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terça-feira, 11 de agosto de 2015

No debate/diálogo nasce a luz

Seguimos analisando, reflectindo e celebrando o tema da luz... Hoje será assim às 20 horas na Igreja de São Roque...
Sexta Novena
 Novena da Cruz
 Como não poderia deixar de ser para melhor fundamentarmos e compreendermos esta ideia da luz como consequência do debate de ideias, vamos à Sagrada Escritura e vemos logo palavras interessantes sobre o que é e quem é a luz. A luz, como criatura maravilhosa da Natureza, é símbolo de Deus: «O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam» (Jo 1, 4-5).
Por meio de Cristo, também Ele luz, «o Verbo era luz verdadeira que ilumina todo o homem... Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque as suas obras eram más... «De novo Jesus lhes falava: ‘Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida’... ‘Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo’» (Cf. Jo 1,9; 3, 19; 8, 12; 9, 5). A luz brilha nos nossos corações, «...para os incrédulos, dos quais o deus deste mundo obscureceu a inteligência, a fim de que não vejam brilhar a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus... Por quanto Deus, que disse: ‘Do meio das trevas brilhe a luz, foi ele mesmo que reluziu nos nossos corações, para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo» (2 Cor 4, 4.6).
Somos convidados a ser luz do mundo. Reparemos no apelo formidável de Mateus: «Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte» (Mt 5, 14). Por isso, Lanço-vos um desafio, imaginemos como seria a nossa cidade sem luz elétrica… Imaginemos a nossa casa sem luz elétrica. Depois ensaiemos o sentido e o significado de tal escuridão face ao esplendor da luz.
Passadas as principais citações sobre a luz nos textos do Novo Testamento, vamos agora ao encontro de outras expressões e palavras que nos revelam, em síntese, a necessidade da luz ou então de como devemos aprender que a nossa vida sem luz é um castigo terrível. Uma agonia insuportável. Porque o diálogo nunca seria possível nem muito menos saborearíamos o que deriva do debate e do diálogo das ideias.
A definição de Mário Assis Ferreira é interessante, a luz «é um anseio». Mais acrescenta ainda, como palavra final, que encerra o desejo da luz para sempre no coração de todos: «E só as trevas não cabem nessa luz». Porque antes tinha dito que há «...uma luz necessariamente branca: porque o branco é harmonia, a síntese de todas as cores». A expressão poética revela que a vida não tem sentido sem a luz. Por isso, todos precisam da luz interior que conduza para o sentido da vida e com ele nos revelem o esplendor do prazer que pode ser uma vida em cada pessoa. Com a luz a vida é uma festa. Sem a luz a vida não tem gosto. É uma perdição.
Por isso, desejamos a luz para cegueira do mundo, que neste tempo ganhou contornos universais. As trevas do ódio, da fome, a imigração/emigração que hoje ganha contornos dramáticos (por isso, ficou dito o seguinte na opinião de Vicente Jorge Silva: «Que Europa é esta onde seres humanos são reduzidos a gado – ameaçados de morrer no mar, assaltados por cães ou fechados dentro de cercas?») e da guerra saneiam a vida e todas as obras que a humanidade a custo procura «dar à luz».
João Magueijo, engendrou um conto interessante de um jovem que deseja escrever livros e publicá-los, por isso, vai para a cidade, «porque na cidade se encontra a luz». Mas na procura frenética para encontrar um título para o seu livro, encontrou um que lhe diz tudo e assim ficou sendo chamado o seu primeiro romance: «Dar à luz». O autor do conto remata finalmente o seguinte, concordando com o título criado pela sua personagem: «E, mais uma vez, esperaria que a luz singular das suas palavras cintilasse, por fim, sobre a cegueira universal». Eu também quero crer nisso mesmo.
Alexandre Melo mostrou como numa sala escura podemos ouvir a música e como podemos entrar na luz, mesmo que rodeados pelas mais densas trevas. A luz mais importante não é a exterior, mas a de dentro, a que vem de dentro e conduz depois para dentro. No interior descobre-se a luz verdadeira. Por isso, repare-se na beleza das palavras: «Viu que estava no interior de uma sala ricamente decorada. Olhou para o seu lado direito e a luz nascente permitiu-lhe distinguir, entre céus azuis, brisas verdes e suaves arvoredos, um casal de jovens enamorados contemplando uma carta e um outro rapaz que aliciava uma rapariga com a oferta de uma flor... À medida que a luz ia revelando a sala, percebeu que podia dar vida, cor e movimento a todas estas cenas e personagens». E da vida simples do quotidiano, pode nascer a mais rica e intensa luz. Basta procurar e deixar que dessas coisas da vida ecoem os brilhos de tudo o que existe de positivo, a luz. 
O Manuel Alegre mostrou que «Uma luz só luz». E em apenas uma luz descobrimos uma pequenina luz, que é «Uma pequenina luz» do poema de Jorge de Sena que dizia assim: «Uma pequenina luz bruxuleante e muda / como a exactidão como firmeza / como a justiça. / apenas como elas. / Mas brilha. / Não na distância. Aqui / no meio de nós. / Brilha». Depois percebemos todos com Manuel Alegre que esta «pequenina luz», era «em todas as línguas do mundo» a luz da esperança. E ainda acrescenta o autor de «Cão como nós»: «A mesma sobre que já tinha escrito Stephan Zweig, quando em plena guerra, nos dias do desespero e do opróbrio, prestou homenagem a Romain Rolland: «Este pequeno ponto luminoso, este astro delicado / a esperança / brilhava sobre os homens oprimidos». Não pode dizer mais, porque basta-me esta luz, a luz da esperança para sentir a vida e Deus tão perto do meu coração.

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