Virtudes das celebrações dos 500 anos
1. Não podemos
de forma nenhuma fazer uma análise honesta sobre qualquer acontecimento da vida
sem ter em conta as virtudes e os pecados. As luzes e as sombras.
Obviamente, que as celebrações dos 500 anos da Diocese do Funchal implicaram um trabalho enorme e muito tempo da parte de muitas pessoas chamadas a esta missão. Também devemos ter em conta que pelo aparato de algumas delas, devem ter implicado gastos soberbos, que pelo hábito nesta Diocese, só alguns (muito poucos) e Deus é que saberão.
Obviamente, que as celebrações dos 500 anos da Diocese do Funchal implicaram um trabalho enorme e muito tempo da parte de muitas pessoas chamadas a esta missão. Também devemos ter em conta que pelo aparato de algumas delas, devem ter implicado gastos soberbos, que pelo hábito nesta Diocese, só alguns (muito poucos) e Deus é que saberão.
Neste sentido,
devemos agora ser honestos e justos e salientar tudo o que de bom se passou,
aprender com a mensagem que cada evento foi revelando quer do passado e como
perspectiva para o futuro. Todos os momentos celebrativos brilharam e não
envergonharam nenhum dos seus promotores e autores. Todos estiveram a altura
dos acontecimentos e cumpriram com zelo o que estava devidamente preparado,
previsto.
2. Neste âmbito
destacamos as Eucaristias evocativas das datas mais determinantes do ponto de
vista religioso, Machico, a primeira Missa na Madeira e 12 de junho a Missa
evocativa da criação da Diocese do Funchal.
O lançamento do
livro sobre as Paróquias e os seus Oragos, que vai ser um livro útil para muita
gente.
O lançamento da
medalha evocativa que apenas falha por não ser a imagem e semelhança da vontade
do seu autor, Ricardo Velosa, mas imagem e semelhança do que pretendiam as
entidades da Diocese (tudo isto ficou provado e confirmado no dia da
apresentação da medalha pela boca de Ricardo Velosa e do bispo da Diocese
António Carrilho). Ainda deste momento saliente-se a publicação de uma coleção
deveras interessante de selos que irão perpetuar e divulgar pelo mundo fora
alguns elementos importantes do património da Diocese do Funchal, por exemplo a
réplica da bula da criação da Diocese do Funchal a 12 de junho de 1514 Pro
Excellenti Preeminentia de Leão X; outro sobre a Sé Catedral do Funchal; a Cruz
Manuelina, cruz processional da Sé do Funchal, em prata dourada, relevada e
cinzelada em Portugal, Século XVI; São Tiago Menor, padroeiro secundário da
cidade, e principal da Diocese do Funchal; Nossa Senhora do Monte, orago da
Paróquia do mesmo nome, padroeira principal da cidade e secundária da Diocese
do Funchal e João Paulo II, primeiro Papa a visitar a Diocese do Funchal.
Todas as fotos para
os selos foram realizadas excelentemente por David Francisco.
Para os amantes
de medalhas evocativas e coleccionadores de selos, aqui poderão encontrar um
rico pretexto para valorizarem e embelezarem ainda mais as suas coleções.
Ainda neste
ponto saliente-se a exposição de arte sacra que está patente ao público no
Museu de Arte Sacra do Funchal, uma excelente amostra do tesouro patrimonial em
estatuária, pinturas, pratas e dourados. Um pequeno tesouro que convido a uma
calma e serena visita.
3. Os vários
concertos musicais, cada um dentro do seu género, mobilizaram uma significativa
multidão e serviram para relevar o quanto crescemos na nossa terra quanto à solicitude
para a participação nestas iniciativas culturais. Os concertos hoje são a
melhor forma para atrair razoável público. Neste âmbito a Madeira
desenvolveu-se muito. Ainda bem. Os concertos foram momentos interessantes que
mobilizaram crentes e pessoas que se confessam descrentes. A linguagem musical,
essa sim, dá-nos a lição que não faz acepção de pessoas, é linguagem universal
que congregam todos os homens que se desvelam à beleza e à interioridade.
