O nosso mundo não se
concerta sem que as atitudes de cada pessoa no desempenho do seu papel e missão no viver quotidiano sem a ternura do amor. Não ter medo de falar disso, testemunhar isso com
sinceridade e verdade. Faço minhas as palavras do padre Rui Santiago, que escreveu
um texto sobre este tema a partir de uma jovem da Guiné-Bissau que se converteu
ao Cristianismo ao ler algumas frases do Cântico dos Cânticos. Tomem nota da
última parte do texto e se quiserem ler na íntegra podem abrir por AQUI…
«Faz-nos falta esta ternura, o
encanto de quem ama, a evidência de sermos gente fascinada e acarinhada!
Fazemos vezes demais da Vida Consagrada um lugar de vidas desgraçadas.
Tornamo-nos pesados e sisudos, perdemos a graça e a beleza. É tão feio ser
feio!
Há umas semanas, nas minhas andanças
missionárias, pus-me a ler, num encontro de formação para catequistas, o
Cântico dos Cânticos. Entre os risinhos e os comentários para o lado, algumas
caras torcidas e um ou outro que se levantou, lembro-me melhor daquele que se
foi embora desabafando: “Não vim aqui p’ra ouvir poesia!”
Somos uns toscos. Fazemos da Fé uma
doutrina ou uma moral, um culto insípido ou um ritual de devoções, e depois
vê-se na nossa cara que damos ares de gente mal amada. Há mulheres consagradas
que explicam a sua vocação dizendo que se “casaram com nosso senhor”, mas quem
as vê deve desconfiar muito desse marido, porque elas têm cara de gente que
sofre de violência doméstica! Há homens consagrados que explicam a sua vocação
como uma “doação total a deus e aos outros”, mas depois não conseguem não se
comportar como solteirões embrutecidos, atabalhoados nas emoções e mais
afectados que afectuosos.
Era tão bom se nos vissem como gente
especializado em ternura! Gente d’amores e d’esperanças: essa é a nossa
vocação. Consagrar-se é atrelar-se a um grande amor, dar-lhe trela e ir atrás.
Preferia que fôssemos trapalhões no cerimonial litúrgico, mas fôssemos mestres
nas coreografias do cuidado e da atenção aos outros. Preferia que nos
enganássemos nas páginas e nas fitinhas todas dos breviários, mas
conversássemos com Jesus com a naturalidade e o carinho com que se fala com
quem se partilha vida, mesa e cama. Às vezes parece que ainda nos estorva o
amor! Queremos mais ser sérios do que amáveis, e essa seriedade torna-se uma
inimiga do Testemunho do Reino e da Alegria do Evangelho.
Deus sabe de Amor. A maior prova é
Jesus. Amor que ganha corpo e voz e toque e pele e hálito e movimento de gente!
Podemos levar a vida toda a perceber que não nos convertemos a Jesus por dever
ou por repetição. A gente só se converte por fascínio! Mudamos quando nos
mudamos para a vida de outro. Consagrar a Vida é “juntar os trapinhos”.
“Um Deus que fala de amor assim, tem
de ser O verdadeiro!”
Para quê escrever tanto? Está tudo
aqui».
Padre Rui Santiago, in Fraternitas
Movimento
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