «a comida que se
desperdiça é como se fosse roubada da mesa do pobre."
Economia
"A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se
aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando no bem comum,
hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se
coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana. A
salvação dos bancos a todo o custo, fazendo pagar o preço à população, sem a
firme decisão de rever e reformar o sistema inteiro, reafirma um domínio
absoluto da finança que não tem futuro e só poderá gerar novas crises depois
duma longa, custosa e aparente cura. (…) Convém evitar uma concepção mágica do
mercado, que tende a pensar que os problemas se resolvem apenas com o
crescimento dos lucros das empresas ou dos indivíduos. Será realista esperar
que quem está obcecado com a maximização dos lucros se detenha a considerar os
efeitos ambientais que deixará às próximas gerações?"
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