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quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Deus e eu

Primeiro «Deus e eu» de 2018 com a locutora de rádio, Antena 1, nossa conterrânea ou a «nossa menina da rádio», Noémia Gonçalves. Bem vinda e obrigado pelo seu banquete tão sentido e tão pensado acerca do tema de Deus... Maravilhoso manjar!
Como grande parte dos miúdos da minha geração, tive uma educação católica, com tudo o que isso implicava: catequese, missa aos domingos, oração ao anjo da guarda e até "ameaças" relativamente às coisas que fazíamos e que o "Jesus" podia não gostar... Passaram muitos anos, e a minha relação com Deus mudou, talvez consequência da perda da inocência. Agora que me pedem para pensar nela, acho que é tal qual a que temos com os pais: nos primeiros anos não questionamos, entre os 6 e os 10/12 usamo-los em nossa defesa, na adolescência queremos manter uma certa distância, algum tempo após sairmos de casa já só sentimos saudades do conforto que a mesma nos proporcionava, e quanto mais velhos ficamos mais pensamos neles… Olhando para trás acho eu e Deus já passamos por todas estas fases. Não será a declaração mais politicamente correta, mas é a mais sincera que consigo fazer. Na última década, muitas vezes aproveitei a Sua não resposta para verbalizar a minha raiva perante as situações (de morte) em que me senti absolutamente impotente e injustiçada. Será um ato de ingratidão ou falta de fé, ou apenas reflexo de uma relação que temos com os que nos são mais próximos e que são quem mais facilmente apanha com o nosso mau feitio? Não sei responder! Certo é que iniciei este texto tantas vezes, porque não sabia como dar-lhe corpo, e a cada linha que escrevo mais percebo que é-me particularmente difícil falar deste sentimento, chegando mesmo a praticar um dos pecados mortais- inveja, de outros tantos que li no Banquete, tão elegantes, sem dúvidas, sem interrogações... Voltando ao desafio inicial "Deus e eu", eu cresci no lado católico da família, de uma família com várias fações religiosas que a determinada altura entraram em conflito. Se calhar por isso percebi que qualquer que seja o deus, o credo, a religião, nunca deverá servir para dividir, mas para unir... Não era raro estar na mesma semana com o Padre Sá e com o Pastor Jorge Gameiro (duas pessoas admiráveis). Digamos que foi-me muito fácil lidar com as diferenças e perceber que as semelhanças eram bem maiores que qualquer divergência na forma de assistir ao momento de oração: ambos pregavam a paz, o amor, a solidariedade, a humanidade no seu melhor, e acredito que o mesmo acontecia na terceira religião da família, mas essa esteve durante mais tempo, demasiado tempo, fechada em si! Não consigo atingir o objetivo do desafio lançado pelo Padre José Luis Rodrigues- verbalizar esta relação, mas aproveito para dizer-te: Deus, disseram-me que eras omnipresente e defensor dos mais fracos (em todos os credos), e lamento por vezes passar das marcas contigo, mas talvez por estares exausto de tanta asneirada, andas muito distraído e a confiar no bom senso da humanidade! Só que precisamos de uma ajuda! Olha por nós, envia os teus anjos, reúne os santos porque da forma como estão as coisas precisamos da "tropa toda" no planeta Terra (enquanto ele ainda existe com toda a sua beleza e diversidade). Um dia, se os céus permitirem, teremos todo o tempo do infinito para me explicares porque afinal a tua grande e inteligente obra, o homem, não conseguiu sair dos primórdios da evolução em determinados patamares.

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