Pecados e Tentações
ridículas
Ridículo e anacrónico à margem do desprendimento do papa Francisco |
4. Mas, vamos
agora a alguns pecados que acusam, como não podia deixar de ser, as
comemorações dos 500 anos da Diocese do Funchal. É assim a vida. Tudo tem prós
e contras. Tudo tem virtudes e pecados. Temos de ser honestos e com serenidade
saber olhar as coisas dessa forma.
No capítulo
quarto de Mateus, Jesus desmascara as tentações satânicas de uma religião
utilizada para proveito pessoal, uma religião onde se procura honras e poder
entre os homens, sobretudo entre os poderosos deste mundo. Por isso, guardo com
muito carinho uma frase de Santo Afonso de Ligório: «É uma grande injustiça
impor às consciências normas e leis se não pudermos provar claramente que elas
são queridas por Deus». Com base em São Mateus e na advertência de Santo Afonso
de Ligório, podemos aplicar a mesma sabedoria aos eventos religiosos. Nada deve
ser realizado se logo não soubermos que é querido por Deus, porque pode
redundar em pura propaganda e isso não faz bem à evangelização nem muito menos
se torna benéfico para Igreja nem muito menos para o mundo.
Está a fazer-nos
impressão que há uma certa debandada da Igreja e pouco ou nada nos damos conta
disso, que parece ter abrandado com o apreço geral à volta do Papa Francisco,
embora isso não signifique nada que a simpatia pelo Papa se tradução em apreço
pelos bispos e pelos padres em geral.
O sumo
espiritual que resta em muitas expressões medievais que teimamos em manter
hoje, reduz-se a uma religiosidade superficial e piegas, a intelectualidade é
de uma pobreza atroz e a consciência do diálogo com a cultura e o mundo de hoje
é zero. Daí que a mobilização das pessoas falha redondamente, ao lado de um
arraial, de uma praia, mesmo que seja de calhau abundante como são as nossas,
atraem mais do que uma celebração religiosa. É disto que se trata e é nisto que
deve estar centrado o debate, a reflexão entre nós.
Sei apenas que
Léon Bloy proferiu isto diante da pobreza do clero: «Como não amam ninguém, creem
eles que amam a Deus». E mais ainda, «ninguém se aproxima de Deus afastando-se
dos homens... E ninguém se dá reservando-se para Deus. Por que motivo nos teria
Ele então oferecido o amor?» Assim sendo, como não pensar que é necessário
arrepiarmos caminho e tomarmos a sério um «acto de contrição» que nos purifique
a alma e nos relance no caminho da Evangelização com métodos novos para os
tempos que são sempre novos. O Papa Francisco no seu texto Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho) apontou várias
possibilidades e dá imensas sugestões.
Verba volant
5. Nos vários
eventos a palavra mudança esteve sempre presente. Mas que mudança? Qual
mudança? – Se por todo o lado as coisas tendem a regredir e os padres,
especialmente, os mais novos apresentam-se ornamentados com vestes caríssimas
caindo num ridículo confrangedor, porque anacrónico e exagerado… Mas quanto ao
pensamento e doutrina o que se vai passando fica muito aquém da doutrina e
linguagem do Papa Francisco, para não ir mais longe... Mas, afinal, que mudança?
Com quem? Quando? – Só e apenas com padres novos que saem do seminário com uma
visão retrógrada, efeminados e sem a devida formação filosófica e teológica
adequada que compreenda todos os campos do saber? – Não tenho visto nada além
disto que me faça comungar desta mudança.
Aí está o
resultado, baixou-se a fasquia quanto à recepção nos seminários, tudo e todos
os que apareçam servem para serem padres, por isso, não se admirem dos
problemas que advêm a partir desta ausência de critérios. A quantos jovenzinhos
se vai ouvido agora a dizerem que até gostavam de serem padres, mas para o seminário
não querem ir. Nem mais, cria a fama e deita à sombra. Foi precisamente o
aconteceu. E há um descrédito enorme quanto aos seminários.
