Afinal o que é mentir? – Segundo o dicionário
que me acompanha há muitos anos diz o seguinte para o verbo mentir: «afirmar
como verdadeiro o que se sabe ser falso; enganar». Para a mentira diz: «afirmação
contrária à verdade; embuste». E para mentiroso: «Que engana; que foge à
verdade; enganador, ilusório, mendaz; falso. Que tem o hábito de mentir».
Nos
tempos da minha adolescência era costume visitar os doentes em grupo. Lá
fomos a casa de uma senhora acamada porque somava já uma longevidade
fora do comum. Um dos meus companheiros atreveu-se a
pronunciar algumas palavras sobre a circunstância, o que nos fez rir a todos.
Mas, logo de imediato todos se calaram perante o rosto de raiva que a pobre
anciã nos mostrou. As suas dores e a sua agonia não a cegaram de todo, pelo
contrário, olhou fixamente para o nosso companheiro de brincadeiras e
sentenciou que os seus dentes raleados diziam tudo: dava mentiras que arreavam
castanheiros.
Não sei
se a dentuça quer dizer alguma coisa, que culpa terá alguém que a natureza o
tenha presenteado com uma distribuição de dentes mais raleados. Porém, era isto
que se dizia de quem tinha dentes ralos pregava mentiras que arrancavam
castanheiros. Quer isto dizer que haverá sempre uns que mentem mais do que os
outros e que alguns, tenham dentes assim ou assado, não sabem falar nem viver
sem mentir descaradamente.
No nosso
tempo, torna-se difícil definir em que lugares nos situam e pior ainda se torna
mais
difícil perceber verdadeiramente onde está a mentira.
Afinal, resta saber quem mente mais e quem nos engana mais. Uma armada muito
difícil de mover face à confusão generalizada entre o que é verdade e o que é
mentira.
As fronteiras são muito ténues. Porque, tendo em conta que se liga pouco a
princípios éticos, então mais fácil se torna dizer verdade pela manhã e pela
tarde desdizer o que eventualmente era verdade e passar a ser mentira ou
vice-versa.
A
política hoje
é um albergue de mentirosos que nos confundem
diariamente. Não sabemos quem diz a verdade. Por exemplo, se um determinado
partido está no poder tudo corre maravilhosamente e se defeitos existirem a culpa é sempre dos outros. Se de repente o
partido que governa passou à oposição, tudo está mal e quem governa não faz
nada de jeito e o que foi da sua responsabilidade afinal já não é. A verdade
não vale nada, não tem lugar e a mentira marca o ritmo da vida e das posições
que cada um dos políticos ocupa naquele momento. Não parece, mas tudo isto contagia
em muito a vida social e a familiar.
Estamos assim. O debate está centrado
nisto: é mentira, está a mentir, são todos uns mentirosos, não diga mentiras… A
melhor defesa é apelidar o interlocutor de mentiroso.
O mais certo então é que este jogo sobre
a mentira propaga-se pelos meios de comunicação social fica a
fazer e a ser a opinião dos cidadãos que se deixam enganar como presas que se
encantaram com o delicioso engodo. A mentira comanda o dia-a-dia como uma
necessidade de sobrevivência. É um pão que se serve fresco em cada manhã da
vida social.
E assim anda a nossa
vida e o mundo entregue ao domínio do jogo da mentira e dos mentirosos. Será
que é disso que precisamos para a sobrevivência? – Espero bem que não…
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