Não raras vezes ouve-se dizer de algumas
pessoas assumidamente de direita que «é preciso endireitar isto» e acrescentam,
«mas para a direita». Muitas vezes os sentimentos e os pronunciamentos de
muitos responsáveis católicos vão neste sentido. O teólogo Leonardo Boff
disse-o com toda a clareza: «A Igreja sempre fez política, pois está na sociedade.
Mas fez política de direita». Obviamente, que a realidade ilustra com toda a
clareza esta constatação, sempre que algumas figuras da Igreja, nomeadamente, os
bispos e cardeais ainda em funções, se tomam partido, é sempre por partidos de
direita. Entre nós temos tido exemplos destes que sobejam.
Antes de me adiantar na reflexão quero
clarificar que se faço esta leitura e se a realidade a comprova, não pretendo
dizer, que estaria bem se tal opção fosse ao centro ou à esquerda. A
equidistância partidária da Igreja deve ser o que se espera, aliás, até porque
a lei assim a consagra.
Obviamente, que a prática torna-se muito
difícil quando a realidade se impõe. Por isso, não quero dizer que cada membro
da Igreja, mesmo que tenha menos ou mais responsabilidades dentro da Igreja
Católica, faça os seus pronunciamentos sempre em função dos mais fracos, dos
pobres e dos mais necessitados de ajuda material ou outra. Até podem fazer tais
pronunciamentos defendendo a direita num determinado momento se essa direita aplica
medidas e políticas que vão ao encontro das pessoas em geral, particularmente,
os mais vulneráveis. A justiça deve ser o barómetro que orienta os passos de
quem é católico.
Não é o que temos tido um exemplo para
que mereça qualquer defesa venha de onde vier. O ataque aos indefesos
pensionistas, a política da caridade baseada na distribuição de sopas e o
esquecimento do ensino público, derramando milhões de euros sobre o ensino
privado, algum dele bem conotado com o catolicismo, não são exemplo de que este
seja o caminho da justiça e do bem comum. Esta política merece ser denunciada e
posta a nu, porque violenta os direitos das pessoas e insulta a sua dignidade.
Alguns altos responsáveis católicos nutrem simpatia pela política que vai neste
sentido. Mas não é esta a vertente mais evangélica, porque é uma política em
função das classes mais abastadas da sociedade.
Por isso, ainda hoje se alimenta o sonho
de que deviam surgir partidos católicos. Não deve ser este o caminho. Em todos
os partidos devem estar católicos que defendam os interesses gerais, não os
interesses católicos.
O desejo deve ser que a política partidária tenha católicos, que seguem
o ideal de Jesus de Nazaré, defendem os frágeis, porque os pobres são o centro
da sua acção e dos seus discursos. Não se inibem de promover políticas para o
bem de todos. Jesus não veio angariar cristãos como se fossem adeptos, mas veio
dizer a todas as pessoas que sejam solidárias, amigas, compassivas, vivam com
ética, com todos os valores humanos e espirituais que fazem crescer uma
sociedade na alegria e na festa dignidade. Esta é a vontade Deus e o bem do
reino que Jesus anunciou e começou. Esta é a política católica que se deseja
para todas as sociedades. Com outros contornos toda a política, mesmo que
travestida de profundamente católica, acaba sendo perigosa.
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