6. Outras
palavras que não faltaram foram comunhão e unidade. São palavras bonitas e
importantes para a Igreja Católica, mas como podemos construir este bem se logo
à partida o clero está todo dividido. Outros, há que são padres de primeira e
outros de segunda. Outros há vaidosos que correm para os primeiros lugares e
que se altivam porque a alfaia é mais colorida ou mais vistosa. Santa pobreza
espiritual e de carácter. Tudo se reduz a uma hierarquia fechada que faz
acepção de padres, que combina os acontecimentos apenas com alguns e os outros
devem limitar-se a fazer número e a mobilizar ovelhas para preencher os
espaços. Com esta comunhão e unidade estamos bem serviços e não vamos longe.
Quanto à pessoas em geral nem se fala. É povo que deve rezar, bater palmas e
dar ofertas.
Nos Barreiros o
discurso do cardeal
7. A palavra
família esteve muito presente nos discursos a par das palavras missão,
evangelização e anúncio. O momento alto do desenvolvimento desta temática
esteve muito bem patente no Estádio dos Barreiros, onde se celebrou uma
Assembleia Jubilar Diocesana, que pretendeu reeditar a Missa celebrado pelo
Papa São João Paulo II, no dia 12 de maio de 1991. Esta assembleia nem por
sombras chega aos pés dessa tal Eucaristia.
O cardeal
presidente deste encontro, Fernando Filoni, fez-nos uma homilia longa, sem que
nos dissesse muita coisa. Mais do mesmo. Saliente-se a parte em que fala da
família rebuscando algumas citações do Papa Francisco, mas que fica apenas e só
como apelo para a geração de mais filhos, porque daí advém a falta de vocações
na Europa. Não fez como faz o Papa que aponta o problema, mas logo denuncia
profeticamente onde está a fonte que o provoca.
A família está
numa crise profunda. Os casais não geram filhos. Qual a novidade disto? –
Nenhuma. Novidade seria um cardeal, com a autoridade que o assiste, entre nós
proclamar profeticamente, alto e bom som, que há uma crise tremenda provocada
por especuladores e por políticos irresponsáveis que governaram a seu belo
prazer o bem comum, esbanjando e violando todos os princípios da justiça.
Agora, estes mesmos senhores colocaram-se na linha da frente para impor uma
série de medidas de austeridade que empobrecem os casais e as famílias sem
sombra nenhuma de piedade. Neste ambiente os casais não estão interessados em
gerar filhos para os lançar na pobreza.
A celebração dos
Barreiros encheu meio olho. Deve ter ficado muito aquém do esperado.
Saliente-se o trabalho extraordinário dos professores, «obrigados» a acompanhar
e preparar aquele grupo enorme de crianças para a coreografia inicial da
celebração. Valeu este momento inicial, porque tudo o resto revelou-se
fastidioso para as cerca de 5 mil pessoas ali presentes. Discursos muito longos
e cerimonial a mais que maçou por demais, a intensidade do sol fez o resto.
Políticos no seu
melhor
8. Outro aspecto
que em nada é novidade. Como é hábito na nossa terra o aproveitamento político
das comemorações fez jus à tradição. Assim, se instalaram em devido destaque nas
poltronas os senhores do tempo e ofereceram os banquetes da praxe à conta da
fome e da pobreza do povo.
Esquecimentos propositados?
9. Mas dramático
é termos constado, que nem uma palavra sobre os momentos negros da história da
Diocese nem uma palavra de perdão, como fizeram incansavelmente os últimos
Papas, que sempre que houvesse pretextos pediam perdão pelos pecados da Igreja.
O Papa Francisco já o fez mesmo somando ainda um reduzido tempo de pontificado.
Algumas figuras
da Igreja do passado (poucas) foram nomeadas. Mas, acho que resulta deselegante
não fazer referência ao sr. D. Teodoro de Faria, que é nosso conterrâneo e foi
bispo da Diocese do Funchal durante um episcopado, provavelmente, dos mais
longos da história da Diocese e ainda está vivo. Nem uma palavra à sua ação nem
para bem nem para mal.
