Comentário à missa deste domingo
V do tempo da Quaresma, domingo 22 março de 2015
O
grão de trigo lançado à terra morre para depois rebentar cheio de vida nova,
para dar muito fruto. Esta imagem do trigo que morre ao ser lançado na terra
para nascer de novo, é uma alusão à morte de Jesus. O próprio Jesus anuncia a
sua morte e que ela é necessário acontecer para que a glorificação seja depois
uma realidade.
A
glorificação é sinónima de ressurreição. Nos textos da missa deste Domingo,
Jesus Cristo fala-nos do tipo de morte que vai sofrer. Embora se descubra que
esta morte é inevitável, ela acontecerá para que do escuro do sem sentido da
morte todos sejam atraídos para a vida nova (ressuscitada) que emerge do
coração do Deus Pai/Mãe. Por isso, o autor do texto de Hebreus afirma de forma
categórica que Cristo «tornou-se para todos os que lhe obedecem causa de
salvação eterna», pressupondo que, o contrário será incorrer na condenação
eterna.
Mas,
não nos fixemos apenas nas coisas da outra vida. Vamos tentar acolher que a
ressurreição pode ser algo que se experimenta agora e não apenas depois da
morte física. Uma vida dedicada ao serviço dos outros é já uma vida que
participa na ressurreição. Outras vidas constantemente viradas para o egoísmo,
o rancor e o ódio são vidas que não participam na ressurreição e enquanto não
houver arrependimento e conversão nunca haverá lugar para a ressurreição ou
glorificação. E dizer estas palavras (ressuscitar e glorificar) é o mesmo que
dizer felicidade e alegria.
A
não participação na ressurreição implica estar só e apenas voltado para os bens
deste mundo ou sempre empenhado na recusa daquilo que edifica a felicidade para
todos. Por isso, diria que a ressurreição é o encontro com a paz do coração que
Deus concede a todos os seus filhos.
A
ressurreição é a partilha do amor de forma desinteressada e com total
disponibilidade para servir a causa do Evangelho de Cristo, que consiste em
procurar sempre fazer deste mundo um lugar orientado pela ética, pela
honestidade, pela paz e pela fraternidade.
Foi
por causa dessa necessidade de sermos vida em doação constante que o Papa
Francisco afirmou a propósito do martírio do bispo Óscar Romero: «dar a vida
não significa ser morto: dar a vida, é ter espírito de martírio, é dar-se no
silêncio, na oração, no cumprimento honesto do dever; dá-se a vida pouco a
pouco, no silêncio da vida quotidiana, como a dá a mãe que, sem medo, com a
simplicidade do martírio materno, dá à luz, amamenta, ajuda a crescer e cuida
de seu filho com carinho» (foi uma citação do Papa Francisco a 7/01/2015 de
Óscar Romero).
Assim,
glorificar-se é estar já na dinâmica do acontecer de Deus. No fundo, será
essencial nunca recusar a possibilidade do amor como condição essencial da
descoberta da vida partilhada para o bem de todos. Perante este valor da
salvação eterna que Jesus nos oferece, porque será tanto o medo sobre a morte?
- O medo da morte comanda ainda tanto o coração da humanidade porque falta
acreditar profundamente neste mistério que Jesus veio trazer para junto de
todos nós. A morte humana, é apenas uma passagem para a plenitude da vida
ressuscitada. Somos levados a concluir que a morte cristã é a passagem para a
vida verdadeira. Nada nos deve fazer temer a morte. Se alimentamos a vida
terrena com a fé na pessoa de Jesus, a morte não é uma derrota mas a vitória
final que nos coloca nos braços misericordiosos de Deus Pai.
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