Blogue Fénix do Atlântico de Luís Calisto |
Nada me satisfaz mais do que ver
protestos nas nossas ruas, precisei de mais de trinta ou quarenta anos para
saber o que era um protesto a sério. Sim, isso mesmo, um protesto a sério,
repito. Tudo funcionava baixinho, mesmo que as razões para protestar fossem
muitas, porque havia empregos para salvaguardar ou algum filho ou neto para
encaixar na máquina. Por isso, protestos com cartazes e gritos estridentes eram
só na televisão feitos no Continente ou em algum país do mundo.
Agora não, já existem protestos à
semelhança dos de lá de fora com cartazes, faixas com dizeres e gritos contra
os responsáveis que devem responder pelas necessidades reclamadas. Nada mais
justo e salutar em democracia, desde que o respeito por uns e por outros não
saia beliscado.
Vamos então ao barulho. Começo a reparar
que na nossa terra reclama-se muito só por determinados barulhos. Os ruídos
relacionados com a religião e agora os ruídos dos bares na Zona Velha do
Funchal. Obviamente, que se compreende o incómodo. Ninguém gosta de ver o seu
descanso perturbado altas horas da noite. Mas que o faça também com as
situações e não apenas naquelas que diz respeito ao seu terreiro e ao aconchego
do seu egoísmo.
Parece que há protestos cuidadosamente preparados
por gente que procura saciar a sua vingança e lançar a desordem só porque sim. Se
assim não fosse teria que haver protestos por tanta situação nesta cidade muito
mais ruidosa e prejudicial para um número muito maior de cidadãos do que aqueles
que eventualmente se sentem lesados com o ruído da Zona Velha.
Alguns exemplos, a desgraça das ribeiras
e as lacunas nos hospitais, nas escolas de onde veio a última sobre o
descalabro da colocação de professores.
Mas, vamos ao barulho com os protestos
dos moradores da Zona Velha. Quem se lembra da zona velha não de há muito
tempo, sabe que aquilo estava numa grande tristeza, com edifícios degradados,
lixo e misérias de toda a ordem antes das várias requalificações levadas a
efeito naquela zona da cidade. Agora tem movimento, tem restaurantes, bares,
tascas que levam lá pessoas de todas as idades e melhor ainda não faltam por lá
os turistas, que são a joia da cora. É óbvio, que tem ruído e quiçá outros males
também igualmente degradantes e perturbadores. Mas qual é o progresso que não
trás consigo coisas boas e coisas más? – Por isso, lembro algo que não é
novidade nenhuma, as entidades que devem dar resposta às queixas dos habitantes
daquela zona e de todas as zonas da cidade, devem ser absolutamente exigentes
no cumprimento da lei, especialmente, a lei do ruído. Nada de facilitismos nem
muito menos deixar andar os abusos.
Aos que andam a alimentar
estes protestos cirúrgicos, carregados de interesses e de simbolismo, é melhor
começarem a ver também outras situações muito mais graves para futuro noutras
pontas da vida dos cidadãos e façam vir daí protestos e manifestações contra todas
as entidades sejam elas de que cor for. Nada é mais salutar e importante para a
maturidade democrática que tanto almejamos.
1 comentário:
Certamente!
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