Será que tem que ver com o seu episcopado ter sido
polémico e cheio de peripécias esquisitas que ainda hoje não foram devidamente
explicadas? - Algumas delas é mesmo bom que não sejam lembradas, porque nos
enojam e revoltam solenemente. Mas, no meio disso tudo, penso ter existido
muita coisa boa e relevante para Igreja Católica da Madeira. Quem diz do tempo
de D. Teodoro de Faria diz de outros momentos e de outras pessoas ligadas à
Igreja da Madeira que mereciam destaque nestes momentos festivos. Mais ainda se
se diz do clero podemos dizer de figuras religiosas, leigos e homens e mulheres
de boa vontade que prestaram elevados contributos para o bem da Igreja da
Madeira.
Neste sentido faço referência ao seguinte: «500 anos. E agora?» - pergunta
e bem o Padre Aires Gameiro numa magnífica carta do leitor no Dnotícias de 17
junho de 2014 (pode ser lida aqui). Põe o dedo na ferida e fala de coisas que
deviam ter sido faladas por estes dias. Há muito que reclamava por isso, alguém
o faz sabiamente como só o Padre Aires o sabe fazer. Bem-haja por esta
reflexão.
Mais uma
pergunta
10. Será que
disseram ao Cardeal Fernando Filoni que há uma Paróquia na Diocese onde o bispo
diocesano não entra, Ribeira Seca, Nossa Senhora do Amparo? - Curioso que nos
agradecimentos a todos os párocos no livro sobre os Oragos e Paróquias o nome
do Padre Martins Júnior, apareça timidamente escrito desta forma «José
Martins», quem será este «José Martins»?
Exposição
11. A tentativa de
exposição na Avenida Arrigada revelou-se isso mesmo. Uma tentativa, porque
estava tão pobre que ouvi várias manifestações de desagrada. Paneis rudes,
assim tipo lugar de informações num estaleiro de obras. Textos longos com letra
pequena. Fotocópias de fraca qualidade. No geral um grafismo muito pobre e a
disposição do que se pretendia expor sem nexo e sem sombra de critério, porque
não se sabia onde era o começo, o meio e o fim... Foi pena. O conteúdo merecia
qualidade mais elevada e foi uma oportunidade perdida.
A catequese e o
sócio-caritativo o sangue da pastoral da Igreja
12. Duas
vertentes da Igreja que foram totalmente descuradas nestas comemorações, que
marcam o passado, o presente e o futuro: primeiro, a dimensão catequética da
Igreja, onde são transmitidos os valores e todos os princípios que enforma a
nossa civilização cultural e religiosa. Segundo aspecto, a dimensão sócio
caritativa. Esta dispensa qualquer comentário, porque está bem aos olhos de
toda a gente.
Muito mais ainda poderia ser dito, obviamente que sim. Porém, que se reflicta sem medo do debate e com honestidade sejamos humildes sem qualquer tentativa para afunilar o pensamento e a reflexão. Assim, deve ser, porque lá se foi o tempo em que a Igreja tinha poder de atração para fazer com que as pessoas participassem em massa numa Eucaristia deste calibre. Não devemos temer nada quanto a isso. Apenas pensar, reflectir e incentivar outras formas de participação que não sejam apenas e só participação onde se pretende reunir grandes quantidades de pessoas. Esse trabalho hoje pertence ao futebol e ponto final.
Muito mais ainda poderia ser dito, obviamente que sim. Porém, que se reflicta sem medo do debate e com honestidade sejamos humildes sem qualquer tentativa para afunilar o pensamento e a reflexão. Assim, deve ser, porque lá se foi o tempo em que a Igreja tinha poder de atração para fazer com que as pessoas participassem em massa numa Eucaristia deste calibre. Não devemos temer nada quanto a isso. Apenas pensar, reflectir e incentivar outras formas de participação que não sejam apenas e só participação onde se pretende reunir grandes quantidades de pessoas. Esse trabalho hoje pertence ao futebol e ponto final.
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