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quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Pesar e vergonha

O discurso do Papa Francisco ao chegar ao Chile, no Palácio de La Moneda perante as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático, vincou bem a sua posição quanto aos abusos contra crianças, que têm motivado alguns protestos e ataques contra igrejas ou dependências da Igreja Católica do Chile e até mesmo contra a pessoa do Papa Francisco.

Está bem assinalada a expressão, "pesar e vergonha", com o respetivo pedido de perdão. Ao mencionar numa parte do discurso sobre as crianças, o Papa expressou o seu pesar e vergonha diante dos casos em que elas foram lesadas por ministros da Igreja: "Não posso deixar de exprimir o pesar e a vergonha que sinto perante o dano irreparável causado às crianças por ministros da Igreja. Desejo unir-me aos meus irmãos no episcopado, porque é justo pedir perdão e apoiar, com todas as forças, as vítimas, ao mesmo tempo que nos devemos empenhar para que isso não volte a repetir-se". A determinação do Papa é evidente e o apelo para que toda a Igreja e a sociedade não se descuidem e façam tudo para que os abusos não se repitam e deixem de existir.

Este tema tem sempre uma cruel actualidade. Os abusos contra crianças, venham de onde vieram, são um crime e devem ser punidos com todo o rigor da lei e da justiça. O Papa Francisco, quando se trata de abusadores membros do clero, sempre tem manifestado o seu pesar e vergonha com o consequente pedido de perdão às vítimas e as suas famílias, sem esquecer que devem existir as devidas investigações e o julgamento nos tribunais. Mais ainda se deve salientar que as medidas e as suas determinações no interior da Igreja têm sido duras para serem aplicadas contra os padres abusadores. Neste domínio a Igreja Católica tem sido exemplar.

Porém, os abusos são transversais à sociedade e tem surgido denúncias dos mais inverosímeis abusadores.  A comunicação social todos os dias nos dá conta de situações de abusos sexuais contra crianças. Eles são os próprios pais, tios, vizinhos, padrastos, professores, padres e tantas situações tão surpreendentes que nos deixam boquiabertos quando os tomamos conta de que os abusadores estão nos mesmos espaços que as crianças abusadas. Uma verdadeira tragédia que não parece ter fim à vista. É por isso, que não teremos a real dimensão desta violência e que deve ser incalculável o sofrimento atroz que passam algumas crianças todos os dias sem que venha a ser travada a sua dor e os abusadores devidamente penalizados. 

É necessária uma luta sem tréguas contra esta desgraça que nos impressiona e revolta cada vez com mais frequência. Algo anda mal se apesar de serem cada vez mais denunciados os abusadores e alguns punidos severamente, mesmo assim, ainda não conseguimos travar os abusos e os abusadores.

Todos sentimos dor e pesar. Mas é necessária uma luta constante contra todo o género de abusos que conduzem ao sofrimento das crianças indefesas. É preciso apostar na educação a todos os níveis, especialmente, numa educação para a sexualidade integrada, com respeito e dignidade. Se a tragédia é transversal à sociedade, a luta pertence à sociedade toda, porque a ninguém devidamente educado e ciente do mal deixa de sentir a dor daqueles que o rodeiam quando são vítimas da loucura perversa de alguns, especialmente, se são as crianças.

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