![]() |
Antiga estrada para o Curral das Freiras. Devia ser património da humanidade. |
Tomei
conta da expressão que intitula o famoso livro de Virgílio Ferreira, para
reflectir um pouco acerca das muitas manhãs e quem sabe também tardes submersas
que preenchem todo o nosso viver. O título diz assim: «Manhã Submersa».
Trata-se de um livro famoso.
Que
manhã submersa num abismo de mágoa sentida e de esperança sem sabor a nada. É
quase um desespero se não fosse a minha fé - esse outro nome da esperança, que
no lugar dos possíveis nos remete para os outros lugares da impossibilidade
aparente. E aqui a manhã submersa é apenas um momento, um estado de alma,
porque essa esperança da fé, imerge como uma possibilidade redentora que nos
salva de todas as reviravoltas destas andanças.
Quem
vos disse que seria melhor fugir das sombras ou das manhãs submersas desta
vida. - Ninguém poderá dizer a ninguém. Porque a vida é o que é. Todos têm as
suas manhãs mais emersas ou mais submersas. E porque não dizê-lo como o diz tão
bem Ana Teresa Pereira no seu romance, «Se morrer antes de acordar». A autora
ensina de uma forma luminosa o seguinte: «a luz e as trevas hão-de estar sempre
juntas, o que interessa é trabalhar com elas, amassá-las, como argila, como
pão». Para os puritanos, exímios na defesa da sua consciência, no que se refere
aos outros, não poderia existir melhor ensinamento.
A
presente reflexão pode servir para pensar um pouco, ou seja, indignar-se
perante a linguagem que se faz uso e abuso por essa dita democracia. O mau
exemplo e os excessos de língua provocam calafrios a todos os que se preocupam
com o verdadeiro debate, com o confronto pacífico das ideias e com a
desenvoltura das propostas.
É
este tempo, esta manhã submersa, que nos fere a alma dos dias como se fôssemos
uns estranhos ou até mesmo uns perdidos que não sabem por onde vão nem muito
menos para onde vamos. Mas, também nesta hora se levantam as palavras do poeta
José Régio que grita, e como foram gritadas quase com raiva por João Villaret:
«Sei que não vou por aí...».
Sem comentários:
Enviar um comentário