Hoje mesmo quero
ter sobre a realidade o olhar de Jesus. Um olhar de que os campos estão
maduros, as espigas douradas e faltam os ceifeiros ou os trabalhadores, que dos
quais se lamentava Jesus serem poucos. E como são poucos neste nosso tempo,
aqueles que não se comovem com a realidade, não têm uma palavra para dizer e
muito menos haverá predisposição para lutar contra essa realidade ditatorial
que nos consome os dias, a carne e os ossos. Mas é aquele olhar que me guia, esse olhar que
vê, como diz São Paulo, que o mundo está grávido de Deus. Ou, inclusive já está
à porta do parto em lugares e em pessoas onde ninguém esperava nada de nada. É
isto que me dá esperança. Pois, como alguém também o disse sabiamente, pode
faltar tudo, pão, água, casa, roupa, carro e tudo, a esperança é que não.
Invoco a «perfeita alegria» de São
Francisco de Assis e de Francisco de Roma para acreditar ainda profundamente
que o essencial para nós cristãos é estarmos cientes que quando todos nos
aplaudem, alguma coisa não está bem. Por isso, faz impressão que o ser Igreja entre
nós não sofra, não seja atacado porque falou, denunciou e esteve lá nas
«periferias» que ninguém quer saber. Não sofre, porque não parece - espero que
me engane - se incomodar com a tragédia do desemprego, que conduz à fome, à
miséria de tanta gente que está à beira do caminho.
A mentira prevalece. A injustiça não tem
nenhuma entidade que a combata. Por conseguinte sou também daqueles que
defendem que desatar as iras da ditadura do mundo, não é garantia de que as
coisas ficarão bem, mas é melhor do que os louvores, as palmas e palmadas nas
costas, as condecorações e tantos salamaleques que atribuem os senhores do
tempo aos senhores do templo.
Nada pode travar a ação misteriosa da
vida que veio do lugar de Deus fazer habitação no mundo, mesmo que tudo invista
contra essa radical sabedoria antiga.
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