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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Uma Manhã Submersa

Antiga estrada para o Curral das Freiras.
Devia ser património da humanidade.
Tomei conta da expressão que intitula o famoso livro de Virgílio Ferreira, para reflectir um pouco acerca das muitas manhãs e quem sabe também tardes submersas que preenchem todo o nosso viver. O título diz assim: «Manhã Submersa». Trata-se de um livro famoso.
Que manhã submersa num abismo de mágoa sentida e de esperança sem sabor a nada. É quase um desespero se não fosse a minha fé - esse outro nome da esperança, que no lugar dos possíveis nos remete para os outros lugares da impossibilidade aparente. E aqui a manhã submersa é apenas um momento, um estado de alma, porque essa esperança da fé, imerge como uma possibilidade redentora que nos salva de todas as reviravoltas destas andanças.
Quem vos disse que seria melhor fugir das sombras ou das manhãs submersas desta vida. - Ninguém poderá dizer a ninguém. Porque a vida é o que é. Todos têm as suas manhãs mais emersas ou mais submersas. E porque não dizê-lo como o diz tão bem Ana Teresa Pereira no seu romance, «Se morrer antes de acordar». A autora ensina de uma forma luminosa o seguinte: «a luz e as trevas hão-de estar sempre juntas, o que interessa é trabalhar com elas, amassá-las, como argila, como pão». Para os puritanos, exímios na defesa da sua consciência, no que se refere aos outros, não poderia existir melhor ensinamento.
A presente reflexão pode servir para pensar um pouco, ou seja, indignar-se perante a linguagem que se faz uso e abuso por essa dita democracia. O mau exemplo e os excessos de língua provocam calafrios a todos os que se preocupam com o verdadeiro debate, com o confronto pacífico das ideias e com a desenvoltura das propostas.
É este tempo, esta manhã submersa, que nos fere a alma dos dias como se fôssemos uns estranhos ou até mesmo uns perdidos que não sabem por onde vão nem muito menos para onde vamos. Mas, também nesta hora se levantam as palavras do poeta José Régio que grita, e como foram gritadas quase com raiva por João Villaret: «Sei que não vou por aí...».

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