O Jesus que passa saúda, cumprimenta,
acolhe, cura, perdoa e aceita convite para entrar na casa dos piores da
sociedade. Vemo-lo com Madalena, a prostituta; com Zaqueu, o publicano (cobrador
de impostos), o centurião romano, com os pobres, com os doentes (leprosos,
cegos e endemoninhados). Uma série de gente de quem o Evangelho nos dá conta.
Ao lado ficavam na sua os fariseus, que Jesus chamará de hipócritas, túmulos
caiados, raça de víboras… Porque se mantinham na doutrina, intransigentes ao pé
da letra e agarrados ao poder que dominava impondo fardos pesados aos outros,
os quais eles não eram dignos de lhes tocar sequer com a ponta de um dedo.
Resumidamente, é este o ambiente do
Evangelho do Jesus que passa. Hoje o Jesus que passa está em cada homem e cada
mulher que pautam as suas vidas pela compaixão, pela verdade e pela justiça.
Sabem desde o primeiro momento quando descobriram o Evangelho que passar ao
modo de Jesus é saber ver a realidade tal como ela se apresenta e nela reparar
que há pessoas que sofrem, que morrem, que são marginalizadas, excluídas da comunhão
ou friamente descartadas porque algo falhou nas suas vidas. Por causa das
tricas e laricas relacionadas com o matrimónio, há uma multidão enorme de
divorciados da Igreja, excluídos ou que se auto excluíram ou porque foram
postos aí fora da mesa do pão da salvação, porque alguém tinha uma doutrina que
aceita só puros. Tudo ao contrário do Evangelho, que não se inibe de ensinar
que quem mais precisa é quem está doente. Até porque claramente Jesus se apresenta
para os manchados, os pecados e contra os considerados salvos, puros. Não serve
andar com Deus na boca e o diabo no coração.
Tudo isto vem a propósito do
pronunciamento do Papa Francisco ontem na Ala da Sala Paulo VI no Vaticano
sobre os que se divorciaram no matrimónio e que alguma Igreja Católica
imediatamente os divorciou da comunhão. Disse o Papa Francisco que os divorciados
que se voltaram a casar «são parte da Igreja e não devem ser tratados como
excomungados».
Pode ser que o Sínodo marcado para
Outubro deste ano da graça de 2015, pejado de altos dignatários eclesiásticos
(cardeais e bispos de todo o mundo) venha a dizer o contrário e até votarem
contra isto como fizeram comodamente os «pilatos» dos bispos portugueses, que
se esconderam por detrás de votos sobre questões que se deve tratar com toda a
transparência e lealdade. A família não pode ser objecto de votos. É o que é e ponto final.
Porém, se o Sínodo decidir o contrário
daquilo que o Papa já afirmou cai em saco roto, ninguém ligará patavina, a não
ser os eternos fariseus que antes preferem fixar-se na segurança da doutrina e
na letra da lei, contra os ventos do Espírito Santo que sopra livre com o
discorrer do tempo, da vida e do mundo.
Ontem será um dia histórico e marcou
este dia o Papa Francisco, porque ele é Jesus que passa, encolhendo os ombros
compassivos diante dos fariseus que ficam. Por nós, preferimos seguir o Papa
Francisco e faremos tudo para que a luz da misericórdia e do amor de Deus
esteja com todos para que ninguém se sinta descartado ou excluído da salvação.
Esperemos então que toda a Igreja, especialmente, aquela que lida com o
concreto das pessoas, tenha em conta esta palavra do Papa. Até porque vem sendo
hábito na Igreja que a palavra do Pontífice marca o ritmo dos tempos pastorais.
Senhores cardeais e bispos, esperemos que este pronunciamento do Papa seja
«palavra da salvação». Não fora ele a «Sua Santidade», como gostam tanto de
referir quando fazem as vossas homilias e discursos.
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