Enfim... Hoje é o último momento celebrativo da novena de São Roque, às 20 horas na Igreja de São Roque do Funchal... Todos estão convidados.
Nona Novena
Novena
dos Aliados
Hoje terminamos esta caminhada reflexiva
e celebrativa sobre a procura da luz. Não sei se vos serviu de alguma coisa? A
mim serviu para momento de oração e também serviu para perceber quanto pode ser
rica a reflexão sobre a luz. O nosso mundo precisa de luz e precisa, sobretudo,
que se faça luz sobre tudo o que ele contém de trevas.
Mas, deixemo-nos de rodeios e passemos à
escuta de mais alguns textos de mais alguns autores sobre a temática da luz.
António Mega Ferreira, termina o seu belíssimo texto, depois de passear a sua
pena por vários poetas, escultores e pintores, por exemplo, Sophia, João Cabral
de Melo, Rubens, El Greco, Don DeLillo entre outros. O seu texto termina com
esta pergunta, tirada de Don DeLillo: «Há estrelas mortas que ainda brilham
porque a sua luz ficou aprisionada no tempo. Como situar-se em face desta luz,
que, em bom rigor, não existe?» E continua: «Um homem quando vem da morte, diz,
ao rosto amado: minha luz». Provavelmente foi esta expressão que Cristo também
utilizou quando depois da morte, ao terceiro dia, aparece às mulheres e aos
Apóstolos cheio de luz. Não terá o mesmo sentido a expressão que Cristo
utiliza: «Dou-vos a minha paz...»? – Ao rosto que Cristo ama, que são todos os
seus discípulos, revela-lhes a luz e deseja-lhes paz. Esta é a expressão máxima
do amor divino feito história concreta.
Por outro lado, dado que «só o poema
contém a luz que nos faz ver», apresento o poema de Octavio Paz, «Este Lado»:
«Há luz. Não lhe tocamos nem vemos. / Nas suas vazias claridades / repousa tudo
o que vemos e tocamos. / Eu vejo com as pontas dos meus dedos / o que os meus
olhos apalpam: / Sombras, mundo. / Com as sombras traço mundos, / dissipo
mundos com as sombras. / Ouço palpitar a luz do outro lado». O poema
apresenta-se como é a festa da luz. O poeta ora perturbado com as sombras do
mundo, ora angustiado porque a vida perde-se na azáfama do agora, mas, ao mesmo
tempo, sente que do outro lado a luz está e é essa certeza que o anima. Esta
mensagem é fabulosa. Para nós serve, para entender que a vida faz-se nas
sombras, «com as sombras faço mundos», mas não me quero esquecer que do outro
lado a luz palpita, para me encher de alegria e felicidade.
As imagens de Noronha da Costa, pintura
construída à luz da vela e com a luz da vela, são quadros fantásticos, que nos
remetem para o eterno das coisas. A penumbra construída pela luz da vela são
sombras, mas o centro revelado pela luz que brilha é o palpitar da eternidade.
Na penumbra dos dias devemos perceber que o futuro está já aqui nesse brilho da
luz, mesmo que seja uma singela e humilde vela.
Perante esta embalagem descobrimos um
texto muito belo de Hugo Gonçalves, que diz assim: «Toda a Matéria é
Combustível». Repare-se, então, na beleza das suas palavras: «Sentamo-nos no
passeio, esperando o final das chamas. Estaremos assim, próximos, no mesmo
lugar, cada vez menos. Quando amanhecer, trocaremos apertos de mão em vez de
beijos, como fazem os adultos. Mas por enquanto, continuaremos aqui, esperando
a luz do sol que elimina a tristeza, sorrindo sempre que acertamos com pedras
nas janelas que resistem ao fogo». Muito interessante. Sempre pensei que a
tristeza nada é perante a luz do sol. Por isso, não gosto dos dias sombrios,
tristes e muito menos gosto da noite. Pois, venha o sol para iluminar os dias e
acabar sempre com o terror da noite. Já o ilustre amante da pobreza radical, São
Francisco de Assis, ensinou na sua oração: «a noite é irmã gémea da manhã».
Então face a esta realidade da vida e ao
medo que possa provocar qualquer elemento do universo, da natureza e da vida,
«Venha mais Luz» como pedia João Lima Pinharanda, porque é o que cada um pode
pedir quando o escuro da vida o persegue.
Mas, também vamos ao encontro de um
texto extraordinário de José Augusto Mourão. No início do seu texto descobre-se
uma citação muito sugestiva de Mestre Echkart, que diz assim: «Não poderia ver
bem a luz que brilha sobre o muro se não voltasse os olhos para onde ela jorra.
E mesmo aí, se a capto onde ela jorra, preciso de ser libertado desse jorrar;
devo captá-la tal como ela plana em si mesma. E mesmo assim direi que não deve
ser assim. Não a posso captar nem no seu contacto nem no seu jorrar nem mesmo
quando plana em si mesma, porque tudo isso é ainda um modo. É preciso captar
Deus como um modo sem modo, como um ser sem ser, porque não há modo». Agora
parece estarmos perante uma procura da luz que se identifica mais com a
presença de Deus. Pois, esse é o caminho, procurarmos a luz para vermos Deus,
mesmo que seja na penumbra dos dias e na escuridão da noite que a vida também
ás vezes oferece.
José Augusto Mourão, estrutura o seu texto
da seguinte forma, primeiro que tudo, lá está um título muito enriquecedor,
repare-se: «Diante do sal que nos olhos luz». Desde logo somos levados à
Palavra do Evangelho, quando Jesus proclama: «Vós sois o sal da terra»; «vós
sois a luz do mundo». Porém, o autor divide em quatro partes o seu texto:
primeiro, «Habitar»; segundo, «O espelho do mundo»; terceiro, «desvendar»;
quarto, «Coda». Mas olhemos para cada uma das expressões.
1. Habitar, é «A morada para o homem o
domínio aberto à presença do Deus (do insólito)». Tenho dito. A habitação de
cada pessoa é o lugar por excelência da presença de Deus. A ideia da casa ou da
habitação como lugar da intimidade com Deus é sempre reincidente em muita
literatura.
2. O espelho do mundo, aí se reflecte o
sentido da vida. Basta procurar e acolher o reflexo de Deus presença constante.
3. Desvendar, é a tarefa da luz. 4.
A palavra Coda, é um túmulo sobre o qual se celebra o
encontro com o divino. Para nós cristãos, foi a partir do túmulo que se
percebeu que o corpo ali depositado tinha entrado na luz. Por isso, no fim
desta caminhada celebro convosco que para toda a vida e para todas as vidas a
verdadeira oferta da luz é a Ressurreição.
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