(Cant 2,1ss; Mt 6,28)
Na madruga começavas cada dia na certeza
de só os pobres serem a Tua riqueza.
Não era o sol que mais teus dias clareava
porque a ferida que tratavas muito mais te alumiava.
Foste mulher em cuja boca o sim não cessa
e sempre amaste a aventura da surpresa e da promessa.
Tu foste a apaixonada por quem não tem nada
e te fizeste irmã de quem vai só na caminhada.
Tu cultivaste os lírios nos pântanos onde a vida se perdeu
e na face dos charcos cintilaram reflexos do céu.
Olhai os lírios, disse-te Jesus, e não viste mais nada.
Lírios os viste em monte e vale é pela estrada.
Nunca ninguém olhou tão puramente os rostos engelhados,
em que tu vias faces de crucificados.
Teu coração ardia pelos pobres em labaredas de paixão,
e eras ditosa quando lhes davas o teu pão.
Ias o teu rosário desfiando por teus passos
sem nunca te deterem teus grandes cansaços.
Ofereceste aos inimigos o teu cândido sorriso
e ele acendeu no rosto teus clarões do paraíso.
Nunca nenhum inverno resfriou teu coração
e davas sombras ao nu que o sol queimava no verão.
Eram imaculadas e fecundas as tuas palavras
e pelos campos ias pobrezinha abençoando as lavras.
O pão multiplicava-se nas tuas mãos abençoadoras
e eras a atenta mãe dos pobres a todas as horas.
Era o teu rosto um sol resplandecente e um fogo ardente
em eucarístico êxtase de encanto permanente.
Tuas eram as dores todas e todo o calvário,
e à escuridão das almas dava luz teu lampadário.
Chegavas sempre plena ao termo dos teus dias,
e junto a ti dormia o pobre um sono de alegrias.
"Liliodia", livro de oração e de meditação, lido e cantado, das irmãs Franciscanas da Divina Providência.
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