«Pão quente da Palavra» para o domingo IV tempo comum
São
Paulo na passagem da sua primeira carta aos Coríntios (1 Cor 7, 32-35), convida
os crentes a repensarem as suas prioridades e a não deixarem que as realidades
transitórias sejam impeditivas de um verdadeiro compromisso com o serviço de
Deus e dos irmãos. A vida do dia-a-dia vai-nos empurrando em direcção aos
nossos problemas, questionando as nossas opções, fazendo-nos avançar ou recuar.
E questiona sobretudo a dimensão daquilo a que nós chamamos problemas.
Por
isso, reparemos… Novecentos e sessenta e três milhões de pessoas (963 000 000)
vivem situações de fome ou forte privação alimentar, em todo o mundo. E, tudo
indica, a tendência é que isto se agrave. São números da FAO. Apesar da
abundância de víveres no mundo, mais de 800 milhões de pessoas continuam a ir
dormir de estômago vazio; milhares de crianças morrem, a cada dia, devido a
consequências directas ou indirectas da fome, da subalimentação crónica. Apenas
e só porque a injustiça é muito grande. Acusam que apenas 1% da humanidade vai
deter ou já detém 99% da riqueza que há no mundo. Um escândalo que brada aos
céus. Por isso, enquanto as riquezas acumuladas no mundo permitem todo tipo de
esperanças, a pergunta mantém-se: é possível acabar com a fome?
Às
vezes, chegamos à conclusão que o nosso foco está descentrado, e verificamos o
quanto privilegiados somos. Continua
a ser difícil arrancar de nós mesmos a carapaça dos pequeninos problemas que
muitas vezes criamos. Mas estes outros continuam a alastrar, e a aproximar-se,
cada vez mais, de nós todos. Face a estes problemas que afectam muitos milhões
de seres humanos, devemos deixar de nos consumirmos nos pequenos problemas que
levantamos aqui ou ali, como se nisso estivesse o centro do mundo e da vida. É
preciso aprendermos a relativizar e a levar a vida com algum sentido de humor. São
Paulo procura guiar-nos para o essencial e convoca para «o que é digno» para
todos nós e mais ainda apela que o essencial «pode unir ao Senhor sem desvios».
Os
grandes problemas do nosso mundo requerem uma união firme de toda a humanidade,
para que se acabe com este escândalo da fome e de todo o género de pobreza que
ainda consome grande parte da humanidade. E se antes pensávamos que estes problemas,
eram só dos outros e distantes, afinal, enganamo-nos, estão aí já nas famílias
cada vez mais próximas de nós. Por isso, estejamos atentos para sermos amigos e
solidários com quem mais necessita.
Ao
menos que se cumpra em nós esta mensagem, o cristão não pode fazer a sua viagem
existencial de olhos fechados, indiferente aos outros irmãos. Tem de observar o
mundo humano por onde passa, onde reside, onde trabalha.
O
Cardeal Cardijn, ao receber um jovem operário que queria ingressar na Acção
Católica, entre outras coisas perguntou-lhe quantas janelas tinha a maior casa
da sua aldeia.
-
Não sei! - Respondeu o rapaz.
-
Então vai, conta-as e volta.
Queria
ensinar o jovem a observar o mundo para poder transformá-lo num mundo melhor.
Para
poder dar-se, tem de observar onde falta amor, onde falta justiça, onde falta
perdão, onde falta a paz.
O
cristão é um instrumento de melhoria e salvação do mundo humano pela mensagem
salvífica de Cristo.
Tem
de viver a vida de janelas abertas sem cortinas de cobardia, de medo, de
egoísmo, de indiferença.
2 comentários:
A minha opinião é que muita gente devia ler estas palavras sábias.
Eu fiz o meu trabalho, enviei ao maior número de pessoas.
Um bem haja e continue nos dando a verdade.
Um abraço
Elsa Janes
É bem verdade, esta caridade, justiça e misericórdia de que nos fala e tanta falta faz é esta:
"E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados." (1 João 4, 9-10)
É esta Caridade desinteressada, em que apenas por amor nos damos completamente, é a comunhão com o próximo de forma perfeita como é realizada na comunhão das três pessoas da Santíssima Trindade.
É isso que Cristo nos pede: "É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando."
É isso o que Cristo reza por nós: "Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste."
Sermos como Cristo, um com o Pai no serviço ao próximo.
Para obtermos os frutos dessa caridade temos de semear a graça de Deus.
Não é necessário irmos muito longe, podemos por em prática o que o Concílio nos pede:
"[Os fiéis] aprendam a oferecer-se a si mesmos, ao oferecer juntamente com o sacerdote, que não só pelas mãos dele, a hóstia imaculada; que, dia após dia, por Cristo mediador, progridam na unidade com Deus e entre si, para que finalmente Deus seja tudo em todos."
Não é por acaso que temos o Santo Sacrifício, é para neste oferecimento realizado com Cristo podermos receber de Deus a Sua Graça, esta será a semente da Caridade que irá gerar os frutos que bem nos recorda neste texto. E é por isso que o Concílio nos pede para aprendermos a oferecermo-nos com Cristo, para que formados em Cristo possamos nos oferecer ao serviço do próximo, de forma desinteressada, com a justiça, amor e misericórdia de Deus.
Exprimentemos ensinar e aprender a oferecermo-nos, semear a Graça de Deus.
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