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quarta-feira, 15 de abril de 2015

A sociedade da aparência


O cardeal-patriarca de Lisboa, no discurso de abertura da 186.ª assembleia plenária do organismo episcopal da Conferência Episcopal Portuguesa, que decorre até esta quinta-feira em Fátima, utilizou a seguinte expressão: «evite-se trocar causas por casos». É sintomática e significativa a expressão que está no meio da frase onde faz apelo aos partidos e candidatos às próximas eleições legislativas que «apresentem propostas concretas e consistentes para a resolução dos problemas que enfrentamos».
Ontem circulou na internet uma frase de Eduardo Galeano, falecido a semana passada que dizia: «Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus». Vivemos um vazio preocupante, que perpassa todas as dimensões da vida. Daqui deriva o desrespeito pela vida, pela dignidade do outro enquanto alteridade que deve impor-se a nós com o direito absoluto de existência. Estamos a perder por completo esse respeito absoluto pela vida do outro.
Hoje mata-se uma pessoa por coisa nenhuma. A crueldade está por todo o lado. Confirma a sentença latina: «Homo homini lupus (o homem é o lobo do homem). No século XVII esta máxima foi popularizada pelo filósofo francês Thomas Hobbes. Na sua obra «Leviatã», explicou os seus pontos de vista sobre a natureza humana. Aí define com clareza que cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos (bellum amnia omnes). Associado a esta idiossincrasia da natureza humana, mergulhamos na sociedade da aparência a todos os níveis, que nos tem conduzido à crueldade e à desgraça da violência por coisa nenhuma.
Neste sentido, emerge um tempo numa sociedade onde vale mais a forma do que o conteúdo. A dimensão política das sociedades está cheia de exemplos onde os casos são mais importantes do que as causas. Os maus exemplos de falta de respeito pela diversidade e pela diferença chegam-nos de todos os quadrantes da vida social. Tudo isto contribui para a ditadura da aparência e para a ideia que o conta é safar-se seja a que preço for, mesmo que isso implique tirar a vida a alguém. Não passa um dia que não tenhamos uma ou mais notícias sobre pessoas que são barbaramente assassinadas com métodos inverosímeis por coisas perfeitamente banais.
Por aqui não vamos lá. Precisamos de uma sociedade equilibrada, que faça do respeito pela vida a base da convivência, onde nunca se pode esquecer, a tolerância, o perdão e a paciência.

1 comentário:

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

Padre José Luís Amigo e Irmão, estamos completamente nublados. Os problemas são tantos nas nossas "idiossincrasias", pelas quais não temos uma "bússula" que nos oriente o por quê das nossa vidas. Mulheres e homens actuais, querem o seu bem-estar, o seu conforto. Tudo muito bem"! Desde que, tudo isso, seja extensível a todas e a todos as outras e outros. Ser cristão é estar aberto aos sofrimentos de todas e de todos . Sem essa solidariedade, tal como no domingo passado nos Actos dos Apóstolos: se nada fôr em comum ou a favor de uma verdadeira comunidade humana. Se tivermos a particularidade e o egoísmo que isto é somente meu, do meu país, da minha família e do meu grupo, nada feito. A EUCARISTIA DO SENHOR RESSUSCITADO - o do SERMÃO DA MONTANHA o das "BEM-AVENTURANÇAS" do MAR À SERRA, as nossas palavras são inócuas e o nosso testemunho é, indubitavelmente, anémico.