Escrever
nas estrelas
1. O dinheiro é uma realidade tramada, enfeitiça
qualquer ser humano. São raros os que têm com o dinheiro uma atitude totalmente
livre. O pior do mundo é termos que lidar com pessoas escravas do dinheiro. A «forretice» é uma doença e o descontrolo no gasto, outra doença fatal para tanta gente. O
melhor face ao dinheiro, será considerar que ele só serve para vivermos bem e
que deve estar ao nosso serviço. Um exercício por vezes difícil de se fazer,
mas é o único que edifica a humanidade.
2. Quando se trata de limpar o que for
possível cada pessoa individualmente, pode perder a cabeça e facilmente limpa
tudo o que puder, e se lhe custar pouco ou nada ainda mais se aproveitará. Deste
pecado também admito que possam ser poucos a estarem livres, somos todos
humanos e todos podemos cair face às tentações. A sociedade de hoje está assim,
implacável com os prevaricadores quando se trata do assunto dinheiro, ainda
mais se forem políticos, mas se estivesse a mesma oportunidade obviamente que qualquer
cidadão lamberia do mesmo modo os dedos.
3. Por isso, não me surpreende de todo a
atitude dos deputados apanhados com a boca na botija dos subsídios duplos das
viagens. Obviamente, que apanhados, as consequências, não esperaram. Foram
castigados pelo crivo moralista da sociedade em que vivemos. Os sinais que por hora
se sabe de alguns suspenderem o mandato, de devolverem o que receberam em
duplicado sem terem desembolsado um cêntimo, ainda mais se dizem entregá-lo às
instituições de solidariedade social, não me diz muito ou diz mesmo nada,
porque é o mínimo de quem agora demonstra que sabia que era legal, mas não era
ético aquele procedimento.
4. Porém, a questão mais
importante, a meu ver, agora prende-se com o seguinte, como irão falar com
autoridade estes deputados quando estejam a debater na Assembleia da República
e na comunicação social o tema da mobilidade e do subsídio das viagens entre as
ilhas e o continente? Que legitimidades terão, quando abrirem a boca, pois logo
nos vai bailar na cabeça a lembrança do seu procedimento? – Obviamente, que não
se espera que os nossos deputados sejam anjos, mas como nossos representantes,
que nos custam valores bem significativos à conta da brutalidade dos impostos,
sejam zelosos no cumprimento da lei, mas que também assumam gestos que nos
revelem o quanto estão cientes dos valores éticos, mesmo que algumas vezes tenham
que passar por cima da lei.
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