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domingo, 8 de abril de 2012

É possível o Cristianismo sem Igrejas?

Nota: Texto de opinião publicado no Dnotícias, Domingo de Páscoa, 08/04/2012, «Sinais dos Tempos»...
O não respeito pela liberdade cristã é fruto de líderes que estão preocupados consigo mesmos (destaque Dnotícias)
Uma questão complexa. Sobre a qual não encontramos resposta fácil. Se dissermos que não, deparamo-nos com uma vasta maioria que se afastou das igrejas e agora procura viver a sua fé sem qualquer ligação a estruturas eclesiásticas e dizem-se satisfeitos, felizes com a fé que professam desligada de estruturas eclesiásticas. Se dissermos que sim, tornamos inútil uma imensa doutrina sobre as igrejas, que remonta aos Evangelhos, às Epístolas de São Paulo, à vasta e riquíssima doutrina dos Grandes Santos Padres da História do Cristianismo e toda a riquíssima doutrina produzida pelos eminentes teólogos ligados às igrejas cristãs.
Há uma desilusão com as estruturas eclesiásticas. As pessoas não entendem nada de nada das estruturas eclesiásticas e das suas denominações. A nomenclatura e estrutura das igrejas é totalmente anacrónica e as designações que se lhes aplica nada diz às mulheres e homens dos nossos tempos. Quantos são os que sabem o que é o Papa, os Bispos, os Padres (sem falar dos diversos títulos anacrónicos e injustamente atribuídos aos membros da hierarquia), os Concílios, os Sínodos, os Presbitérios, as Congregações, os Movimento e toda a nomenclatura que se apregoa na linguagem das igrejas que só serve para consumo interno? - Sem esquecer todos esses nomes que as igrejas utilizam como se toda a gente soubesse deste vocabulário. As estruturas estão carregadas de regras ou estatutos rígidos que estão na cabeça dos líderes e quase sempre desconhecidos dos membros que compõem os diversos conjuntos. Por fim, resta o povo simples que é tratado como fiel, a quem é pedido que obedeça e dê esmolas silenciosamente. Nada tem a dizer da escolha dos membros que irão liderar as comunidades. Basta-lhes serem «ovelhas» que se deixam conduzir.
Outra grande desilusão é com as lideranças eclesiásticas. Esta desilusão acontece, porque as pessoas costumam encontrar igrejas paradoxais, isto é, opostas umas às outras. Em algumas, deparam-se com líderes das igrejas demasiadamente retóricos, carregados de regras absurdas que não levam a lado nenhum. Não cativam ninguém e especialmente os mais jovens. Alie-se a tudo isto a grande desilusão que as pessoas têm com líderes que abusaram de crianças, fizeram roubos e falcatruas além da falta de transparência quanto ao uso dos recursos financeiros, que pertencem a todos e não apenas a alguns privilegiados. Porque são chamados a serem Igreja todos os fiéis apenas em alguns aspectos e noutros não, por exemplo, neste das finanças e do património que ainda é muito vasto nas igrejas?
O principal mal que leva à debandada foi ou é a maldição do inferno e o poder pelo poder. O tempo dos pastores que amaldiçoam já devia ter passado, a humanidade de hoje está mais esclarecida, pensa pela sua própria cabeça e tem consciência do que é a liberdade e a autonomia. E mais se aprende que «O poder é a maior tentação, porque, como disse quem sabe - Henri Kissinger -, ele é o maior afrodisíaco: o gozo de subordinar e dobrar as vontades alheias à sua própria vontade, ao seu domínio. No limite, o desejo de ser Deus, concebido como Omnipotência. De facto, omnipotentes, seríamos imortais, pois mataríamos a morte (Anselmo Borges, DN - 3 de Março de 2012). E como lembrou há dias o cónego Rui Osório, já Santa Catarina de Sena prevenia: os servidores do Papa, umas vezes são "ninho de anjos"; outras, um "covil de víboras". Quem diz do Papa, diz para todo o género de autoridade na Igreja… Neste esquecimento da fraternidade, principal razão de ser do Cristianismo, radica que os principais responsáveis pela debandada estão dentro das igrejas e não fora como tantas vezes se pensa e apregoa - o Papa Bento XVI já assumiu isso.
Por fim, a liberdade cristã que se recebe da Páscoa de Jesus Cristo, renova-nos na consciência de que somos mulheres e homens livres para viver no amor. Nada é mais contraditório no discurso e na linguagem das igrejas. O amor só vale se for descarnado e sem implicação concreta. O «amor a Deus» é que é, mas acima das nuvens. Porém, queremos crer que existem os que aprenderam a ser livres e que descobriram que a vida cristã é feita de liberdade em Cristo, e que Cristo é a regra e o padrão para todos; aqueles que aprendem que tudo lhes é lícito, mas nem tudo lhes convêm, e que aceitam submeter-se ao jugo de Cristo apenas, já não conseguem pôr o seu pescoço em cabrestos de homens. Aceitam o jugo de Cristo, não o de homens.
Quando o não respeito pela liberdade cristã não acontece, é fruto de líderes que estão preocupados, não com o bem-estar da igreja, mas consigo mesmos. Crentes maduros em Cristo possuem uma percepção da vida cristã mais elevada e estão cada vez mais a fugir das grandes prisões da fé. Daí que a aversão às igrejas tomou tal rumo que não sabemos onde vai parar. Que Jesus Cristo ressuscitado nos ajude! Boa Páscoa para todos.
José Luís Rodrigues

1 comentário:

maria disse...

sem grandes surpresas ou sobressaltos, encontro algumas sintonias neste seu texto, com aquilo que penso da Igreja.

Feliz Páscoa para si na alegria da vida nova.