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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O choque cultural e a violência

Obviamente que também estou chocado com alguns comentários, mensagens e partilhas de notícias bombásticas que vão denegrindo a dignidade dos povos árabes. Não se compreende que entre nós tal aconteça. 
O povo da expansão e de tantos surtos migratórios que foram fazendo a nossa história tem que ter outro espírito face aos outros povos. A nós é exigido que sejamos acolhedores e que não tenhamos medo das diferenças culturais e especialmente, da cultura árabe que tanto contribuiu para sermos o que somos em termos da nossa língua e costumes. Não devemos responder à mesma medida contra aquilo que criticamos e repudiamos, mesmo que o seja pela palavra. Há palavras que são bombas que ferem e matam mais do que as bombas propriamente ditas. Por todos os lugares há fundamentalismo e o seu consequente terrorismo.  
Porém, há duas vertentes que nos ajudam a compreender esta reação tão acintosa contra a vinda de refugiados sírios para o nosso país e particularmente para a Madeira.
A primeira vertente prende-se com o impulso humano que nos leva a reagir contra a barbárie infligida pelo Estado Islâmico (ISIS). Este grupo de criminosos, nado e criado pelas políticas expansionistas e armamentista da América e de alguns países da Europa, é o principal responsável por esta aversão do Ocidente contra os povos árabes e contra a religião Islâmica. A sua mensagem insistente de que desejam conquistar o mundo e destruir a cultura ocidental tem sido duro de se engolir. Também as imagens que a comunicação social vai passando daquelas figuras sinistras a decepar cabeças ou a esmagar bebés, fazem nascer dentro de nós uma repulsa terrível. Perante a barbárie facilmente caímos na generalização.
A segunda vertente está relacionada com a injustiça da austeridade que os governos europeus submeteram os seus cidadãos. As pessoas no geral andam irritadas e intolerantes, porque caíram no desemprego, estão sufocadas com a carga de impostos, os nossos jovens qualificados tiveram que deixar o seu país para encontrarem trabalho, a vida tornou-se muito difícil para a maioria dos cidadãos.
Mais ainda somos também confrontados com imagens não menos terroristas de listas infindáveis de pessoas à porta dos centros de emprego, à porta dos locais onde se distribui refeições, os sem abrigo que vagueiam pelas nossas ruas aumentam todos os dias e são imensas as famílias que sobrevivem ao abrigo da caridade alheia, as paróquias não têm mãos a medir para socorrerem as necessidades que vão chegando, os idosos estão desamparados sem condições para tratarem da saúde, porque as suas reduzidas pensões estão a ser tenteadas para ajudar os filhos, os netos que ficaram sem apoio nenhum e desempregados.
Perante tudo isto não é fácil acolher os que vêm de fora, mesmo que sejam vítimas de criminosos e da guerra, porque salta à vista imediatamente o que temos dentro de portas, que são igualmente situações dramáticas a precisarem de apoio humanitário também.
Ora todo este ambiente é adverso à solidariedade, à amizade com os outros, ainda mais se nos chegam de culturas tão diferentes da nossa. Porém, nada disto pode justificar a xenofobia, o racismo e a islamofobia no caso.
Não suporto que se generalize ao ponto de se considerar que todos os árabes são fundamentalistas terroristas e que a religião que eles professam apela à guerra e à morte dos infiéis. Tudo isto está errado e não justifica a nossa recusa. A ignorância é terrível quando se torna a mestra das piores reações das pessoas.
Assim, como cidadãos responsáveis, cientes de que o único caminho do mundo é a paz, a justiça, os direitos humanos e a igualdade dos povos, devemos pensar que antes de qualquer justificação que nos prenda a compaixão e a solidariedade, devemos responder prontamente à solidariedade perante o sofrimento humano e exigirmos que os governos sejam responsáveis, deixem de enriquecer à conta do negócio das armas e façam tudo o que esteja ao seu alcance para que se resolva tudo o que fez rebentar com os países de origem destes refugiados.
Se assim não for, esta desgraça será imparável e nós não teremos condições materiais para dar resposta às cada vez mais prementes e urgentes necessidades que o mundo apresenta. 

4 comentários:

A.Brandão Guedes disse...

Muito bem!Um comentário lúcido, humanista e generoso e na autentica tradição cristã.

A.Brandão Guedes disse...

Muito bem!Um artigo com uma visão lúcida e humanista de uma verdadeira tradição cistã.

Rita Freitas disse...

Muito bom e cheio de razão. As pessoas falam por medo e ignorância, não conseguem discernir o que é fugir à guerra e à tortura e passar dificuldades num país em crise como o caso de Portugal. É comparar o incomparável.

José Leite disse...

Carradas de razão!