Uma das minhas primeiras paixões, foi sem sombra
de dúvida a rádio. À luz da lanterna a petróleo escutava atentamente os
parodiantes de Lisboa, as radionovelas, que delas guardo ainda na memória toda
a aquela dicção perfeita das palavras bem pronunciadas e toda a graça que daí
advinha para aquecer os dias sombrios e mergulhados na mais densa saudade
inquietante. Aí na profundidade das cerejeiras ora cheias de folhas ora feitas
pau seco a se prepararem para o novo ciclo dos frutos vermelhos, ouvia rádio
nos tempos que sobravam entre o roçar da erva para alimentar as cabras e a
lenha que se buscava pelas serras dentro para fazer o fogo debaixo das panelas
para cozinhar os alimentos. Esse ambiente alegrava-se com rádio, que me
ensinava que havia um mundo grande para se conhecer, havia música por todo o
lado e não podia faltar pessoas importantes ligadas a todos os ramos da
existência para partilharem o seu saber e a sua experiência. A Rádio foi para
mim a minha primeira escola e logo depois os livros emprestados pela biblioteca
itinerante da Gulbenkian. Bom, mas por tudo, um muito obrigado à Rádio Antena 1 por
tudo o que fez despertar em mim e pelo que me sugeriu para eu procurar nas encostas
do mundo e da vida. Parabéns à Antena 1 pelos seus 80 anos.
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4 comentários:
"Aí na profundidade das cerejeiras ora cheias de folhas ora feitas pau seco a se prepararem para o novo ciclo dos frutos vermelhos, ouvia rádio nos tempos que sobravam entre o roçar da erva para alimentar as cabras e a lenha que se buscava pelas serras dentro para fazer o fogo debaixo das panelas para cozinhar os alimentos. Esse ambiente alegrava-se com rádio, que me ensinava que havia um mundo grande..."
Identifico-me com o cenário que descreve.
Na encosta da serra, ora rodeada de neve ora de um sol intenso que tornava douradas as imensas cearas que se estendiam pela Cova da Beira, ouvia-se rádio.
Foram as palavras bem pronunciadas e o seu significado que despertaram em mim a paixão pelo saber, pelo conhecimento na primeira pessoa, pela vivência, e isto será a única coisa que ninguém nos poderá tirar é esta a maior riqueza de um ser humano, e também a minha.
Gostei, muito mais do que as palavras o possam expressar, desta sua dedicatória.
Que grande e bonito o seu comentário. Obrigado pela sua partilha desta paixão comum que nos despertou para o mundo. Sempre a rádio... Companhia que ao contrário de outros meios de comunicação deixa-nos fazermos outras coisas.
"Companhia que ao contrário de outros meios de comunicação deixa-nos fazermos outras coisas."
No meu trabalho tenho por companhia a rádio... audível apenas para mim (há pessoas que não sentem este fascínio) permite-me trabalhar, faz-me sentir acompanhada.
Obrigada pelas sua palavras, grandiosa foi a sua mensagem.
A rádio é a minha grande paixão. Comecei a sentir a importância da rádio, quando lá em casa todos soltavam gargalhadas a ouvir os Parodiantes de Lisboa. Ainda hoje considero que os seus sucessores, os novos Parodiantes, são o melhor humor que se pode ouvir na rádio. Mas, também me recordo do programa "Quando o Telefone toca", de Matos Maia. "As noites longas do FM Esréreo", "Pão com Manteiga", "Café Concerto" e tantos outros...
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