Cultura geral
A iconografia da cidade está também
ligada à lenda segundo a qual, na era do Imperador Diocleciano, o governador
romano de Valência, Publius Dacianus, teria martirizado o diácono Vicente, do
bispado de Saragoça, em 304 d.C. O corpo do mártir teria sido abandonado ao ar
livre, para que fosse devorado pelos animais selvagens. Contudo, narra a lenda,
que o corpo foi guardado por um anjo que teria assumido a forma de um corvo,
conservando assim intacto o corpo do diácono, batendo-se com os animais que o
tentavam devorar. Furioso, o governador teria mandado recolher o corpo para que
fosse lançado ao mar. Contudo, o corpo do mártir tornou a dar à costa, sendo
recolhido por cristãos que o sepultaram em Valência, tornando-se esse sepulcro
lugar de amplas romarias e notáveis milagres.
A conquista muçulmana de 711 provocou
uma vaga de destruição nos locais mais sagrados da cristandade na Península.
Para protegerem o túmulo de São Vicente, os cristãos locais removeram os
despojos do santo do túmulo em Valência e levaram-no de terra em terra, em fuga
dos exércitos muçulmanos até que por fim chegaram ao cabo de São Vicente, no
Algarve (Sagres), que então era conhecido como o “Promontório dos Corvos”, em
virtude do grande número de corvos que então aí vivia. É a partir da transladação
dos restos mortais do santo que o Cabo adquire o nome de São Vicente.
Depois da conquista de Lisboa, Afonso
Henriques – segundo a lenda, já que historicamente esse local se encontrava
ainda sob domínio islâmico – manda em 1176 que as relíquias do santo sejam
transferidas para Lisboa, para sacralizar a cidade. As relíquias de São Vicente
são depositadas na Igreja de Santa Justa e Rufina e só em 1755, depois do
Terramoto é que foram transferidas para a Sé Catedral, tornando-se então São
Vicente no Santo Padroeiro da cidade.
Diz a lenda que dois corvos as teriam
acompanhado na viagem até Lisboa e que os seus descendentes viveram numa das
torres da Sé até meados do século XVIII. Simbolicamente, o Corvo é um signo
muito rico: vale pelo guia espiritual, recordando o papel que estas aves tinham
nos navios medievais, que por vezes transportavam um corvo, soltando-o quando
perdiam a vista de terra, e seguindo-o. O Corvo e a barca (com o santo) que
guarda aludem também à arca de Noé, salvaguarda perante as ameaças da natureza.
E à “viagem”, ou transformação espiritual induzida pela fé e devoção religiosa.
In Ruralea.com
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