Hoje é um dia especial para a nossa
terra. Realizadas as eleições regionais, chega o dia e a hora da tomada de
posse do governo formado pelo partido mais votado. Outra vez governo do PPD-PSD
com maioria absoluta encabeçado por Miguel Albuquerque. Nada de novo debaixo do
sol, tudo como se previa.
Algumas coisas vão se alterar
profundamente, é normal que assim seja, mas não se diga que estejamos perante
um «novo ciclo», porque efectivamente até prova ao contrário, não estamos. Há sim uma continuidade
denominada de «renovação» com um grande número dos mesmos que andam na política
há muitos anos.
Convém lembrar que nada se alterou em
termos sociais. A miséria continua derrama sobre as mesas de milhares de
madeirenses. Nem a cidade que não temos, pintada de flores e mulheres bonitas por
estes dias consegue a apagar essa chaga.
Por isso, aos novos e velhos políticos que
hoje assumem funções governativas e os outros que se vão sentar na casa de
democracia, a Assembleia Regional, é legítimo fazer-se um apelo.
Todos sabemos que não há políticas e
políticos milagreiros. Ninguém faz milagres, é um dado mais que evidente para
todos. Mais ainda se sabemos que a realidade de hoje é da mundialização. O
mundo está interdependente e mais ainda nós dependentes do Governo Central,
porque foram os últimos anos na Madeira de uma irresponsabilidade grave, que
nos deixa dependurados a uma dívida pública astronómica. Por isso, aos
governantes novos e velhos pede-se engenho e arte para que a justiça e a preocupação
com o bem comum prevaleçam sobre qualquer interesse privado ou de grupo.
O principal apelo que se deve fazer é
que com base nesta ideia da mundialização, nós não nos tornemos ainda mais
dominados pela ideia da ilha. O isolamento provocado pela arrogância, o insulto
e a ideia banal de que somos auto-suficientes até à hora de estender a mão para
pedir dinheiro, não pode existir mais. Precisamos de muito espírito aberto à
diferença e quebrar as divisões e toda animosidade que estes últimos anos
geraram na sociedade madeirense. É preciso acabar com o pensamento único,
encomendado aos escribas de serviço do regime que amordaçaram a liberdade de
expressão e manietaram completamente a criatividade e o caminho da crítica,
aliás, um bem fundamental no espírito da democracia.
Muita atenção à igualdade. As divisões,
criam conflitos e miséria que se instala em toda a parte. Não pode continuar a prevalecer
a ideia de que quem está na política fica cada vez mais rico. Tem todos os direitos
e benesses. A maioria da população é o resto que deve simplesmente contribuir a
todo o custo para alimentar estes eleitos. Um mundo com ricos cada vez mais
ricos, pobres mais miseráveis. Isto não pode continuar. Não é da justiça que
assim seja. Não é humano. Não faz da democracia um caminho simpático para
todos. Ajudem a organizar a nossa terra de forma diferente. Não se esqueçam da
partilha, mesmo que não se importem muito com a competitividade, que já
demonstrou até à saciedade ser a face negra do capitalismo. Não tenham medo de
pensar, falar e propor medidas que tenham como fundo a solidariedade, contra a
minoria dos interesses dos privilegiados.
Senhores governantes, lembrem-se que a
beleza de uma cidade, de um país e de uma região não está apenas em ter
monumentos e jardins esplendorosos, estruturas
desportivas de ponta, festas luxuosas com muitas iguarias típicas e com
desfiles de flores, mulheres e crianças bonitas... A beleza da nossa região
resplandece quando a população tem habitação condigna para viver, quando há
emprego para todos, quando a saúde está garantida sem que tenhamos listas
enormes de gente à espera de uma cirurgia ou lhes falta camas e outros
elementos necessários para ser tratada nos hospitais ou quando vai à farmácia e
tem condições monetárias para aviar as suas receitas.
A beleza da nossa região está na
possibilidade das nossas crianças e jovens puderem ir para a escola sem fome e
aí encontrarem um ambiente saudável de convivência humana, familiar, porque sem
violência e com todos os meios necessários para estarem seguros aprendendo os
valores e adquirindo sabedoria para o seu e nosso futuro, porque a nossa escola,
afinal, permite trabalho a sério, lazer para todos, para que aí possam crescer
felizes e despertarem para o sentido da dignidade de virem a ser cidadãos
verdadeiramente empenhados na construção do bem comum.
A beleza da nossa região está no seu
povo quando está feliz, porque lhe foi proporcionada a possibilidade de ter
tempo para trabalhar, para o lazer e desabrocha com dignidade para a vida, à
luz das medidas justas que os políticos eleitos souberam implementar.
A beleza de uma região está na ausência
de ter que estender a mão à caridade para matar a fome. Acabem com o oceano de
instituições de caridade que proliferam nos últimos anos como cogumelos entre
nós. Ponham fim a este estado de pedincha onde uma larga maioria pede e a outra
anda mais que esfolada a pagar impostos astronómicos e quase mensalmente ser
perseguida à porta dos supermercados para dar esmolas para os pobres. Não, isto
não embeleza o nosso povo e a nossa região!
Senhores governantes não fiquem fechados
nos seus confortáveis escritórios e nos espaços oficiais que o cargo vos
permite, venham ao encontro das pessoas, procurem saber do que falta na casa
daqueles que ficaram sem emprego e que têm filhos para criar. Vão aos nossos
hospitais e comecem a vossa caminhada pelas urgências até às enfermarias, onde
estão muitos conterrâneos nossos a sofrer. Não tenham medo das pessoas e não se
fechem debaixo da auréola da importância do poder, permitam que a realidade se
vos imponha e não deixem de se comover com ela se for o caso.
Fica este apelo singelo
e que o dia de hoje seja de facto o dia D, não para um partido político, para o
grupo dos governantes e para toda a máquina que se tem alimentado do bolo do
orçamento regional, mas para todo o povo da Madeira. Esta é a nossa esperança, mesmo que tenha alguma ingenuidade à mistura. O sonho comanda a vida e a vida sem sonho é miséria cruel.
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