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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Aplanar os vales e abater as montanhas

Breve reflexão para a missa deste 2º domingo do tempo do Advento
João Baptista é a voz que clama no deserto a revolução de Deus: «Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas». A voz do Filho de Zacarias, está na senda do profeta Isaías que proclama o sonho de Deus, que consiste na grande revolução que Deus deseja levar a cabo. A nós, cabe-nos prepararmo-nos para a mudança a transformação da vida, a nossa vida e a deste mundo. Não pode ser impossível fazer do mundo um lugar de paz e de saudável convivência sem prejudicar ninguém, mas fazendo tudo para todos serem felizes à nossa volta. Se me dizem que isto é impossível, então, atraiçoamos a inteligência e o engenho que nos foram dados. Não podemos amordaçar o melhor da humanidade.
Diz assim o Profeta: «No monte Sião, o Senhor do universo prepara para todos os povos um banquete de carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos, carnes gordas e saborosas, vinhos velhos e bem tratados»; «Aniquilará a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces, e eliminará o opróbrio que pesa sobre o seu povo, sobre toda a nação». É o sonho, o desejo, a vontade de Deus, que ecoa sobre os telhados dos tempos pela voz dos profetas.
Até porque Origines, o cristão do séc. II, confirmou que «cada um o que era antes de ter fé; e constatará que era um vale profundo, a pique, mergulhado nos abismos». Mais ainda adianta o pensador cristão Origines que «todos os vales podem ser aplanados. Eles podem ser aplanados com as boas obras e os frutos do Espírito Santo. A caridade não deixa subsistir em ti vale algum e, se possuíres a paz, a paciência e a bondade, para além de deixares de ser um vale, também começarás a ser uma montanha de Deus.
Esta urgência de Deus, nada tem a ver com a lógica dos poderes instalados deste mundo, porque não procuram o bem para todos. Os poderes actuais do mundo estão todos ao serviço dos interesses de grupos económicos e seguem a lógica do mercado. É o lucro e as mais-valias do dinheiro que movem os poderes. Mas logo se segue uma multidão imensa de pobres, porque esta lógica assenta na injustiça e no açambarcamento dos bens da natureza de forma desregrada, para fixar-se numa «economia que mata» (Papa Francisco). Por isso, há algo terrível, que vamos vendo através dos enormes sinais desastrosos assentes nos enormes desequilíbrios humanos, espirituais, sociais e ambientais a humanidade não tem futuro.
As várias cimeiras temáticas, não levam a conclusões nem levam as nações a compromissos sérios na construção do bem comum. Porque não se acaba com o escândalo da fome no mundo? Porque não se distribui a riqueza de forma partilhada, para que toda a humanidade pudesse sobreviver condignamente? - Faz falta mudar atitudes e deixar de criar subterfúgios comodistas. A mudança implica sempre expressar acções concretas de justiça e de fraternidade, é o único modo de nos preparamos para a vinda de Jesus.
Precisamos de um mundo justo, preocupado com o bem para todos. Só a vida doseada com alguma espiritualidade poderá levar-nos à felicidade, que implica transformação, mudança concreta.

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