A comunicação social noticiou ontem que
na Audiência Geral com os bispos portugueses, no contexto da visita que estão a
efectuar ad limina apostolorum (em português: «visita aos túmulos dos Apóstolos»),
em Roma no Vaticano, o Papa Francisco em cinco frases alertou para o seguinte:
«Vejo com esperança crescer a sinodalidade como opção
de vida pastoral nas vossas igrejas particulares».
- Um tema que mereceu um dia de reflexão e debate no
Simpósio do clero que se realizou recentemente em Fátima.
A meu ver isto relaciona-se com o que o Papa Francisco,
na sua última visita à América Latina, denunciou quanto às ideologias: «Sim,
sim, tudo pelo povo. Nada com o povo. Isto são as ideologias». Tantas vezes é
assim a linguagem da Igreja Católica, «tudo pelo povo. Nada com o povo». É
preciso inventar formas que conduzam a Igreja Católica para o caminho da
sinodalidade, isto é, uma Igreja viva, em festa animada com todos e para todos,
cuja transparência e a vontade de diálogo são uma prioridade. Já começou, mas
ainda falta muito caminho a percorrer.
«A Igreja que vive em Portugal é uma Igreja serena,
guiada pelo bom senso, escutada pela maioria da população e pelas instituições
nacionais, embora nem sempre seja seguida a sua voz».
- Neste âmbito falta fazer-se aquilo que o Simpósio do
clero várias vezes insistiu, é preciso ter medo apenas de ter medo. O medo
remete a Igreja para um reduto e tem feito com que não esteja no mundo acompanhando
o pulsar concreto dos homens e mulheres da sociedade portuguesa deste tempo. O
excesso de diplomacia que revelam ter alguns dos nossos bispos, a linguagem
anacrónica, descarnada e os interesses puramente mundanos, estão a fazer muito
mal à Igreja e a fazer com que ela não seja escutada. Não diz nada de nada
sobre a vida de hoje e por isso especialmente os jovens voltam as costas aos
pruridos e à falta de humanidade que a burocracia desmedida da Igreja Católica
vai apresentando.
3. «Exorto-vos a prosseguir no caminho de uma
constante e metódica evangelização, bem convictos de que uma formação
autenticamente cristã da consciência é de extrema e indispensável ajuda também
para o amadurecimento social e para o verdadeiro equilíbrio do bem-estar de
Portugal».
- Elementar, que não se descuide este alerta e que a
Igreja seja capaz de inventar metodologias novas para seduzir as pessoas no
caminho do sentido da vida e a se empenharem na construção social do bem comum
e da justiça. Os pronunciamentos dos bispos sobre a situação actual da
sociedade portuguesa têm sido quase nulos. Alguém tem ouvido muita coisa dos
bispos sobre o desemprego, sobre a austeridade, sobre a loucura dos impostos,
sobre a desigualdade social, sobre a falta de humanidade, sobre a violência
especialmente a doméstica, sobre a intolerância, sobre a xenofobia que cresce
como lume atiçado com pólvora? - Estes apenas alguns dos muitos dramas que
assolam a sociedade portuguesa nos nossos dias.
4. «Não pode deixar de nos preocupar a todos a
debandada da juventude (…) Perguntemo-nos: a juventude deixa, porque assim o
decide? Decida assim porque não lhe interessa a oferta recebida? Não lhe
interessa a oferta porque não dá resposta às questões e interrogativos que hoje
a inquietam?» - Este é um assunto muito inquietante. Obviamente, que nos
preocupa os jovens. São eles o futuro, são eles o amanhã.
Tantos deles simplesmente divorciam-se da Igreja,
esperam ansiosos pelo sacramento do Crisma para só voltarem à Igreja para
baptizar os filhos ou serem padrinhos. Por enquanto é assim, dias virão em que
nem isso.
A meu ver os métodos e os conteúdos catequéticos são
os principais responsáveis. O Crisma devia ser dado no início da adolescência,
depois disso deviam ser canalizados os que quisessem serem integrados em grupos
de jovens, voltados para uma prática qualquer, por exemplo, escuteiros,
caridade ou outras actividades relacionadas com a vida das comunidades.
Os jovens quando acabam os dez anos de catequese estão
mais que fartos e desejando ardentemente de se verem livres deste fardo que é a
catequese. Basta contactar um pouco com eles para vermos como andam mais que
cheios de tudo o que diga respeito à vida da Igreja. Nem sequer têm
predisposição para escutar o que quer que seja.
5 «Precisamos de conferir dimensão vocacional a um
percurso catequético global que possa cobrir as várias idades do ser humano, de
modo que todas elas sejam uma resposta ao Deus que chama».
- O ideal será isto. Mas é preciso ter coragem para
mudar tudo. Espero que os túmulos de São Pedro e de São Paulo refresque o
coração dos pastores portugueses e se deixem inspirar pelos ventos do Espírito
que faz novas todas as coisas, se em nós existir vontade para nos guiarmos por
isso.
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