O Bom Pastor
Comentário à missa domingo IV Tempo Pascal, 26 abril de 2015
O
4º domingo da Páscoa é considerado o «domingo do Bom Pastor», neste preciso
domingo a liturgia propõe uma passagem do capítulo 10 do Evangelho de São João,
no qual Jesus se apresenta como «Bom Pastor». Este é o tema central para a
nossa reflexão e celebração neste dia.
O
mais importante é que com esta ideia do «Bom Pastor», sentimo-nos todos filhos de
Deus. Esta filiação radica em Jesus, que veio ao mundo para realizar a obra
maior da história humana. Nós, humanidade englobada neste processo, somos agora
membros desta grande família de Deus. Os filhos de uma fraternidade que marcha
a partir do Deus revelado por Jesus Cristo e que caminha na História em
direcção à eternidade que se encontra na «casa» deste Deus. Por mais
desgraçados que sejamos, não somos órfãos nem muito menos «filhos das
varas verdes», mas filhos no Filho do Deus revelado na história humana.
Nós
precisamos e é bom que nos digam sempre que somos filhos de Deus. A solidão que
o sofrimento desta vida provoca precisa de uma palavra que nos anime na
esperança de uma realidade consoladora a partir de um Deus que nos ama como
seus filhos.
Por
isso, São João desafia-nos a estender os braços, como faz o Bom Pastor com as
suas ovelhas, a todos os recantos da vida. Onde a doença consome a vida e
debilita o corpo, podemos aquecer o coração dessas vítimas com a nossa palavra
de esperança e tocar bem fundo com esta certeza, o nosso Deus é um Deus Pai-Mãe
da humanidade inteira e ama de modo especial todos aqueles e aquelas que
experimentam a dor como alimento desta vida.
Podemos
nós lutar contra a injustiça, que o nosso mundo alimenta e dá como alimento a
tantos irmãos nossos. A nossa filiação divina devia encorajar-nos e escandalizar-nos
contra tudo o que não promova a vida em todo o seu esplendor. Tudo o que seja
contra a felicidade devia receber de nós uma luta constante.
Somos
filhos de Deus e nesta condição devemos estar atentos a tudo o que não é
felicidade. Deus deseja que tomemos consciência da nossa condição e logo depois
colocá-la em prática, deixando o nosso egoísmo e comodismo de parte para nos
devotarmos à vida partilhada para o bem de todos.
Por
fim, termino com uma breve explicação sobre o sentido da filiação de Jesus e a
nossa condição de filhos de Deus.
Em
última instância Deus é nosso pai-mãe, porque é nosso criador. Mas de criaturas
de Deus passamos a filhos adoptivos de Deus pelo Baptismo. Somos, portanto,
propriedade de Deus, somos filhos adoptivos de Deus, por isso mesmo, filhos
amados de Deus. No Antigo Testamento usa-se para o povo de Israel a expressão «Filho de Deus» (Ex 4,22) e cada um dos seus membros como «Filho
de Deus» (Dt 14,1). No Novo Testamento, São Pedro proclama Jesus como Filho
do Deus vivo (Mt 16,16). Porém, Jesus parece preferir chamar-se de «Filho
do Homem», que equivale a «Messias» (Mt 26,64). Jesus está unido
ao Pai pela filiação divina, mas ele quis ser igual a nós em tudo, menos no
pecado. Por isso, ele, nascendo de Maria, é o «Filho do Homem» também. Assim, por ser verdadeiro homem ele pode nos libertar do pecado e
garantir para nós a filiação divina também. Há uma frase que resume bem a
salvação que Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nos trouxe. A frase é
esta: «O Filho de Deus se fez homem, se fez Filho do Homem, para que o homem
fosse filho de Deus».
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