O que a fé não é (8)
Muitas vezes
alimenta-se a ideia errada de que acreditar em Deus seria uma forma de se
livrar da morte física. Nada disso. A morte acontece para todos os seres que
nascem. Por isso, a humanidade nasce também morre. Uma verdade elementar sem
novidade nenhuma, claro... Mas, resta então dizer que a fé, pode ser uma ajuda para
melhor encarar o momento da morte e livrar-nos do dramatismo que a morte humana
sempre provoca em nós.
Escutemos o que
nos dizem alguns pensadores sobre a morte.
São Paulo, Carta aos Romanos: « 3Ou ignorais que todos
nós, que fomos baptizados em Cristo Jesus, fomos baptizados na sua morte? 4Pelo
Baptismo fomos, pois, sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo
foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova. 5De facto, se estamos integrados nele por uma morte
idêntica à sua, também o estaremos pela sua ressurreição» (Rom 6, 3-5).
Santo Ambrósio: «Os tolos temem a morte como o maior dos
males, os sábios desejam-na como um descanso depois dos seus trabalhos e o fim
das enfermidades».
São Francisco de Assis: «Bendito seja Deus pela nossa
irmã, a morte do corpo».
Santo Atanásio: «Pois o homem, naturalmente, tem medo da
morte e da dissolução do corpo; mas há este facto surpreendente, de que aquele
que vestiu a fé da cruz despreza até mesmo o que é naturalmente temível e, por
Cristo, não tem medo da morte».
São João Maria Vianney: «A vida é-nos dada para que
possamos aprender a morrer bem e nunca pensamos nisso! Para morrer bem,
precisamos viver bem».
Victor Hugo: «Morrer não é acabar, é suprema manhã».
Agostinho da Silva: «Para o espírito liberto ela deve ser, como o som e a cor, falsa, exterior e
passageira; não morre, para si próprio nem para nós, o que viveu para a ideia e
pela ideia».
Ora bem, se não tivermos apenas
em conta a terrível perplexidade perante a morte, mas o que nos ensina a
psicóloga francesa, Marie Hennezel, a vida talvez ganhe outro sabor: «não é a
duração da vida que interessa, mas a sua qualidade». Aqui está a grande questão
sobre a vida. Viver bem não é igual a viver muito tempo. Esta ideia está sempre
muito presente no coração de muita gente. A sociedade não procura viver com
qualidade, mas antes procura mecanismos e todas as formas que façam perdurar a
vida o quanto mais possível. Por causa desta mentalidade, encontramos muita
gente sem qualidade de vida nenhuma, mas profundamente inquieta e perturbada
com o problema da morte. E mais não fazem senão procurar receitas químicas ou
supersticiosas para prolongar a vida mesmo que a qualidade seja uma miragem.
A morte gera muita
hipocrisia, muita dor/sofrimento, muita vaidade e até muita fantasia. Porém, é
um caminho destinado a todos, ninguém, felizmente, está livre desta caminhada.
O maior tesouro da vida é este. A fé não livra desta realidade, a mais certa
que temos na vida. Porém, com o dom da fé, a ideia da morte torna-se mais suave
e esse momento será encarado com mais coragem e com esperança.
Nós cristãos ao olharmos os santos, encontramos um manancial de liberdade perante a morte. Os verdadeiros santos souberam acolher a morte como uma graça e como um dom. São Paulo foi tão elucidativo sobre o seu desejo profundo de se libertar deste mundo para entrar na comunhão plena com Deus, quando já sentia a sua vida plenamente fundida em Cristo: «já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim».
Deste modo, a morte é o horizonte mais certo que a vida contém no que diz respeito à libertação da miséria toda desta vida. Por isso, ninguém devia fazer da vida deste mundo uma preparação para a morte, porque a morte deve ser encarada como mais um momento da existência entre os infindos momentos que a vida deste mundo contém.
Nós cristãos ao olharmos os santos, encontramos um manancial de liberdade perante a morte. Os verdadeiros santos souberam acolher a morte como uma graça e como um dom. São Paulo foi tão elucidativo sobre o seu desejo profundo de se libertar deste mundo para entrar na comunhão plena com Deus, quando já sentia a sua vida plenamente fundida em Cristo: «já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim».
Deste modo, a morte é o horizonte mais certo que a vida contém no que diz respeito à libertação da miséria toda desta vida. Por isso, ninguém devia fazer da vida deste mundo uma preparação para a morte, porque a morte deve ser encarada como mais um momento da existência entre os infindos momentos que a vida deste mundo contém.
A morada eterna não
está no cemitério, porque este lugar é o depósito dos restos mortais (não é
assim que dizemos em relação aos defuntos?), por isso, o verdadeiro culto em
relação à multidão dos santos de Deus não se deve fazer aí nos depósitos dos
restos mortais, mas antes e provavelmente na memória que cada pessoa guarda no
seu interior, o verdadeiro lugar de Deus.
No belo livro de poesia
de Pedro Tamen podemos ler: «Ela não existe – nós existimos nela. / E faço este
discurso envergonhado / (mas algo hei-de dizer enquanto sinto / que não é o meu
fim que ali se encontra / mas o princípio) como quem senta / o rabo na borda da
cadeira e escorregando / se afunda lentamente pelo chão: a viagem / é essa,
esse é o rio – ou ela». Mas também José Gomes Ferreira soube definir muito bem
a fórmula que nos permite olhar a morte com o seu verdadeiro sentido: «os
pássaros quando morrem caem no céu». Como aprenderam facilmente os santos, a
multidão imensa dos crentes, a pensar assim sobre a morte.
1 comentário:
"Bem-vinda sejas, irmã minha, a morte!"
S. Francisco de Assis referiu-se desta forma à morte.
A fé não é nem pode servir para nos livrar da morte, caso contrário ela própria morreria.
"A fé não é para se livrar da morte" Ela não livra ninguém da morte, leva-nos a assumi-la e a integrá-la a aceitá-la como uma consequência natural da passagem por este mundo.
Não sei dizer o que é a fé, mas sei que é por meio dela que eu, ser divino e mortal, me reconcilio totalmente com a vida e aceito a morte, não sem dor e sofrimento, mas de uma forma natural.
É por meio da fé que consigo viver melhor, pois sei, também por meio da fé, que neste mundo tridimensional deposito o meu holocausto fisico, mas numa "outra dimensão" a do Espirito, vivo e viverei em comunhão, e numa entrega permanente constante e inestinguivel infinita ao Deus que me deu esta fé.
É natural morrer, e que bom que assim é.
A nossa meta deveria ser viver a vida tão verdadeira e intensamente, que pudéssemos chamá-la, à semelhança de S. Francisco de Assis, de "Irmã".
"Carpe Diem"
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