com alguns comentários,
mensagens e partilhas de notícias bombásticas que vão denegrindo a dignidade
dos povos árabes. Não se compreende que entre nós tal aconteça.
O povo da expansão
e de tantos surtos migratórios que foram fazendo a nossa história tem que ter
outro espírito face aos outros povos. A nós é exigido que sejamos acolhedores e
que não tenhamos medo das diferenças culturais e especialmente, da cultura
árabe que tanto contribuiu para sermos o que somos em termos da nossa língua e
costumes. Não
devemos responder à mesma medida contra aquilo que criticamos e repudiamos, mesmo
que o seja pela palavra. Há palavras que são bombas que ferem e matam mais do
que as bombas propriamente ditas. Por todos os lugares há fundamentalismo e o seu consequente terrorismo.
Porém,
há duas vertentes que nos ajudam a compreender esta reação tão acintosa contra
a vinda de refugiados sírios para o nosso país e particularmente para a Madeira.
A
primeira vertente prende-se com o impulso humano que nos leva a reagir contra a
barbárie infligida pelo Estado Islâmico (ISIS). Este grupo de criminosos, nado
e criado pelas políticas expansionistas e armamentista da América e de alguns
países da Europa, é o principal responsável por esta aversão do Ocidente contra
os povos árabes e contra a religião Islâmica. A sua mensagem insistente de que
desejam conquistar o mundo e destruir a cultura ocidental tem sido duro de se
engolir. Também as imagens que a comunicação social vai passando daquelas
figuras sinistras a decepar cabeças ou a esmagar bebés, fazem nascer dentro de
nós uma repulsa terrível. Perante a barbárie facilmente caímos na
generalização.
A
segunda vertente está relacionada com a injustiça da austeridade que os
governos europeus submeteram os seus cidadãos. As pessoas no geral andam irritadas
e intolerantes, porque caíram no desemprego, estão sufocadas com a carga de
impostos, os nossos jovens qualificados tiveram que deixar o seu país para
encontrarem trabalho, a vida tornou-se muito difícil para a maioria dos
cidadãos.
Mais
ainda somos também confrontados com imagens não menos terroristas de listas
infindáveis de pessoas à porta dos centros de emprego, à porta dos locais onde
se distribui refeições, os sem abrigo que vagueiam pelas nossas ruas aumentam todos os dias e são imensas as famílias que sobrevivem ao abrigo da
caridade alheia, as paróquias não têm mãos a medir para socorrerem as
necessidades que vão chegando, os idosos estão desamparados sem condições para
tratarem da saúde, porque as suas reduzidas pensões estão a ser tenteadas para
ajudar os filhos, os netos que ficaram sem apoio nenhum e desempregados.
Perante
tudo isto não é fácil acolher os que vêm de fora, mesmo que sejam vítimas de
criminosos e da guerra, porque salta à vista imediatamente o que temos dentro
de portas, que são igualmente situações dramáticas a precisarem de apoio humanitário
também.
Ora
todo este ambiente é adverso à solidariedade, à amizade com os outros, ainda
mais se nos chegam de culturas tão diferentes da nossa. Porém, nada disto pode
justificar a xenofobia, o racismo e a islamofobia no caso.
Não
suporto que se generalize ao ponto de se considerar que todos os árabes são
fundamentalistas terroristas e que a religião que eles professam apela à guerra
e à morte dos infiéis. Tudo isto está errado e não justifica a nossa recusa. A
ignorância é terrível quando se torna a mestra das piores reações das pessoas.
Assim,
como cidadãos responsáveis, cientes de que o único caminho do mundo é a paz, a
justiça, os direitos humanos e a igualdade dos povos, devemos pensar que antes
de qualquer justificação que nos prenda a compaixão e a solidariedade, devemos
responder prontamente à solidariedade perante o sofrimento humano e exigirmos
que os governos sejam responsáveis, deixem de enriquecer à conta do negócio das
armas e façam tudo o que esteja ao seu alcance para que se resolva tudo o que
fez rebentar com os países de origem destes refugiados.
Se assim não for, esta desgraça será imparável e nós não teremos
condições materiais para dar resposta às cada vez mais prementes e urgentes
necessidades que o mundo apresenta.
4 comentários:
Muito bem!Um comentário lúcido, humanista e generoso e na autentica tradição cristã.
Muito bem!Um artigo com uma visão lúcida e humanista de uma verdadeira tradição cistã.
Muito bom e cheio de razão. As pessoas falam por medo e ignorância, não conseguem discernir o que é fugir à guerra e à tortura e passar dificuldades num país em crise como o caso de Portugal. É comparar o incomparável.
Carradas de razão!
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