Continuamos à procura da luz. Hoje na Igreja de São Roque às 20 horas...
Sétima Novena
Novena da Mocidade
Este
é um grande desafio da nossa existência. Saber escolher a melhor parte, para
que a felicidade e o sentido da vida sejam uma realidade muito forte no coração
de cada homem e mulher. A humanidade não é feliz e continua enterrada na
miséria porque não encontra a melhor parte. É preciso descobrir qual é a
sabedoria que nos conduz à verdadeira escolha. A melhor parte depois de
descoberta nunca mais lhe será tirada.
Sempre
senti uma grande simpatia e encanto particular pelo episódio contado por São
Lucas no Seu Evangelho. Diz assim o autor com a sua delicadeza cirúrgica
referindo-se a Jesus: «Estando em viagem, entrou num povoado, e certa mulher,
chamada Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, ficou sentada
aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra. Marta estava ocupada pelo muito
serviço. Parando, por fim, disse: ‘Senhor, a ti não importa que minha irmã me
deixe assim sozinha a fazer o serviço? Diz-lhe, pois, que me ajude’. O senhor,
porém, respondeu: ‘Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas;
no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só importa. Maria, com
efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada’» (Lc 10, 38-42).
Também
o realizador Fassbinder me fez pensar nesta passagem da Escritura, quando vi o
seu filme magnífico «Marta». Nessa ocasião senti que o realizador tinha rezado
este momento da vida pública de Jesus.
A
questão que se coloca é a de se saber escolher a melhor parte na vida e para a
vida. Mas, qual será o conteúdo da melhor parte? A melhor parte terá de ser uma
descoberta pessoal e única para cada pessoa. Só Deus na pessoa de Jesus, pode
identificar-se como sendo a melhor parte, mais nenhuma criatura reúne condições
para impor o que quer que seja a ninguém. A melhor parte é sempre Deus e a Sua
Palavra.
A
partir destes pressupostos, vamos tentar delinear alguns aspectos que nos
ajudem a descobrir a melhor parte. Antes de mais, é preciso perceber o carácter
incondicional na nossa vida. Muito da vida de cada um de nós assenta nessa
base. A incondicionalidade deve ser uma constante em todas as opções. Por isso,
nada deve perturbar a escolha das opções que se pretenda realizar, para que
sejam verdadeiras e sinceras todas as escolhas.
Toda
a escolha implica uma renúncia. A nossa vida está cheia desta experiência.
Quantas escolhas foram feitas e que depois implicaram elevados sacrifícios e
renúncias incontáveis? Desta realidade está cheia a vida deste mundo e não nos
parece que tal seja uma desgraça, mas antes, uma riqueza extraordinária que se descobre
no coração da humanidade.
A
ideia de escolha de Deus é muito diversa da nossa ideia de escolha. Para nós a
escolha implica muitas considerações vantajosas, pessoais e para o âmbito
familiar. Deus escolhe de modo distinto. Na Sua ideia de escolha não está
presente a exclusão de ninguém. Deus chama e escolhe alguns para que todos se deem
conta de que são amados. A base da escolha de Deus é sempre o amor não apenas
por alguns, mas o amor por todos.
Neste
sentido, aprendemos agora que as nossas escolhas teriam outro valor e outro
sentido se estivessem sempre como base o amor. As opções pelo matrimónio ou
pela vida religiosa de modo especial, não acertam, por vezes, porque não estão
fundamentadas naquilo que é essencial. Deste modo, feita a escolha, faço a
fundamentação não em mim e nas minhas convicções pessoais, mas em Deus. A Sua
Palavra e o Seu amor por todos fundamentam a minha escolha. Por causa desta
certeza São Paulo ensinou o seguinte: «Depois disto, que nos resta dizer? Se
Deus está connosco, quem estará contra nós? (...) Pois estou convencido de que
nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o
futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra
criatura poderá separar-nos do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus , nosso
Senhor» (Rm 8, 31; 38-39).
Muitas
vezes estamos habituados a pensar que a escolha trás consigo a ideia de
perfeição e a santidade. Nada disto devia acercar-nos o pensamento. A escolha
surge para melhor servir a todos e dar testemunho que Deus ama a todos de forma
incondicional.
Porque
pensamos de modo distinto desta visão, quando surgem as críticas menos
simpáticas, logo aparece o desprezo, as caras macambúzias e com raiva contra
tudo e contra todos. Tudo isto acontece nos grupos humanos quando o sentido da
escolha não está assente no serviço e na total disponibilidade, por isso, a
escolha muitas vezes cria pequenos ditadorzinhos soberbos sem cabeça. Saber
escolher é essencial e sentir-se escolhido com humildade também não é menos
essencial.
Termino
com a ideia de que o sentimento de pertença não pode confundir-se com o
sentimento de posse. Se pertenço à família, à empresa, à escola, à paróquia ou
Igreja, devo saber estar e exercer a minha função sem qualquer sentimento de posse.
A pertença mútua entre Deus e o seu povo, não se manifesta em termos de
sentimentos de posse, nem ninguém é propriedade de ninguém. Tudo está em função
do amor e nada está contra o amor.
Quem
ama não põe condições. Simplesmente escolhe a melhor parte porque se sentirá
feliz e porque é feliz saberá como corresponder para a felicidade dos outros.
Porque soube escolher a melhor parte com sabedoria e inteligência, logo desde o
início da sua procura definiu conscientemente que nem tudo o que luz é ouro.
Sem comentários:
Enviar um comentário