O Papa Francisco na homilia da Missa Crismal de Quinta feira Santa... Serviu para meditação nesta manhã. De algumas coisas (muitas) confesso humildemente o meu pecado... E de outras alegro-me que Deus me tenha inspirado a tentar estar a vivê-las.
Linda reflexão... Aqui apresento algumas passagens, quem desejar ler na integra pode fazê-lo AQUI. O que nos faltou por destes lados veio pela voz do maior profeta dos nossos tempos, o Papa Francisco.
«Não são tarefas fáceis, não são tarefas
externas, como, por exemplo, as actividades manuais: construir um novo salão
paroquial, ou traçar as linhas dum campo de futebol para os jovens do oratório,
etc. Os compromissos mencionados por Jesus envolvem a nossa capacidade de
compaixão: são compromissos nos quais o nosso coração estremece e se comove.
Alegramo-nos com os noivos que vão casar; rimos com a criança que trazem para
baptizar; acompanhamos os jovens que se preparam para o matrimónio e para ser
família; entristecemo-nos com quem recebe a extrema-unção no leito do hospital;
choramos com os que enterram uma pessoa querida... Tantas emoções! Se tivermos
o coração aberto, estas emoções e tanto carinho cansam o coração do pastor.
Para nós, sacerdotes, as histórias do nosso povo não são um noticiário:
conhecemos a nossa gente, podemos adivinhar o que se passa no seu coração; e o
nosso, sofrendo com eles, vai-se desgastando, divide-se em mil pedaços,
compadece-se e parece até ser comido pelas pessoas: tomai, comei. Esta é a
palavra que o sacerdote de Jesus sussurra sem cessar, quando está a cuidar do
seu povo fiel: tomai e comei, tomai e bebei... E, assim, a nossa vida
sacerdotal se vai doando no serviço, na proximidade ao povo fiel de Deus, etc.,
o que sempre, sempre cansa.
Gostaria agora de partilhar convosco alguns cansaços,
em que meditei.
Temos aquele que podemos chamar «o cansaço do povo, o
cansaço das multidões»: para o Senhor, como o é para nós, era desgastante –
di-lo o Evangelho – mas é um cansaço bom, um cansaço cheio de frutos e de
alegria. O povo que O seguia, as famílias que Lhe traziam os seus filhos para
que os abençoasse, aqueles que foram curados e voltavam com os seus amigos, os
jovens que se entusiasmavam com o Mestre… Não Lhe deixavam sequer tempo para
comer. Mas o Senhor não Se aborrecia de estar com a gente. Antes pelo contrário,
parecia que ganhava nova energia (cf. Evangelii gaudium,
11). Este cansaço habitual no meio da nossa actividade é uma graça
que está ao alcance de todos nós, sacerdotes (cf. ibid., 279). Como é
belo tudo isto: o povo amar, desejar e precisar dos seus pastores! O povo fiel
não nos deixa sem actividade directa, a não ser que alguém se esconda num
escritório ou passe pela cidade com vidros escuros. E este cansaço é bom, é um
cansaço saudável. É o cansaço do sacerdote com o cheiro das ovelhas, mas com o
sorriso de um pai que contempla os seus filhos ou os seus netinhos. Isto não
tem nada a ver com aqueles que conhecem perfumes caros e te olham de cima e de
longe (cf. ibid., 97). Somos os amigos do noivo: esta é a nossa alegria.
Se Jesus está apascentando o rebanho no meio de nós, não podemos ser pastores
com a cara azeda ou melancólica, nem – o que é pior – pastores enjoados. Cheiro
de ovelhas e sorriso de pais... Muito cansados, sim; mas com a alegria de quem
ouve o seu Senhor que diz: «Vinde, benditos de meu Pai!» (Mt 25, 34).
Existe depois aquele que podemos chamar «o cansaço dos
inimigos». O diabo e os seus sectários não dormem e, uma vez que os seus
ouvidos não suportam a Palavra de Deus, trabalham incansavelmente para a
silenciar ou distorcer. Aqui o cansaço de enfrentá-los é mais árduo. Não se
trata apenas de fazer o bem, com toda a fadiga que isso implica, mas é preciso
também defender o rebanho e defender-se a si mesmo do mal (cf. Evangelii gaudium,
83). O maligno é mais astuto do que nós e é capaz de destruir num
instante aquilo que construímos pacientemente durante muito tempo. Aqui é
preciso pedir a graça de aprender a neutralizar (é um hábito importante:
aprender a neutralizar): neutralizar o mal, não arrancar a cizânia, não
pretender defender como super-homens aquilo que só o Senhor deve defender. Tudo
isto nos ajuda a não deixarmos cair os braços à vista da espessura da
iniquidade, frente à zombaria dos malvados. Eis a palavra do Senhor para estas
situações de cansaço: «Tende confiança! Eu já venci o mundo» (Jo 16,
33). E esta palavra dar-nos-á força.
E, por último (último, para que esta homilia não vos
canse demasiado!), há também «o cansaço de nós próprios» (cf. Evangelii gaudium,
277). É talvez o mais perigoso. Porque os outros dois derivam do
facto de estarmos expostos, de sairmos de nós mesmos para ungir e servir (somos
aqueles que cuidam). Diversamente, este cansaço é mais auto-referencial: é a
desilusão com nós mesmos, mas sem a encararmos de frente, com a alegria serena
de quem se descobre pecador e carecido de perdão, de ajuda; é que, neste caso,
a pessoa pede ajuda e segue em frente. Trata-se do cansaço que resulta de
«querer e não querer», de ter apostado tudo e depois pôr-se a chorar pelos
alhos e as cebolas do Egipto, de jogar com a ilusão de sermos outra coisa
qualquer. Gosto de lhe chamar o cansaço de «fazer a corte ao mundanismo
espiritual». E, quando uma pessoa fica sozinha, dá-se conta de quantos sectores
da vida foram impregnados por este mundanismo e temos até a impressão de que
não há banho que o possa lavar. Aqui pode haver um cansaço mau. A palavra do
Apocalipse indica-nos a causa deste cansaço: «Tens constância, sofreste por
causa de Mim, sem te cansares. No entanto, tenho uma coisa contra ti:
abandonaste o teu primeiro amor» (2, 3-4). Só o amor dá repouso. Aquilo que não
se ama, cansa de forma má; e, com o passar do tempo, cansa de forma pior».
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